domingo, 23 de janeiro de 2005
Rumo à civilização
Trabalho em uma (não tão) pequena cidade satélite de São Paulo: Osasco. Penso que a principal característica de Osasco é ser popular. Explicando: o tom da cidade é dado por seus habitantes de mais baixa renda. Em função disso, Osasco é – pelo menos para mim – um excelente laboratório sociológico, digamos assim. O comportamento da turma de Osasco é o comportamento da maioria dos brasileiros. Se alguma civilização chegar a Osasco, chegará ao Brasil. E terminei por eleger a relação do osasquense com a faixa de pedestre (em Portugal é “passadeira”) como índice do nível de civilização de Osasco.
Por enquanto, a coisa está em zero a zero. O osasquense decididamente não tem a menor noção da utilidade daquelas faixas brancas pintadas no chão. Deve achar que são pra enfeitar o ambiente. De facto, fica bonitinha, a rua, com aquelas faixas brancas aqui e acolá. E é isso. Os carros passam em alta velocidade pelas passadeiras, as pessoas esperam um momento mais adequado para atravessarem a rua em disparada. E a vida segue seu curso.
Eis que, enquanto o idiota aqui sonha com o dia em que Osasco descobrirá qual a serventia das faixas de pedestre, me aparece um holandês maluco a querer acabar com todos os sinais de trânsito. Parece que o tal de Hans Monderman já anda com essas idéias por aí faz bastante tempo. Só o descobri agora, graças ao texto de hoje, na Folha de S.Paulo, do Clovis Rossi. Mas há bastante coisa na Internet sobre o que ele pretende instituir nas relações entre automóveis e pessoas. Veja isto, por exemplo.
E pronto. Percebo que talvez o fosso de civilização entre Osasco e Europa não acabe jamais. Ao contrário, talvez só se aprofunde. Parece que, no dia em que o osasquense descobrir a utilidade das faixas de pedestre, no dia em que puder atravessar calmamente a rua pelas passadeiras, enquanto os carros aguardam tranqüilamente sua vez, nesse mesmo dia, na Europa, as pessoas – se perguntadas – dirão: passadeira? Que é isso?!
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