sábado, 30 de outubro de 2004

A solidão



Quando Serginho caiu no chão daquele estádio de futebol, eram dezenas de pessoas ali à sua volta, no campo, milhares nas arquibancadas, milhões a verem tudo pela TV.
Mas ele caiu só. Integralmente só.
Estava ligado no jogo. Sintonizado no curso da bola. Preocupado com idéias táticas. A quem marcar, como desmarcar-se. Estava em sociedade. Jogava um jogo de conjunto. Junto com outros. De repente, sentiu algo, dobrou-se para frente.
E ficou só. Só com sua dor. A dor que elimina o outro. Que se torna tudo.
Serginho era uma lateral esquerdo dos melhores que já vi jogar. E olha que vi Newton Santos, vi Junior, vi Serginho (do São Paulo, hoje no Milan), vi Roberto Carlos. Mas esse Serginho era muito bom. Jogador que jogava para a equipe. Que sabia decidir.
De repente, caiu. E, quando caiu, caiu só.
Sem comparações, sem paradigmas. Simplesmente caiu.
A gente vive a se socializar, passa a vida a relacionar-se. Disputa o amor dos pais. Corre atrás da aceitação dos amigos. Ama grandes amores. Procria. Trabalha. Cria. Desmancha-se pelos filhos. Eventualmente busca o Poder. Muitas vezes corre atrás de sua proteção. Sobrevive, enfim.
E um dia cai.
Só.

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