sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

Rebeldia


Cada fase da vida tem seu estilo de rebeldia. Já fui estudante-anarquista, professor-comunista, analista de sistemas-alienado, executivo-sarcástico. Hoje, adotei atitudes rebeldes muito particulares. Daquelas que podem ser exercidas no aconchego do lar. Preguiça danada de sair de casa pra fazer qualquer coisa que expresse indignação.
Vou falar um pouco sobre elas. Como a audiência deste blog não é lá tão numerosa, não há risco de minhas idéias virarem epidemia.
Meu principal instrumento de rebeldia, atualmente, é o de não escovar os dentes antes de ir dormir.
É isso.
Quando estou horrorizado com o tratamento dado ao Iraque pelos norte-americanos, ou se fico desnorteado com a cara-de-pau do companheiro Lula, ou se morro de tédio com os noticiários em época de carnaval, revolto-me: vou pra cama sem escovar os dentes. E ainda dou uma espiada pra escova com ares de superioridade. Ela que pense que me obriga a qualquer ritual de higiene. Ledo engano. Só a uso se me apraz. E hoje não quero. Hoje vou dormir com os dentes um tanto conspurcados pelas refeições do dia. Me dá um pouco de aflição, é verdade. Passar a língua pelos dentes e não os sentir lisinhos, limpinhos. Mas o sentimento de transgressão é muito estimulante. Mais forte.
De manhã, é verdade, a escovação é mais caprichada. Pra compensar a rebeldia da véspera. Mas esse cuidado a mais não invalida o protesto noturno.
Ainda mudo as coisas neste planeta com minhas atitudes radicais.
Com certeza.

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