terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

The Gates

Como recebi milhares de e-mails (desconfio que todos enviados pelo Luis Ene) em protesto pela maneira tosca, quase diria brutal, segundo a qual foi aqui tratada a obra de arte em epígrafe (ver post abaixo: "Os portões"), resolvi contrabalançar. Aqui neste blog o valor mais alto é o desejo compulsivo de agradar ao leitor. Sendo assim, publicamos abaixo uma crítica favorável. O facto de ambas as críticas terem sido escritas pela mesma pessoa apenas significa que das duas uma: ou o autor deste blog é de uma versatilidade espantosa ou é absolutamente desprovido de opiniões próprias. Ou tudo ao mesmo tempo.

Ao iniciar-se o percurso, percebe-se de pronto o primeiro nível de significado da obra: o da sexualidade. Seqüência de penetrações, portão a portão, os hímens de nylon rompidos, a cor carnal que tudo domina.

São mais de 7.500 portões iguais
Mas a obra não se esgota em luxúria. A interminável repetição de um mesmo experimento traz à tona o tom característico da cientificidade. De facto, condição sine qua non da verdade científica é a possibilidade de reprodução laboratorial – vale dizer, em condições controladas – do evento revelador. A cada ultrapassagem, supera-se um véu, desvela-se o saber. Aqui, também, verdade é aletheia (αληθεια), desvelamento.
Filha inevitável do saber científico, irrompe a camada significante da tecnologia. A série é sua marca. Os objetos idênticos se sucedem, como em uma linha de produção.
Prazer, desvelamento, produção. Níveis presentes que não esgotam a obra. Esta é maior que a soma de suas partes. Supera a repetição de seus componentes.
A sinergia de elementos inusitados ao longo dos caminhos do parque cria algo maior: o vetor propriamente artístico do projeto se impõe ao longo do caminhar. A volúpia, a verdade, a voracidade produtiva cedem lugar ao valor estético, ao maravilhoso.

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