A comunicação com o mundo espiritual
– a intuição
“A expressão 'intuição' se presta
facilmente a mal-entendidos, pois aqueles que têm fantasia ou
disposições poéticas também a empregam para designar as
impressões sentimentais que têm do mundo. Porém esta é uma
intuição confusa, apenas sentida. Nem por isso deixa de ter alguma
afinidade com o que chamo de intuição. Pois assim como enquanto ser
terrestre o homem possui a percepção por meio dos sentidos, por
meio do sentimento e da vontade terrestres ele recebe um reflexo da
intuição, modalidade suprema da cognição. (…) Como ser
terrestre o homem possui, de fato, algo do que há de mais baixo e,
ao mesmo tempo, um reflexo do que existe de mais elevado, acessível
só à intuição. Faltam-lhe as regiões do meio, e estas ele deve
conquistar por intermédio da imaginação e da inspiração. A
intuição, com sua interioridade luminosa e pura, também deve ser
adquirida, mas uma reprodução terrena desta intuição já se
encontra no sentimento moral e no conteúdo da consciência ética.”
“O terceiro grau da cognição
superior, imprescindível para se alcançar a região da intuição,
só pode ser atingido pelo mais perfeito desenvolvimento de uma
capacidade interior que a nossa era materialista nem considera como
força de conhecimento. Com efeito, é a capacidade de amar, que deve
ser desenvolvida e espiritualizada ao máximo para se poder chegar
àquilo que se revela pela intuição. (…) Ora, um certo preparo
para aquela capacidade de amor espiritualizado se realiza quando nos
livramos, de certa maneira, de tudo o que nos prende às coisas
exteriores – por exemplo, quando fazemos regularmente um exercício
que consiste em representar os acontecimentos por nós vividos, não
em sua sequência normal, mas seguindo o curso oposto (…) por
exemplo, se subimos uma escada, imaginando estarmos no último
degrau, depois no penúltimo, isto é, representando descer para trás
o que na realidade realizamos subindo. (…) representemos o subir e
o descer da escada em sentido contrário; primeiro o descer, depois o
subir, da forma indicada. Fazendo isso, vamos adquirindo uma certa
mobilidade interior até finalmente conseguirmos imaginar o decurso
inteiro do dia, dentro de três ou quatro minutos.”
“Todavia essa é apenas uma parte –
eu diria a parte negativa daquilo que devemos realizar para
intensificar e aperfeiçoar aquela capacidade espiritual de amar.
Ora, essa capacidade deve chegar até o ponto em que acompanhemos com
nosso amor todo o crescimento de uma planta (na vida comum apenas
observamos seu crescimento espacial, sem dele participar); devemos
participar intimamente de tudo o que se manifesta no desabrochar
vegetal, mergulhando para dentro da planta, identificando-nos
animicamente com ela, crescendo, florescendo, frutificando como se
fôssemos ela mesma, de forma a amá-la tanto quanto amamos a nós
próprios. Daí devemos ascender, de forma análoga, à representação
do animal e descender à do mineral; deveríamos sentir como a
substância mineral toma a forma de um cristal e desenvolver um certo
prazer íntimo ao vivenciar, desse modo, a formação de todas
aquelas faces, arestas e cantos; ao mesmo tempo, temos como que um
sentimento de dor a nos atravessar quando o mineral é destruído ou
desintegrado. Não só com o sentimento, mas também com a vontade
deveríamos, dessa forma, identificar-nos com tudo o que acontece na
natureza.”
“Mas esse esforço deve ser precedido
pelo desenvolvimento de uma capacidade de amor que abranja todos os
homens. Não poderemos amar a natureza, da forma descrita, sem antes
termos conquistado essa capacidade de amar a todos. Quando, por fim,
chegarmos ao ponto de sentir esse amor cheio de compreensão para com
os homens e para com toda a natureza, aquilo que antes nos era
perceptível como cores da aura, como música das esferas, toma forma
e revela, por seus contornos, a existência de autênticos seres
espirituais.”
“Todavia, a vivência desses seres
espirituais é diferente da maneira como vivemos as coisas físicas.
(…) Não é dessa forma que se vivencia um ser espiritual. Para tal
devemos 'mergulhar' totalmente nele, aplicando a capacidade de amar
desenvolvida ao contato com a natureza. A intuição espiritual só é
possível mediante as forças do amor desenvolvido para com a
natureza e no silêncio obtido pelo vazio da consciência. Imaginem
os Amigos que tenham desenvolvido essa capacidade de amar em contato
com minerais, plantas, animais e homens. Em seu íntimo reina a
consciência vazia, aquela tranquilidade negativa. Os Senhores sentem
o sofrimento que está na base de toda a existência cósmica; ela é,
ao mesmo tempo, a dor da solidão. Nada existe ainda. Mas o impulso
infinitamente diferenciado de amor os leva a permear com seu próprio
ser tudo o que se manifesta na inspiração, através da visão e da
audição que descrevemos. Aí conseguimos penetrar num ser,
identificar-nos com outro.”
“Temos a vivência num mundo
espiritual concreto da mesma forma como a visão, o tato e o sentido
do calor nos proporcionam a experiência de um mundo físico
concreto. Mas é preciso ter chegado a esse nível caso se queira
adquirir o conhecimento de algo particularmente importante para o
homem. Já expus que a inspiração faz entrar em nossa alma nossa
experiência pré-terrestre e puramente espiritual; que é pela
inspiração que vimos a saber o que éramos antes de descer, por
meio da comcepção, a um corpo terrestre. Quando aptos, devido ao
impulso de amor, a penetrar como clarividentes nos mundos
espirituais, temos a revelação daquilo que torna completa a
autovivência do homem. Revela-se aquilo que precede nossa estada no
mundo espiritual, revela-se o que éramos antes de ascender, entre a
última morte e o novo nascimento, à última existência espiritual.
Revela-se nossa vida terrestre passada e, pouco a pouco, as outras
vidas terrestres precedentes. Pois esse verdadeiro eu, presente em
sucessivas vidas terrestres, só pode manifestar-se quando a
capacidade de amar é intensificada a tal ponto que o outro ser na
natureza ou no mundo espiritual se nos torna tão caro como o somos
para nós mesmos, movidos por amor-próprio.”.
“A vida terrestre completa consiste,
pois, numa sequência de passagens limitadas por nascimentos e
mortes, com existências intermediárias em mundos puramente
espirituais. O conhecimento disso, real e adquirido por experiência
própria, só se pode conseguir pela intuição.”.
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