quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Espiritismo e Antroposofia - 06

A comunicação com o mundo espiritual – a intuição

“A expressão 'intuição' se presta facilmente a mal-entendidos, pois aqueles que têm fantasia ou disposições poéticas também a empregam para designar as impressões sentimentais que têm do mundo. Porém esta é uma intuição confusa, apenas sentida. Nem por isso deixa de ter alguma afinidade com o que chamo de intuição. Pois assim como enquanto ser terrestre o homem possui a percepção por meio dos sentidos, por meio do sentimento e da vontade terrestres ele recebe um reflexo da intuição, modalidade suprema da cognição. (…) Como ser terrestre o homem possui, de fato, algo do que há de mais baixo e, ao mesmo tempo, um reflexo do que existe de mais elevado, acessível só à intuição. Faltam-lhe as regiões do meio, e estas ele deve conquistar por intermédio da imaginação e da inspiração. A intuição, com sua interioridade luminosa e pura, também deve ser adquirida, mas uma reprodução terrena desta intuição já se encontra no sentimento moral e no conteúdo da consciência ética.”
“O terceiro grau da cognição superior, imprescindível para se alcançar a região da intuição, só pode ser atingido pelo mais perfeito desenvolvimento de uma capacidade interior que a nossa era materialista nem considera como força de conhecimento. Com efeito, é a capacidade de amar, que deve ser desenvolvida e espiritualizada ao máximo para se poder chegar àquilo que se revela pela intuição. (…) Ora, um certo preparo para aquela capacidade de amor espiritualizado se realiza quando nos livramos, de certa maneira, de tudo o que nos prende às coisas exteriores – por exemplo, quando fazemos regularmente um exercício que consiste em representar os acontecimentos por nós vividos, não em sua sequência normal, mas seguindo o curso oposto (…) por exemplo, se subimos uma escada, imaginando estarmos no último degrau, depois no penúltimo, isto é, representando descer para trás o que na realidade realizamos subindo. (…) representemos o subir e o descer da escada em sentido contrário; primeiro o descer, depois o subir, da forma indicada. Fazendo isso, vamos adquirindo uma certa mobilidade interior até finalmente conseguirmos imaginar o decurso inteiro do dia, dentro de três ou quatro minutos.”
“Todavia essa é apenas uma parte – eu diria a parte negativa daquilo que devemos realizar para intensificar e aperfeiçoar aquela capacidade espiritual de amar. Ora, essa capacidade deve chegar até o ponto em que acompanhemos com nosso amor todo o crescimento de uma planta (na vida comum apenas observamos seu crescimento espacial, sem dele participar); devemos participar intimamente de tudo o que se manifesta no desabrochar vegetal, mergulhando para dentro da planta, identificando-nos animicamente com ela, crescendo, florescendo, frutificando como se fôssemos ela mesma, de forma a amá-la tanto quanto amamos a nós próprios. Daí devemos ascender, de forma análoga, à representação do animal e descender à do mineral; deveríamos sentir como a substância mineral toma a forma de um cristal e desenvolver um certo prazer íntimo ao vivenciar, desse modo, a formação de todas aquelas faces, arestas e cantos; ao mesmo tempo, temos como que um sentimento de dor a nos atravessar quando o mineral é destruído ou desintegrado. Não só com o sentimento, mas também com a vontade deveríamos, dessa forma, identificar-nos com tudo o que acontece na natureza.”
“Mas esse esforço deve ser precedido pelo desenvolvimento de uma capacidade de amor que abranja todos os homens. Não poderemos amar a natureza, da forma descrita, sem antes termos conquistado essa capacidade de amar a todos. Quando, por fim, chegarmos ao ponto de sentir esse amor cheio de compreensão para com os homens e para com toda a natureza, aquilo que antes nos era perceptível como cores da aura, como música das esferas, toma forma e revela, por seus contornos, a existência de autênticos seres espirituais.”
“Todavia, a vivência desses seres espirituais é diferente da maneira como vivemos as coisas físicas. (…) Não é dessa forma que se vivencia um ser espiritual. Para tal devemos 'mergulhar' totalmente nele, aplicando a capacidade de amar desenvolvida ao contato com a natureza. A intuição espiritual só é possível mediante as forças do amor desenvolvido para com a natureza e no silêncio obtido pelo vazio da consciência. Imaginem os Amigos que tenham desenvolvido essa capacidade de amar em contato com minerais, plantas, animais e homens. Em seu íntimo reina a consciência vazia, aquela tranquilidade negativa. Os Senhores sentem o sofrimento que está na base de toda a existência cósmica; ela é, ao mesmo tempo, a dor da solidão. Nada existe ainda. Mas o impulso infinitamente diferenciado de amor os leva a permear com seu próprio ser tudo o que se manifesta na inspiração, através da visão e da audição que descrevemos. Aí conseguimos penetrar num ser, identificar-nos com outro.”
“Temos a vivência num mundo espiritual concreto da mesma forma como a visão, o tato e o sentido do calor nos proporcionam a experiência de um mundo físico concreto. Mas é preciso ter chegado a esse nível caso se queira adquirir o conhecimento de algo particularmente importante para o homem. Já expus que a inspiração faz entrar em nossa alma nossa experiência pré-terrestre e puramente espiritual; que é pela inspiração que vimos a saber o que éramos antes de descer, por meio da comcepção, a um corpo terrestre. Quando aptos, devido ao impulso de amor, a penetrar como clarividentes nos mundos espirituais, temos a revelação daquilo que torna completa a autovivência do homem. Revela-se aquilo que precede nossa estada no mundo espiritual, revela-se o que éramos antes de ascender, entre a última morte e o novo nascimento, à última existência espiritual. Revela-se nossa vida terrestre passada e, pouco a pouco, as outras vidas terrestres precedentes. Pois esse verdadeiro eu, presente em sucessivas vidas terrestres, só pode manifestar-se quando a capacidade de amar é intensificada a tal ponto que o outro ser na natureza ou no mundo espiritual se nos torna tão caro como o somos para nós mesmos, movidos por amor-próprio.”.


“A vida terrestre completa consiste, pois, numa sequência de passagens limitadas por nascimentos e mortes, com existências intermediárias em mundos puramente espirituais. O conhecimento disso, real e adquirido por experiência própria, só se pode conseguir pela intuição.”.

Sem comentários: