sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A intransigência da Fé


Como escrevo sobre assuntos religiosos ou afins, sou criticado por alguns por querer destruir a fé das pessoas.
Tenho a dizer sobre isso:
Primeiro – Se a fé é tão pouca que possa ser por outrem destruída, então talvez ela nada valha mesmo.
Segundo – Não quero destruir fé alguma. Gostaria, sim, de contribuir para diminuir a intransigência.

Explico por meio de um exemplo: já várias vezes vi citado, no Facebook, o famoso Salmo 23.
Segundo a maioria das traduções, ele começa assim:
O Senhor é o meu pastor, nada me faltará.

Pois bem. Comecemos por dizer que, no original hebraico, não há esse “nada”.
Uma tradução literal seria bem diversa da habitual. O ambiente do poema – e se trata de um poema . Um salmo – é pastoril. Fala-se de um rebanho e de seu pastor. O salmista é um membro do rebanho, digamos uma ovelha, e se refere ao Eterno, seu pastor.
Literalmente teríamos: “O Senhor é meu pastor, não me desgarrarei.”
Ora, quem já viu um rebanho de ovelhas em movimento – e eu assisto a isso todos os dias da janela de minha casa – sabe que a ovelha não se desgarra não por vontade própria (que deveria ser a sua, para sua própria proteção) mas pelo cuidado do pastor (e de seus cães).
Por isso, é plausível adotar-se uma tradução que mantenha o sentido original do texto e se aproxime o mais possível da tradução tradicional. Ficaria assim:
O Senhor é meu pastor e não me faltará.
Ou seja, não deixará que eu me desgarre, que me perca. Ele e seus cães. Ou, se quiserem, seus anjos.
Essa imagem me parece linda.

Mas as pessoas insistem na versão do “nada me faltará”. Que é mais adequada à atual teologia da prosperidade.
Ora, o pastor preserva o rebanho. Mas não garante um pasto verdejante.
Há momentos de fome, de angústia, de sofrimento.

Mas muitas vezes a fé adquire uma feição intransigente. A História é repleta de exemplos.

E há os que chamam Fé ao que é apenas Teimosia.

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