Como escrevo sobre assuntos religiosos
ou afins, sou criticado por alguns por querer destruir a fé das
pessoas.
Tenho a dizer sobre isso:
Primeiro – Se a fé é tão pouca que
possa ser por outrem destruída, então talvez ela nada valha mesmo.
Segundo – Não quero destruir fé
alguma. Gostaria, sim, de contribuir para diminuir a intransigência.
Explico por meio de um exemplo: já
várias vezes vi citado, no Facebook, o famoso Salmo 23.
Segundo a maioria das traduções, ele
começa assim:
O Senhor é o meu pastor, nada me
faltará.
Pois bem. Comecemos por dizer que, no
original hebraico, não há esse “nada”.
Uma tradução literal seria bem
diversa da habitual. O ambiente do poema – e se trata de um poema .
Um salmo – é pastoril. Fala-se de um rebanho e de seu pastor. O
salmista é um membro do rebanho, digamos uma ovelha, e se refere ao
Eterno, seu pastor.
Literalmente teríamos: “O Senhor é
meu pastor, não me desgarrarei.”
Ora, quem já viu um rebanho de ovelhas
em movimento – e eu assisto a isso todos os dias da janela de minha
casa – sabe que a ovelha não se desgarra não por vontade própria
(que deveria ser a sua, para sua própria proteção) mas pelo
cuidado do pastor (e de seus cães).
Por isso, é plausível adotar-se uma
tradução que mantenha o sentido original do texto e se aproxime o
mais possível da tradução tradicional. Ficaria assim:
O Senhor é meu pastor e não me
faltará.
Ou seja, não deixará que eu me
desgarre, que me perca. Ele e seus cães. Ou, se quiserem, seus
anjos.
Essa imagem me parece linda.
Mas as pessoas insistem na versão do
“nada me faltará”. Que é mais adequada à atual teologia da
prosperidade.
Ora, o pastor preserva o rebanho. Mas
não garante um pasto verdejante.
Há momentos de fome, de angústia, de
sofrimento.
Mas muitas vezes a fé adquire uma
feição intransigente. A História é repleta de exemplos.
E há os que chamam Fé ao que é
apenas Teimosia.
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