A comunicação com o mundo espiritual
Ainda sobre os dois primeiros passos da
cognição por iniciação:
“O discípulo (…) não tem mais, à
sua frente, os pensamentos sem vida adquiridos na cognição passiva,
mas um mundo interior dinâmico que ele sente tal como o sangue que o
percorre ou a respiração que o permeia.”.
“Aí aquelas imagens – os
pensamentos de antes - (…) transformaram-se em autênticas
imaginações vivenciadas (…) em duas dimensões; mas não como se
estivéssemos diante de um quadro pintado no mundo físico – quem
os vê assim tem visões, mas não imaginações -, mas como se nós,
com nosso próprio ser (que teria perdido sua terceira dimensão),
nos estivéssemos movendo dentro delas.”
“O autêntico conhecimento superior
só existe quando, por exemplo, as cores vividas numa imaginação
real não são vistas, como o seriam no mundo físico, e sim
vivenciadas. (…) Sentimos o vermelho como algo que nos ataca, que
investe contra nós. (…) A cor verde nos proporciona uma
experiência de serenidade que não acarreta nem dor nem prazer. No
azul temos a sensação da devoção, do abandono. (…) quando algo
no mundo espiritual vem ao nosso encontro de um modo agressivo,
sentimos que isso corresponde à cor vermelha. Se algo provoca em nós
uma sensação de devoção, essa vivência corresponde àquela que
temos no mundo físico com as cores azul ou azul-violeta. Abreviando
nossa maneira de expressar-nos, dizemos então que tivemos, no mundo
espiritual, a experiência de um vermelho ou de um azul.”
“(...) essa passagem para o
supra-sensível, esse abandono visual que ao mesmo tempo constitui
uma vivência concreta, está sempre presente. É nessa vivência
concreta que sentimos o pensar vindo a ser um órgão tátil que
preenche todo o organismo humano: sentimo-nos como que
espiritualmente apalpando um mundo novo, que, na realidade, ainda não
é o verdadeiro mundo espiritual, mas aquele que eu chamaria de mundo
das forças plasmadoras, ou etérico.”
“Eu gostaria de descrever, por meio
de uma comparação, a maneira como se vive no mundo etérico:
Um dedo é parte viva de nosso
organismo. Se o cortamos, ele deixa de ser o que era: deixa de viver
e morre. Se esse dedo tivesse consciência, diria: 'Eu sou algo
apenas quando faço parte do organismo, mas não possuo essência
autônoma.' é assim que deveríamos falar no momento em que o
conhecimento imaginativo nos fizesse participar do mundo etérico. Aí
não nos sentimos mais como seres separados e individualizados, mas
como membros de todo o mundo ou cosmo etérico. Aprendemos que o que
faz de nós indivíduos e personalidades é o fato de possuirmos um
corpo físico. O corpo físico individualiza; faz de cada um de nós
uma entidade isolada.
Mais tarde veremos que podemos ser
individualizados também no plano espiritual.”
“ (…) o discípulo deve, mediante
um esforço próprio, fazer desaparecer de sua consciência tudo o
que havia conquistado: a imaginação, a visão do próprio panorama
da vida; deve fazer com que a consciência se torne vazia. Só quando
tivermos adquirido essa consciência esvaziada é que compreenderemos
a verdadeira maneira de ser das coisas no mundo espiritual. Então
ficamos sabendo que o que havíamos percebido antes não era ainda o
mundo espiritual, mas apenas uma visão imaginativa desse mundo. Só
agora, na etapa da consciência vazia, o mundo espiritual flui para
dentro de nós, por meio do pensar 'apalpador', tal como o mundo
físico entra em nós através dos sentidos.”
“Quando, porém, alcançamos a
consciência vazia, nossa alma é tomada por um mero estado de
vigília, e este pressupõe um certo silêncio e repouso. Este
repouso pode ser caracterizado da seguinte maneira:
Imaginemos estarmos numa cidade
barulhenta. (…) Resolvemos então sair da cidade e, a cada passo, o
barulho diminui. (…) No fim, chegaremos a um bosque absolutamente
silencioso, onde nada mais escutamos. Chegamos, por assim dizer, ao
ponto zero da audibilidade.
(…) Imaginemos termos dinheiro na
carteira; gastando cada dia uma parte, a quantidade diminui, da mesma
forma como a audibilidade diminui ao nos afastarmos do centro da
cidade. Chegará o dia em que nossa carteira estará vazia, situação
que comparamos ao grau zero de audibilidade. Mas se quisermos
continuar a comer, que deveremos fazer? Faremos dívidas. (…)
Quanto dinheiro teremos então no bolso? Menos que zero. (…)
Imaginemos nesta altura uma situação idêntica para o silêncio.
Não haveria apenas a tranquilidade absoluta, o ponto zero do
silêncio, mas o caminho continuaria – haveria o negativo da
audibilidade, mais silencioso que o silêncio.
(…) Quando chegamos a essa
audibilidade interior negativa, a esse silêncio mais intenso que o
silêncio total, então estamos penetrando no mundo espiritual de uma
forma tal que ele não apenas se nos torna visível, mas começa a
soar. O que antes era apenas visto intensifica-se, através do som,
para um mundo ainda mais vivo. Aí estamos bem dentro do mundo
espiritual.”
“O grande sentimento cósmico de
felicidade, que descrevi há pouco, transforma-se, neste momento em
que estabelecemos aquela consciência vazia acompanhada de silêncio,
numa dor não menos intensa, num sofrimento imenso da alma. Então
passamos pela experiência de que o mundo é feito sobre o fundamento
de uma dor cósmica, ou melhor, de um elemento cósmico que o homem
só pode experimentar com profunda dor. E aprendemos a verdade (…)
de que toda existência nasce, em última análise, da dor.”
“O plano em que ora chegamos depois
de alcançar, além da imaginação, o silêncio total – esse plano
em que se manifesta o mundo espiritual através das cores e dos sons,
conforme indiquei -, é essencialmente diferente daquele que
percebemos com os sentidos físicos. (…) É possível nos
ambientarmos nesse mundo da inspiração, encontrando nele as origens
de todas as coisas terrestres. Conforme já mencionei, nele
encontramos nossa própria existência pré-terrestre. Precisando de
uma terminologia (embora o nome em si não tenha relevância), tenho
chamado esse mundo, situado além do imaginativo, de astral (…) e
aquilo que carregamos em nós proveniente daquele plano e trazido
para os corpos físico e etérico pode, por isso, ser chamado de
corpo astral. Inserida neste encontramos, finalmente, a
verdadeira organização para o eu humano. /...) o ser humano
aparece, pois, composto de quatro membros, ou seja: os corpos físico,
etérico (ou das forças plasmadoras), astral e a organização para
o eu. Para se conhecer o eu é preciso fazer mais um passo na
cognição superior, passo que tenho chamado de intuição em meus
livros anteriores, notadamente em O conhecimento dos mundos
superiores (A iniciação).
[continua]
Sem comentários:
Enviar um comentário