Há
palavras com histórias tristes. Histórias como as de pessoas que
tinham tudo para dar certo na vida e, contudo, deslizaram para um
pântano sem saída.
Puntual,
por exemplo.
No
início da década de 60 do século passado, quando comecei a estudar
Mecânica, aprendi que “puntual” era algo relativo a ponto. A
velocidade, por exemplo, era uma grandeza puntual. Quando o indivíduo
está a conduzir em uma estrada, a cada ponto ele está a uma
determinada velocidade. Ao final do percurso ele pode determinar a
velocidade média com a qual percorreu seu caminho. Essa já não é
algo puntual. É relativa a todo o trecho percorrido.
Os
modernos dicionários de Português sumiram com o termo “puntual”.
Tenho um antigo Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa,
de 1.972. O mais próximo de “puntual” que ele regista é
“puntiforme” ou “punctiforme” - aquilo que tem forma ou
aparência de ponto.
Achei
na Internet, felizmente, o termo “puntual” no Wikcionário
(figura).
Hoje
em dia diz-se, por exemplo, que a velocidade é grandeza pontual.
Ora,
pontual é quem chega na hora. A qualquer velocidade.
Outra
palavra que sofreu com as intempéries da vida foi “caráter”.
Essa
palavrinha é mesmo curiosa. No singular ela tem mesmo uma conotação
moral. Já no plural não. Se digo "O caráter deste indivíduo
é..." isso já nos leva para o lado da moral. Mas se digo "Os
caracteres deste indivíduo são...", aí não. Por isso é que
quando, nas décadas de 60 e 70, os manuais de computadores (em
inglês) referiam-se a letras, números e símbolos especiais, no
singular como "character", no plural como "characters",
o pessoal da área de informática conseguia traduzir o plural para
"caracteres" mas achava errado traduzir o singular para
"caráter". Passaram, então, a falar e a escrever
bisonhamente "caractere". Pouco depois o Aurélio consagrou
a bobagem...
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