terça-feira, 18 de janeiro de 2005
Sonho
Hoje acordei às 7 horas e logo percebi que a chuva fina que caía sobre São Paulo não amenizara muito o calor. O ambiente continuava sufocante. Apesar de não gostar nem um pouquinho desse clima, senti-me leve. Adivinhei que havia um esboço de sorriso em meu rosto enquanto tomava o café da manhã. Tudo porque tivera um sonho excelente.
Eu, acostumado a Natais quentes, sonhara que este Natal tinha sido de muita neve, vejam só. Que estivera com meus parentes em Passos, junto ao lume, na consoada e no almoço de 25.
Acho que regulei o ar condicionado do quarto para temperatura baixa demais e devo ter sentido frio durante a noite. Talvez, daí, o Natal com neve. Sei lá. O facto é que o sonho continuou e cada vez com mais neve. Tentei ir a Pinheiro Novo pelo norte, pela estrada que leva à Cisterna. Era tanta neve na estrada que senti medo e voltei. O sonho quase vira pesadelo. Mas consegui chegar a Pinheiro Novo passando por Vinhais, Tuizelo, Seixas e Pinheiro Velho. Como continuasse a nevar, resolvemos partir de Pinheiro Novo no dia 28. Descemos para Guarda, se é que se pode falar assim em relação à cidade mais alta de Portugal. Dormimos em um hotel muito simpático, apesar do nome ser um trocadilho de gosto duvidoso: Hotel Van Guarda. Dia seguinte almoçamos na praça da Sé.
Continuamos nosso caminho até Manteigas. Apesar de Manteigas ficar em um vale, a pousada em que nos hospedamos fica bem mais no alto. A visão que se tinha de Manteigas, lá de cima, era essa:
Há um tempinho atrás, coisa de 18.000 anos, esse vale no qual fica Manteigas e por onde passa o rio Zêzere, era ocupado por um glaciar (um dos sete, acho, que escorregavam serra da Estrela abaixo, por vales semelhantes). Lembrei-me do glaciar Perito Moreno, na Argentina. E me dei conta de que contemplar o Perito Moreno era quase como voltar no tempo na Serra da Estrela e ver um glaciar em lugar de Manteigas, lá embaixo, no Vale. Em sonho, como todo mundo sabe, vale tudo.
A Serra da Estrela quase se pode dizer que divide Portugal ao meio. E, ao olhar para o Norte, era como se víssemos tudo até a fronteira com a Espanha. Exagero de sonho, claro.
A passagem de ano foi muito agradável. Já não havia neve, para desapontamento dos turistas que para lá foram na esperança de vê-la cobrir a Serra de branco. Mas havia, na pousada, um músico para animar a noite de 31. E ele começou a tocar Djavan. À meia noite, sapecou Mamãe eu quero, Me dá um dinheiro aí, Aurora. Tudo música da minha infância. Afinal o sonho é meu. Sei que fica inverossímil, mas em meu sonho – desculpem – toco as músicas que eu bem entender. Dançamos bastante, nesse pequeno carnaval improvável.
E o sonho não acabava mais. Andamos muito pela Serra da Estrela. Almoçamos na aldeia de Sabugueiro, dita a aldeia mais alta de Portugal.
Noutro dia, o almoço foi em Folgosinho, outra aldeia incrustada na serra. O restaurante Albertino não tem cardápio. Senta-se à mesa e os garçons vão pondo diante da gente pratos e mais pratos de carnes deliciosas. Tudo regado a vinho tinto. Da casa, Ordisi, da casa.
Dada por conhecida a Serra (em sonhos, sou mais pretensioso do que quando acordado), partimos em direção a Évora. Cidade deslumbrante, na qual demos folga ao carro e ficamos uns quatro dias a andar a pé. Revisitado o Fialho, conhecemos o Luar de Janeiro (melhor ainda que o Fialho).
Depois de Évora, Olhão. Passeios pelo sotavento algarvio. Um pouco de Espanha: Ayamonte, em particular Isla Canela.
E vejam só o que dá ficar a ler blogs muito tempo. Sonhei que me encontrava com Susana Paixão, José Carlos Barros, Luis Ene, Asulado e Antonio Baeta. Pode?
Foi um sábado magnífico. Inesquecível.
Passeamos pela ria Formosa, acompanhados pelas gaivotas. E contemplamos um por-de-sol esplêndido.
Na travessia de barco, lembro de alguém dizer: “Alexandre Soares Silva é o maior blogger do mundo”.
Depois de visitar primos em Santiago do Cacem, chegamos a Lisboa. Houve tempo, antes de acordar, de visitar Cascais.
Não foi à toa que acordei feliz.
Agora, ao trabalho. Terminado o sonho, restam lembranças a serem saboreadas pelo paladar da memória.
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