Mas há uma música de Nelson Gonçalves que é coerente: Pensando em ti.
Durante minha adolescência eu a cantava a plenos pulmões durante meus banhos.
E - incrível! - a única censura que recebia da família era pela razão de a letra da música usar o nome de Deus em vão.
Bobagem. Poucas vezes ter-se-á utilizado o nome do Altíssimo de maneira tão apropriada.
Pensando Em Ti
(Nelson Gonçalves)
Eu amanheço pensando em ti,
Eu anoiteço pensando em ti,
Eu não te esqueço,
É dia e noite pensando em ti,
Eu vejo a vida pela luz dos olhos teus
Me deixe ao menos
Por favor pensar em Deus
Nos cigarros que eu fumo
Te vejo nas espirais
Nos livros que eu tento ler
Em cada frase tu estás
Nas orações que eu faço
Eu encontro os olhos teus
Me deixe ao menos por favor pensar em Deus.
Lembro-me dessa música sempre que leio nas tais redes sociais confissões mais ou menos desesperadas de pessoas à procura do amor ideal, que teima em não surgir.
A diferença é que, no Facebook, procura-se o amor ideal em qualquer canto. Desde que o outro me adore, não perceba meus defeitos e os tenha em quantidades suportáveis, tudo bem!
Em Pensando em Ti faz-se a apologia de um amor com objecto bem definido. E incondicional.
E me dou conta, mais de cinquenta anos depois, que o kitsch, em Nelson Gonçalves, atinge um de seus pontos altos.
Graças ao YouTube, lá vai ele, o eterno cafona.