quarta-feira, 26 de janeiro de 2005
Da educação dos limites e dos limites da educação
Estava para falar sobre isso qualquer hora dessas. Ao visitar o fábulas encontrei a discussão comendo solta neste post e resolvi colocar minha colher no assunto. Nesta recente viagem de mês e meio a Portugal (dezembro/janeiro), chamou nossa atenção - de minha mulher e minha - o comportamento de pais ao lidar com filhos em público. Nos restaurantes, nos hotéis, víamos crianças de várias idades "deitando e rolando" em cima de pais aparvalhados, cuja única reação diante das estrepolias dos miúdos era um sorriso amarelo.
Ora, penso que uma das características principais de um processo de educação é o gradativo estabelecimento de limites para que as crianças possam aprender a determinar o espaço que lhes cabe no mundo.
Se esse aprendizado inclui, vez em quando, umas palmadas, isso depende das circunstâncias, do momento. Confesso que, nas poucas vezes em que dei algumas palmadas em meus filhos ao longo da formação deles, ficou-me uma sensação de incompetência por ter necessitado chegar a esse ponto. Nem por isso me arrependo de tê-las dado (foram tão poucas que eles alegam não lembrar-se de quase nenhuma). Se eu era incompetente para - em dado instante - determinar limites à ação deles por meios verbais, paciência. O que não se pode é deixar de estabelecer os limites, deixá-los claros para a criança.
Talvez se possa resumir tudo: "menos mal uma palmada que nada".
A propósito, deixa contar a história que ouvi do Armindo Alves, em Vinhais. Para quem leu outros posts deste blog sobre nossa viagem, não é preciso dizer que o Armindo é o dono da casa em que ficámos hospedados na aldeia de Pinheiro Novo.
Ao lado da casa em que estávamos havia um galpão onde ficavam à noite muitos cabritos pertencentes a um casal vizinho. Pela manhã saíam a pastar, voltavam ao cair da tarde.
Pois bem. Antes de nós, esteve hospedado na casa do Armindo um casal do Porto. O casal tinha um filho de uns cinco anos. Desde o primeiro dia o miúdo afeiçoou-se aos cabritos. Brincava com eles sempre que possível. No dia de voltarem ao Porto, o menino sumiu.
Perplexidade, procura que procura, até que - depois de mobilizada toda a aldeia para encontrar o puto (aqui serve o português de Portugal e o do Brasil) - eis que ele foi descoberto lá no fundo do galpão dos cabritos, escondidinho.
Até aí, nada demais, fora o susto dos pais. A questão crucial vem agora. O casal, para conseguir convencer o garoto a voltar ao Porto, teve de comprar um cabrito e levá-lo até o Porto junto com o garoto, no automóvel, obviamente com as patas amarradas. Se os donos dos cabritos não quisessem vender um para acompanhar o guri até o Porto, será que o casal mudava para Pinheiro Novo?
Assim como é importante enfatizar a questão do aprendizado dos limites no processo educacional, não se pode esquecer que esse mesmo processo tem seus limites. Há fatores genéticos, ambientais, culturais, que determinam o maior ou menor alcance da educação de alguém. Mas aí, já entramos em conversa mais comprida.
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