A comunicação com o mundo espiritual
Começo por essa questão por uma razão
epistemológica. Ou seja, se vou perguntar ao Espiritismo e à
Antroposofia como cada um deles entende ser o mundo espiritual, é
importante saber como cada uma dessas correntes de pensamento
adquiriu tal conhecimento.
As formas de que tais correntes se
utilizam para conhecer o mundo espiritual pode nos dizer algo a
respeito do grau de validade das informações que elas nos
transmitem.
Além disso, é evidente que nosso
juízo a respeito do que delas ouvirmos dependerá bastante da
coerência interna daquilo que nos apresentarem.
Vamos, então, explicitar resumidamente
o modo como o Espiritismo e a Antroposofia adquirem o conhecimento do
mundo espiritual.
Espiritismo:
Para ser o mais sintético possível,
valho-me do livro de Allan Kardec “O Que é o Espiritismo”, um
resumo das obras básicas do mesmo autor.
Os espíritos “são as próprias
almas dos que viveram na terra onde deixaram o seu invólucro
corporal, que povoam os espaços, nos rodeiam e nos acotovelam
constantemente (...)”. “Não são seres abstractos,(...) possuem
um invólucro a que damos o nome de perespírito, espécie de corpo
fluídico, vaporoso, diáfano, invisível no estado normal”.
“Quanto aos meios [de comunicação
conosco], são muito variados.(...) O mais vulgar (…) consiste na
intuição, quer dizer, nas ideias e nos pensamentos que nos sugerem;
mas este meio é muito pouco apreciável na generalidade dos casos;
existem outros mais materiais.”
“Certos Espíritos comunicam através
de pancadas dadas respondendo sim ou não ou designando as letras que
devem formar as palavras. As pancadas podem ser obtidas pelo
movimento de báscula de um objecto, uma mesa por exemplo, que bate
com o pé. (…) Esta forma primitiva é demorada e dificilmente se
presta a desenvolvimentos de uma certa extensão; a escrita
substituiu-a.”
“Os Espíritos manifestam-se ainda e
podem transmitir os seus pensamentos através de sons articulados que
se repercutem quer no vago do ar, quer no ouvido, pela voz do médium,
pela vista, por desenhos, pela música e por outros meios que um
estudo completo dá a conhecer.”
Apareceu aí a figura do “médium”,
que é pessoa dotada da capacidade de receber tais comunicações dos
Espíritos e escrevê-las ou transmiti~las por voz etc. Temos, então,
“os médiuns auditivos, falantes, videntes, desenhadores, músicos,
escritores.”.
A questão que me parece crucial, aí,
é a da confiabilidade das informações passadas pelos Espíritos
aos médiuns. Como alerta o próprio Kardec: “As comunicações de
além-túmulo estão rodeadas de mais dificuldades do que se pensa;
não estão isentas de inconvenientes, nem mesmo de perigos, para os
que não possuem a experiência necessária.”.
As dificuldades encontram-se dos dois
lados: do lado do médium e do lado dos Espíritos.
Em relação ao médium: “Até agora
não se conhece nenhum diagnóstico para a mediunidade (…); tentar
é a única maneira de saber se somos dotados. (…) Se a mediunidade
se traduzisse por um sinal exterior qualquer, isso implicaria a
permanência da faculdade, enquanto que ela é essencialmente móvel
e fugitiva.”.
Em relação aos Espíritos: “Os
Espíritos levianos (…) muitas vezes troçam dos assistentes e
respondem a tudo sem se preocuparem com a verdade.”.
Como se percebe, a confiabilidade das
informações é de difícil verificação. Ainda teremos
oportunidade de conversar sobre vários casos que ilustram essa
dificuldade.
No próximo texto veremos como a mesma
questão se coloca para a Antroposofia.
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