sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

Hino de Jales


O Luis Ene, o Baeta, o Asulado, estão a discutir o hino que se propõe para o Algarve. Lembrei-me de algo ocorrido há quase cinqüenta anos, na pacata cidade de Santos-SP, rua Osvaldo Cruz, 460, bairro do Boqueirão, perto do cine Caiçara.
Minha irmã mais velha acabara de ser nomeada professora de “Canto Orfeônico” do Estado de São Paulo (aquilo que a gente chamava de "professora de música"). Escolheu a cidade de Jales para dar aulas. Cidade situada no extremo oeste do estado de São Paulo, perto das barrancas do rio Paraná, fronteira com o Mato Grosso (hoje, Mato Grosso do Sul). Eram 24 horas de trem de São Paulo até lá. Só havia vaga lá. Fazer o quê. Lá foi ela.
Escrevia regularmente para a família, a contar suas aventuras de desbravadora do oeste. Líamos suas cartas com avidez, sedentos pela saudade.
Belo dia, ela fez um pedido: haveria festa pelo aniversário da cidade e ela precisava formar um coral de alunos para cantar o hino de Jales. Problema: não havia hino da cidade. Pedia ela que meu pai escrevesse uma letra para que ela musicasse.
Papai folheou uma enciclopédia dos municípios brasileiros que havia em sua biblioteca. Leu sobre Jales. E escreveu os versos a serem musicados. Mandou-os à minha irmã. Ela pôs música naquilo e foi em frente.
Até hoje tenho curiosidade sobre isso. Será que o hino resistiu ao tempo? Será até hoje o hino de Jales? Duvido. Mas se for, é engraçado. É um hino que exalta as virtudes do município. Escrito por alguém que nunca esteve lá. Nem chegou perto. A não ser pelo coração, saudoso da filha.

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