A comunicação com o mundo espiritual
No texto nº 2 resumi a forma como se
dá a comunicação dos Espíritos conosco, segundo o Espiritismo.
Vou procurar resumir como se dá a
comunicação com o mundo espiritual, de acordo com a Antroposofia.
Neste caso, resumir é ainda mais
difícil. Corre-se o risco de confundir “resumir” com “amputar”.
Por isso, peço que encarem o que segue apenas como estímulo para
leituras mais prolongadas. O que vai a seguir é tirado de uma série
de conferências que Steiner proferiu em 1.923, na Inglaterra. Elas
foram reunidas no livro “O Conhecimento Iniciático”. Mas o mesmo
assunto é tratado em outras obras do criador da Antroposofia.
Antroposofia:
Em todas as épocas, “o tipo de
cognição que conduz do sensível ao supra-sensível foi chamado (…)
de cognição por iniciação.” Qual a maneira pela qual se pode
chegar a esse conhecimento iniciático nos dias de hoje?
Steiner parte de uma reflexão sobre o
pensar. Para ele, “em toda a nossa existência terrena, ele [o
pensar] exerce uma função inteiramente passiva.” Isso quer dizer:
“Do despertar até o adormecer, o homem se abre ao mundo em redor.
Deixa que lhe advenham as impressões sensórias, com as quais vêm
combinar-se as representações mentais. As impressões sensoriais
vêm e vão; o que fica na alma são as representações, que
paulatinamente se transformam em recordações. (…) As
representações obtidas da vida ordinária nada contêm que não
haja penetrado na alma a partir do mundo exterior, isto é, da
observação pelos sentidos.”
O primeiro passo na senda do
conhecimento iniciático consiste em “a transição do pensamento
meramente passivo para a ativação íntima do pensar.”.
Como efetuar tal transição? Steiner
especifica três modos. O último deles: “Tomemos e abramos em
qualquer página um livro que, temos certeza, nunca tivemos em nossas
mãos; lendo então uma frase qualquer, a esmo, podemos estar seguros
de tratar-se de uma sentença que devemos abordar por uma atividade
interior. Façamos de tal sentença, ou de um personagem de tal
livro, o conteúdo da nossa meditação: que seja algo com que nunca
antes nos tenhamos deparado. (…) Em toda meditação realizável
hoje em dia, o importante é que seja feita a partir da atividade
interior, da vontade no âmbito do pensar, o que é justamente o
menos apreciado na contemplação exterior passiva e na ciência
moderna.”.
“Desta forma alcançamos um pensar
ativo. A rapidez com que essa evolução se realiza depende da
natureza da própria pessoa. Um pode atingir a meta em três semanas,
caso sempre repita os exercícios – de preferência sempre os
mesmos; outro precisará de cinco, sete, dezenove ou mais anos.(...)
Em dado momento, chega-se realmente a conhecer uma maneira de pensar
diferente da habitual. Conhecemos então um pensar que não se
desenrola em imagens passivas, como normalmente acontece, mas que
está interiormente ativo (…) Conhecemos um pensar – e aqui não
estou falando simbolicamente, mas dizendo a verdade real e concreta –
capaz de chocar-se com algo e do qual sabemos que pode esbarrar em
alguma coisa. Do pensar comum sabemos que nunca esbarra em nada.
Quando bato numa parede a ponto de formar-se um galo, é meu corpo
físico que esbarro, por intermédio de minha força tátil. (…) O
novo pensar a que chegamos é algo real dentro do qual vivemos.
Esbarra como o dedo esbarraria numa parede. (…) Este é o primeiro
passo a ser dado: ativar o pensar até transformá-lo num órgão
anímico de tato.”
“E aquilo que se desenvolve graças à
atividade do pensar é o primeiro membro supra-sensível do
homem.(...) Temos inicialmente o corpo físico. (…) Temos depois o
primeiro membro supra-sensível. Precisando de uma terminologia,
chamemo-lo de corpo etérico.(...) O pensar se transforma num tatear
supra-sensível, e este percebe e vê num sentido superior o corpo
etérico ou plasmador do homem. Este é, por assim dizer, o primeiro
passo real para dentro do mundo superior.”
“Quem entrou num mundo espiritual por
meio do caminho descrito por nós, adquirindo a capacidade de tocá-lo
ou apalpá-lo, sabe distinguir muito bem se apenas representa as
coisas a posteriori, com seu pensar ativado, ou se este realmente lhe
abre novas percepções. Na vida cotidiana, temos um paralelo
eloquente quando colocamos por inadvertência o dedo numa chama ou se
mentalizamos a seguir: eis a chama, agora penetro nela com o dedo. Aí
a diferença é viva: num caso sofremos uma dor real; no outro,
apenas a imaginamos. Essa diferença é experimentada, num plano
superior, conforme vivenciamos ou apenas representamos mentalmente os
mundos superiores.”.
[continua]
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