terça-feira, 12 de agosto de 2014

Espiritismo e Antroposofia - 05


A comunicação com o mundo espiritual

Ainda sobre os dois primeiros passos da cognição por iniciação:
“O discípulo (…) não tem mais, à sua frente, os pensamentos sem vida adquiridos na cognição passiva, mas um mundo interior dinâmico que ele sente tal como o sangue que o percorre ou a respiração que o permeia.”.
“Aí aquelas imagens – os pensamentos de antes - (…) transformaram-se em autênticas imaginações vivenciadas (…) em duas dimensões; mas não como se estivéssemos diante de um quadro pintado no mundo físico – quem os vê assim tem visões, mas não imaginações -, mas como se nós, com nosso próprio ser (que teria perdido sua terceira dimensão), nos estivéssemos movendo dentro delas.”
“O autêntico conhecimento superior só existe quando, por exemplo, as cores vividas numa imaginação real não são vistas, como o seriam no mundo físico, e sim vivenciadas. (…) Sentimos o vermelho como algo que nos ataca, que investe contra nós. (…) A cor verde nos proporciona uma experiência de serenidade que não acarreta nem dor nem prazer. No azul temos a sensação da devoção, do abandono. (…) quando algo no mundo espiritual vem ao nosso encontro de um modo agressivo, sentimos que isso corresponde à cor vermelha. Se algo provoca em nós uma sensação de devoção, essa vivência corresponde àquela que temos no mundo físico com as cores azul ou azul-violeta. Abreviando nossa maneira de expressar-nos, dizemos então que tivemos, no mundo espiritual, a experiência de um vermelho ou de um azul.”
“(...) essa passagem para o supra-sensível, esse abandono visual que ao mesmo tempo constitui uma vivência concreta, está sempre presente. É nessa vivência concreta que sentimos o pensar vindo a ser um órgão tátil que preenche todo o organismo humano: sentimo-nos como que espiritualmente apalpando um mundo novo, que, na realidade, ainda não é o verdadeiro mundo espiritual, mas aquele que eu chamaria de mundo das forças plasmadoras, ou etérico.”
“Eu gostaria de descrever, por meio de uma comparação, a maneira como se vive no mundo etérico:
Um dedo é parte viva de nosso organismo. Se o cortamos, ele deixa de ser o que era: deixa de viver e morre. Se esse dedo tivesse consciência, diria: 'Eu sou algo apenas quando faço parte do organismo, mas não possuo essência autônoma.' é assim que deveríamos falar no momento em que o conhecimento imaginativo nos fizesse participar do mundo etérico. Aí não nos sentimos mais como seres separados e individualizados, mas como membros de todo o mundo ou cosmo etérico. Aprendemos que o que faz de nós indivíduos e personalidades é o fato de possuirmos um corpo físico. O corpo físico individualiza; faz de cada um de nós uma entidade isolada.
Mais tarde veremos que podemos ser individualizados também no plano espiritual.”

“ (…) o discípulo deve, mediante um esforço próprio, fazer desaparecer de sua consciência tudo o que havia conquistado: a imaginação, a visão do próprio panorama da vida; deve fazer com que a consciência se torne vazia. Só quando tivermos adquirido essa consciência esvaziada é que compreenderemos a verdadeira maneira de ser das coisas no mundo espiritual. Então ficamos sabendo que o que havíamos percebido antes não era ainda o mundo espiritual, mas apenas uma visão imaginativa desse mundo. Só agora, na etapa da consciência vazia, o mundo espiritual flui para dentro de nós, por meio do pensar 'apalpador', tal como o mundo físico entra em nós através dos sentidos.”

“Quando, porém, alcançamos a consciência vazia, nossa alma é tomada por um mero estado de vigília, e este pressupõe um certo silêncio e repouso. Este repouso pode ser caracterizado da seguinte maneira:
Imaginemos estarmos numa cidade barulhenta. (…) Resolvemos então sair da cidade e, a cada passo, o barulho diminui. (…) No fim, chegaremos a um bosque absolutamente silencioso, onde nada mais escutamos. Chegamos, por assim dizer, ao ponto zero da audibilidade.
(…) Imaginemos termos dinheiro na carteira; gastando cada dia uma parte, a quantidade diminui, da mesma forma como a audibilidade diminui ao nos afastarmos do centro da cidade. Chegará o dia em que nossa carteira estará vazia, situação que comparamos ao grau zero de audibilidade. Mas se quisermos continuar a comer, que deveremos fazer? Faremos dívidas. (…) Quanto dinheiro teremos então no bolso? Menos que zero. (…) Imaginemos nesta altura uma situação idêntica para o silêncio. Não haveria apenas a tranquilidade absoluta, o ponto zero do silêncio, mas o caminho continuaria – haveria o negativo da audibilidade, mais silencioso que o silêncio.
(…) Quando chegamos a essa audibilidade interior negativa, a esse silêncio mais intenso que o silêncio total, então estamos penetrando no mundo espiritual de uma forma tal que ele não apenas se nos torna visível, mas começa a soar. O que antes era apenas visto intensifica-se, através do som, para um mundo ainda mais vivo. Aí estamos bem dentro do mundo espiritual.”

“O grande sentimento cósmico de felicidade, que descrevi há pouco, transforma-se, neste momento em que estabelecemos aquela consciência vazia acompanhada de silêncio, numa dor não menos intensa, num sofrimento imenso da alma. Então passamos pela experiência de que o mundo é feito sobre o fundamento de uma dor cósmica, ou melhor, de um elemento cósmico que o homem só pode experimentar com profunda dor. E aprendemos a verdade (…) de que toda existência nasce, em última análise, da dor.”
“O plano em que ora chegamos depois de alcançar, além da imaginação, o silêncio total – esse plano em que se manifesta o mundo espiritual através das cores e dos sons, conforme indiquei -, é essencialmente diferente daquele que percebemos com os sentidos físicos. (…) É possível nos ambientarmos nesse mundo da inspiração, encontrando nele as origens de todas as coisas terrestres. Conforme já mencionei, nele encontramos nossa própria existência pré-terrestre. Precisando de uma terminologia (embora o nome em si não tenha relevância), tenho chamado esse mundo, situado além do imaginativo, de astral (…) e aquilo que carregamos em nós proveniente daquele plano e trazido para os corpos físico e etérico pode, por isso, ser chamado de corpo astral. Inserida neste encontramos, finalmente, a verdadeira organização para o eu humano. /...) o ser humano aparece, pois, composto de quatro membros, ou seja: os corpos físico, etérico (ou das forças plasmadoras), astral e a organização para o eu. Para se conhecer o eu é preciso fazer mais um passo na cognição superior, passo que tenho chamado de intuição em meus livros anteriores, notadamente em O conhecimento dos mundos superiores (A iniciação).


[continua]

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