sábado, 9 de agosto de 2014

Espiritismo e Antroposofia - 02


A comunicação com o mundo espiritual

Começo por essa questão por uma razão epistemológica. Ou seja, se vou perguntar ao Espiritismo e à Antroposofia como cada um deles entende ser o mundo espiritual, é importante saber como cada uma dessas correntes de pensamento adquiriu tal conhecimento.
As formas de que tais correntes se utilizam para conhecer o mundo espiritual pode nos dizer algo a respeito do grau de validade das informações que elas nos transmitem.
Além disso, é evidente que nosso juízo a respeito do que delas ouvirmos dependerá bastante da coerência interna daquilo que nos apresentarem.
Vamos, então, explicitar resumidamente o modo como o Espiritismo e a Antroposofia adquirem o conhecimento do mundo espiritual.

Espiritismo:
Para ser o mais sintético possível, valho-me do livro de Allan Kardec “O Que é o Espiritismo”, um resumo das obras básicas do mesmo autor.
Os espíritos “são as próprias almas dos que viveram na terra onde deixaram o seu invólucro corporal, que povoam os espaços, nos rodeiam e nos acotovelam constantemente (...)”. “Não são seres abstractos,(...) possuem um invólucro a que damos o nome de perespírito, espécie de corpo fluídico, vaporoso, diáfano, invisível no estado normal”.
“Quanto aos meios [de comunicação conosco], são muito variados.(...) O mais vulgar (…) consiste na intuição, quer dizer, nas ideias e nos pensamentos que nos sugerem; mas este meio é muito pouco apreciável na generalidade dos casos; existem outros mais materiais.”
“Certos Espíritos comunicam através de pancadas dadas respondendo sim ou não ou designando as letras que devem formar as palavras. As pancadas podem ser obtidas pelo movimento de báscula de um objecto, uma mesa por exemplo, que bate com o pé. (…) Esta forma primitiva é demorada e dificilmente se presta a desenvolvimentos de uma certa extensão; a escrita substituiu-a.”
“Os Espíritos manifestam-se ainda e podem transmitir os seus pensamentos através de sons articulados que se repercutem quer no vago do ar, quer no ouvido, pela voz do médium, pela vista, por desenhos, pela música e por outros meios que um estudo completo dá a conhecer.”

Apareceu aí a figura do “médium”, que é pessoa dotada da capacidade de receber tais comunicações dos Espíritos e escrevê-las ou transmiti~las por voz etc. Temos, então, “os médiuns auditivos, falantes, videntes, desenhadores, músicos, escritores.”.

A questão que me parece crucial, aí, é a da confiabilidade das informações passadas pelos Espíritos aos médiuns. Como alerta o próprio Kardec: “As comunicações de além-túmulo estão rodeadas de mais dificuldades do que se pensa; não estão isentas de inconvenientes, nem mesmo de perigos, para os que não possuem a experiência necessária.”.

As dificuldades encontram-se dos dois lados: do lado do médium e do lado dos Espíritos.
Em relação ao médium: “Até agora não se conhece nenhum diagnóstico para a mediunidade (…); tentar é a única maneira de saber se somos dotados. (…) Se a mediunidade se traduzisse por um sinal exterior qualquer, isso implicaria a permanência da faculdade, enquanto que ela é essencialmente móvel e fugitiva.”.
Em relação aos Espíritos: “Os Espíritos levianos (…) muitas vezes troçam dos assistentes e respondem a tudo sem se preocuparem com a verdade.”.

Como se percebe, a confiabilidade das informações é de difícil verificação. Ainda teremos oportunidade de conversar sobre vários casos que ilustram essa dificuldade.

No próximo texto veremos como a mesma questão se coloca para a Antroposofia.

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