sexta-feira, 27 de agosto de 2004

Era uma vez - VIII
Mais Zezinho



De repente, num sábado em que a visita tinha mexido muito com a cabeça do cara (as visitas aos presos no presídio Tiradentes eram aos sábados) e era justo o dia do cara na faxina, tinha que limpar a cela, lavar banheiro e a cabeça pesada, a família, os amigos, tudo desabando ao mesmo tempo sobre o cara e ter que lavar privada, limpar assoalho, lavar louça. Aquela prisão que não mais acabava, o cara não agüentava mais, mas porra, que fazer, a tranca não abria, era agüentar e agüentar. Era a mulher, o abraço, o tesão reprimido, as conversas sobre um futuro que ele não sabia se haveria, o tesão, ele não sabia o que haveria, a dor da separação, essa sim real, pesada como o balde de água pra despejar naquela merda daquela privada.
E, sem mais, Zezinho descia do seu mocó, apagava o cigarro no cinzeiro de lata, e, com aquela “delicadeza” que a vida lhe outorgara, chegava junto, dizia pro cara: vai, seu puto. Vai pro mocó. Tua cara tá horrível. Deixa que eu faço isso. Não enche o saco. Vai. Esquece.
E lavava, limpava, arrumava. Assobiando.
Feliz por ser.
Zezinho.

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