terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Suicídios na restauração

O jornal Público traz, hoje,  matéria a respeito do alarmante número de suicídios entre os empresários da restauração em Portugal.
Suicídios são lastimáveis quer ocorram entre empresários da restauração, pedreiros, engenheiros, médicos ou outra categoria social qualquer.
Mas a matéria associa esse facto lastimável à crise vivida pelo sector da restauração.
É sobre isso que prefiro falar.
Desde as primeiras vezes em que vim a Portugal, duas coisas me surpreenderam em relação à restauração: primeiro, a qualidade existente quase por toda parte; segundo, a quantidade de restaurantes.
Em Vinhais, no distrito de Bragança, por exemplo, a impressão que o visitante tem é que há mais restaurantes que habitantes. Durante umas férias que lá passei com a esposa, costumávamos tomar as refeições em um restaurante próximo ao apartamento em que estávamos hospedados. Era o típico restaurante português, tocado exclusivamente pela família proprietária: a mãe comandava a cozinha, o pai se encarregava das compras e da administração em geral e a filha servia os clientes.
Eu disse clientes?!
Durante os vinte dias em que frequentámos o dito restaurante, jamais vimos outros clientes lá.
Quando íamos para jantar, as luzes da sala de refeições eram então acesas. Logo que saíamos, eram prontamente apagadas (mas diga-se: a comida era excelente).
Cheguei a pensar que tamanha quantidade de restaurantes tivesse alguma relação com lavagem de dinheiro (branqueamento de capitais). Afinal, a primeira hipótese que um brasileiro levanta a respeito de factos um tanto misteriosos é sempre uma sacanagem qualquer.
Sem excluir tal hipótese, não creio que ela explique a maior parte dos casos, é óbvio.
Penso que o contributo que o Movimento Nacional dos Empresários da Restauração podia dar para amenizar a crise do sector seria estabelecer critérios que permitissem a alguém interessado em entrar na actividade avaliar da maneira mais objectiva possível a viabilidade do empreendimento, antes de se atirar a ele de olhos fechados.
Lembro-me que o McDonald's, por exemplo, para aceitar um novo franqueado, procede à análise de uma série de factores que podem indicar a maior ou menor viabilidade do negócio.
Há alguns anos no Brasil, por exemplo, uma das exigências feitas pelo McDonald's para a aceitação de um novo franqueado era a de que a cidade (ou a região potencialmente abrangida pela loja) na qual o indivíduo pretendesse estabelecer-se tivesse um mínimo de 300.000 habitantes.
Parece que em Portugal não há nada parecido que oriente os que querem entrar no negócio da restauração.

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