domingo, 6 de fevereiro de 2005
Projeto Osasco
Meu amigo Branco Leone pede licença para comentar o Projeto Osasco, modéstia à parte, de minha autoria.
Entendo não ter de dar licença nenhuma. Ele a pediu só por delicadeza. Mas penso ser útil dizer do que se trata, não só pra facilitar os comentários do Branco, favoráveis ou não ao projeto, como para - quem sabe - entusiasmar outros leitores deste blog. Vou já avisando que o projeto pode ser adaptado a outras circunstâncias e lugares, donde seu caráter, digamos, universal.
Vai daí, que comecei a trabalhar em Osasco há uns onze anos. Pra quem não sabe, Osasco é cidade vizinha a São Paulo, de caráter extremamente popular. Já escrevi algo sobre isso aqui.
Na época, 1.994, eu estava solteiríssimo, depois de dois casamentos mais ou menos formais e algumas experiências amorosas fracassadas. Todas, ou quase todas, as mulheres com as quais me relacionara eram de formação universitária, com todos os grilos que isso acarreta: dramas existenciais, dúvidas ontológicas, hesitações sócio-políticas, o scambau.
Logo nas primeiras vezes em que percorri as poucas quadras da rua Antonio Agu, principal rua de comércio de Osasco, uma loja atrás da outra, notei a enorme quantidade de meninas (20, 22, 24 anos, por aí)que povoavam aquele espaço urbano, todas (tá bom, muitas) fofíssimas, desejabilíssimas, manjares dos deuses.
Tenho de admitir que eu devia ter um preconceito enorme contra as chamadas "camadas menos favorecidas da população". Esperava que as balconistas daquelas lojas fossem todas horrendas, horrorosas, medonhas. Pois bem, meu preconceito inverteu de sinal. Comecei a me dar conta de que as mulheres acadêmicas com as quais costumava me relacionar eram, além de cheias de problemas insolúveis na cabeça, muito menos desejáveis, pra dizer o mínimo.
Foi desse - digamos assim - insight que nasceu o Projeto Osasco.
Pra quê ficar a perder precioso tempo (eu, que já beirava os cinqüenta e já não dispunha de tanta margem de manobra) com formandas da USP, quando estava ali, ao meu alcance, uma gama quase ilimitada de possibilidades bem mais atraentes.
É claro, pensei. A saída (ou a entrada, sei lá) é partir pra uma menininha dessas. Caso com ela, compro um bangalô no centro de Osasco, perto de meu local de trabalho, e está tudo resolvido.
Já pensou, acordar pela manhã sem ter de compartilhar dramas de consciência. Sair para trabalhar já com os apetites saciados (e como). Voltar na hora do almoço, encontrar tudo arrumadinho, comida fumegante à mesa. O máximo de esforço intelectual que me seria exigido:
- Tudo bem. amorzinho.
- Tudo jóia.
Terminadas as refeições (se é que me entendem), volta ao trabalho, alma lavada e passada.
À noite, assistir a um joguinho de futebol na TV. Ela não gosta de futebol. Não há problema. Providencio uma TV branco-e-preta pra ficar na cozinha (se é branco-e-preta ou branca-e-preta, ou branco-e-preto, ou o diabo, ela nem se importa). Ela assiste à novela. Eu vejo o jogo na sala. Tudo de acordo com a ordem natural das coisas. Sem complicações metafísicas. Sem turbulências emocionais.
Hora de dormir:
- Boa noite, amoreco.
- Té manhã.
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Pois bem. Porque não deu certo:
Um dia comecei a sair com uma menina fantástica (dentro da conceituação do Projeto Osasco). Nas primeiras vezes em que ela visitou o apartamento em que eu então morava, tudo foi muuuuiito bem. Melhor impossível. Até que, num infeliz dia, ela entrou em minha biblioteca. Começou a olhar os livros.
- Você gosta de literatura, disse. Posso trazer meu caderno de poesias pra ler pra você?
- Hmmmmm.
Próximo dia ela chegou armada com seus poemas.
Começou a leitura.
Lá se foi, por água abaixo, o Projeto Osasco.
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