segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Espiritismo e Antroposofia - 03


A comunicação com o mundo espiritual

No texto nº 2 resumi a forma como se dá a comunicação dos Espíritos conosco, segundo o Espiritismo.
Vou procurar resumir como se dá a comunicação com o mundo espiritual, de acordo com a Antroposofia.
Neste caso, resumir é ainda mais difícil. Corre-se o risco de confundir “resumir” com “amputar”. Por isso, peço que encarem o que segue apenas como estímulo para leituras mais prolongadas. O que vai a seguir é tirado de uma série de conferências que Steiner proferiu em 1.923, na Inglaterra. Elas foram reunidas no livro “O Conhecimento Iniciático”. Mas o mesmo assunto é tratado em outras obras do criador da Antroposofia.

Antroposofia:
Em todas as épocas, “o tipo de cognição que conduz do sensível ao supra-sensível foi chamado (…) de cognição por iniciação.” Qual a maneira pela qual se pode chegar a esse conhecimento iniciático nos dias de hoje?
Steiner parte de uma reflexão sobre o pensar. Para ele, “em toda a nossa existência terrena, ele [o pensar] exerce uma função inteiramente passiva.” Isso quer dizer: “Do despertar até o adormecer, o homem se abre ao mundo em redor. Deixa que lhe advenham as impressões sensórias, com as quais vêm combinar-se as representações mentais. As impressões sensoriais vêm e vão; o que fica na alma são as representações, que paulatinamente se transformam em recordações. (…) As representações obtidas da vida ordinária nada contêm que não haja penetrado na alma a partir do mundo exterior, isto é, da observação pelos sentidos.”
O primeiro passo na senda do conhecimento iniciático consiste em “a transição do pensamento meramente passivo para a ativação íntima do pensar.”.
Como efetuar tal transição? Steiner especifica três modos. O último deles: “Tomemos e abramos em qualquer página um livro que, temos certeza, nunca tivemos em nossas mãos; lendo então uma frase qualquer, a esmo, podemos estar seguros de tratar-se de uma sentença que devemos abordar por uma atividade interior. Façamos de tal sentença, ou de um personagem de tal livro, o conteúdo da nossa meditação: que seja algo com que nunca antes nos tenhamos deparado. (…) Em toda meditação realizável hoje em dia, o importante é que seja feita a partir da atividade interior, da vontade no âmbito do pensar, o que é justamente o menos apreciado na contemplação exterior passiva e na ciência moderna.”.
“Desta forma alcançamos um pensar ativo. A rapidez com que essa evolução se realiza depende da natureza da própria pessoa. Um pode atingir a meta em três semanas, caso sempre repita os exercícios – de preferência sempre os mesmos; outro precisará de cinco, sete, dezenove ou mais anos.(...) Em dado momento, chega-se realmente a conhecer uma maneira de pensar diferente da habitual. Conhecemos então um pensar que não se desenrola em imagens passivas, como normalmente acontece, mas que está interiormente ativo (…) Conhecemos um pensar – e aqui não estou falando simbolicamente, mas dizendo a verdade real e concreta – capaz de chocar-se com algo e do qual sabemos que pode esbarrar em alguma coisa. Do pensar comum sabemos que nunca esbarra em nada. Quando bato numa parede a ponto de formar-se um galo, é meu corpo físico que esbarro, por intermédio de minha força tátil. (…) O novo pensar a que chegamos é algo real dentro do qual vivemos. Esbarra como o dedo esbarraria numa parede. (…) Este é o primeiro passo a ser dado: ativar o pensar até transformá-lo num órgão anímico de tato.”
“E aquilo que se desenvolve graças à atividade do pensar é o primeiro membro supra-sensível do homem.(...) Temos inicialmente o corpo físico. (…) Temos depois o primeiro membro supra-sensível. Precisando de uma terminologia, chamemo-lo de corpo etérico.(...) O pensar se transforma num tatear supra-sensível, e este percebe e vê num sentido superior o corpo etérico ou plasmador do homem. Este é, por assim dizer, o primeiro passo real para dentro do mundo superior.”
“Quem entrou num mundo espiritual por meio do caminho descrito por nós, adquirindo a capacidade de tocá-lo ou apalpá-lo, sabe distinguir muito bem se apenas representa as coisas a posteriori, com seu pensar ativado, ou se este realmente lhe abre novas percepções. Na vida cotidiana, temos um paralelo eloquente quando colocamos por inadvertência o dedo numa chama ou se mentalizamos a seguir: eis a chama, agora penetro nela com o dedo. Aí a diferença é viva: num caso sofremos uma dor real; no outro, apenas a imaginamos. Essa diferença é experimentada, num plano superior, conforme vivenciamos ou apenas representamos mentalmente os mundos superiores.”.


[continua]

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