Esse pequeno livro do Antigo Testamento e dos Escritos que integram os textos sagrados judaicos conta a história da mulher que lhe empresta o nome.
Nessa história, diga-se logo, os nomes têm significados relevantes para o enredo. Não sei por quais razões, a maioria deles foi transliterada ao português de um modo um tanto infeliz.
O texto começa por situar a ação na época em que julgavam os juízes.
Esse tipo de expressão, aparentemente redundante, é comum em hebraico. Já em português não é habitual dizer-se algo como perguntar uma pergunta.
O autor refere-se ao período em que as doze tribos de Israel eram lideradas por juízes, indivíduos que exerciam o poder administrativo, militar etc. Eram líderes de tribos. Eram os shofetim.
Além de situar a história na História, a expressão empresta ao texto um tom poético: julgavam os juízes é shefôt a-shofetim no texto original.
Por ser um período de fome em Belém de Judá (aliás Beit Lehem, ou seja Casa do Pão... haja ironia [esse h é aspirado, ou seja, soa como o j do espanhol europeu ou, se preferir, como o r dos cariocas. Vou utilizar um r sublinhado e em negrito para lembrar que se deve lê-lo do modo como o carioca descreve algo muito grande: enorme!]), a noroeste do Mar Morto, um senhor chamado Eli Mêler, com sua esposa Noomi (alguns judeus pronunciam Naomi) e seus dois filhos Marlon e Rilion foram viver a nordeste do Mar Morto, para os campos de Moav.
A questão dos nomes – e de suas transliterações para o português – é significativa. A começar pelo chefe da família. Nas Bíblias em português ele é tratado por Elimeleque, o que leva qualquer garoto a enxergar nele, logo de cara, um sujeito com o nariz a escorrer. Contudo, o nome dele, além de uma sonoridade muito melhor – Eli Mêler – significa meu Deus é o rei. Melhora um bocadinho, certo?
Também para a Noomi, que significa agradável, arrumaram a transliteração Noêmi, ou Noêmia. De onde tiraram esse e?
Quanto aos dois filhos, a raiz do nome Marlon significa doença e a do nome Rilion significa acabou por completo. A sequência da história explica o porquê de tais nomes. Também para eles reservaram transliterações sofríveis. Por exemplo, Malon e Quilion.
Mas voltemos à história. Eli Mêler morreu. Noomi ficou viúva mas acompanhada dos dois filhos.
Marlon e Rilion casaram-se com duas moavitas, Rut e Orpá, respectivamente.
Orpá significa nuca. Quanto ao nome Rut, o significado é duvidoso, mas a maioria prefere amizade.
Tudo corria muito bem, mas Marlon e Rilion também morreram.
Noomi, que já ouvira dizer que a abundância retornara a Beit Lerem (lembrar: r gutural, de carioca impressionado com o tamanho da coisa, da palavra enorme!), resolve voltar a sua terra. E libera suas noras para que retornem às casas de seus pais e continuem a viver junto a seu povo, pois ambas eram moavitas.
Ambas choram, não querem deixar de lado a sogra. Mas Orpá acaba por ceder e aceita voltar para a casa de seus pais. Daí seu nome, que quer dizer nuca, por ela ter dado as costas a Noomi.
Rut não acata a sugestão de Noomi. E, com sua atitude, produz um dos mais belos versículos da Bíblia:
Rut 1:16 (parcial)
Porque aonde quer que tu fores, irei eu.
E onde quer que tu mores, morarei.
Teu povo será meu povo:
E teu Deus será meu Deus.
(continua)
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