quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O Infinito


As religiões metem-se nesse assunto sem perceber o sarilho que as espreita.

Vejam a biblioteca infinita citada por Borges. Nela os livros são compostos ao acaso. As letras de todos os alfabetos são neles lançadas sem nenhum critério. O número de páginas de cada livro é também obra do Acaso. Isso parece prenunciar uma balbúrdia. Mas ela é infinita.

Nela estão infinitos livros sem sentido algum.
Mas em suas prateleiras estão, igualmente, todas as obras primas da literatura mundial. Traduzidas para todas as línguas.
Lá estão todos os manuscritos dos textos bíblicos, inclusivamente os originais, desconhecidos para nós.
Todos os livros já escritos e todos que ainda a capacidade humana produzirá.

Deixem, portanto, de falar em deuses. Ou, ao menos, de lhes atribuir caracteres absolutos, infinitos, e – ao mesmo tempo – querer decifrar suas vontades e decisões.

Quem somos nós para entender o infinito?

Entre dois pontos de uma reta há uma infinidade de outros pontos. Por mais próximos que eles estejam, um do outro, sempre haverá uma infinidade de outros pontos entre eles.
Se preferir, pense em números. Entre dois números reais sempre haverá uma infinidade de outros números reais.

Quando eu era menino, olhava o rótulo da lata de Toddy. Nesse rótulo havia um garoto que segurava uma lata de Toddy. E nessa lata de Toddy que ele segurava havia um garoto que segurava uma lata de Toddy na qual havia um garoto que segurava uma lata de Toddy na qual...


Tenham cuidado, crianças. O infinito é algo a ser tratado apenas pela Matemática e pelas Artes.

1 comentário:

Alcilea disse...

Eu me lembro muito bem dessa sua pergunta perante uma lata (naquele tempo era lata...) de Toddy: Quantas latas você está vendo?
Pena que você não tenha continuado sua carreira na Matemática!