domingo, 22 de agosto de 2004

Era uma vez - VII
Ainda Zezinho



A promiscuidade é inevitável, na prisão. O banheiro não tem portas, as janelas não têm venezianas, nem vidros, as luzes nunca se apagam, tudo é devassado.
Comecei por admirar em Zezinho a extraordinária capacidade de adaptação a tudo isso. É como se sempre tivesse vivido em tais circunstâncias.
A comida quase insuportável que tínhamos de comer no Dops (lá as famílias não podiam levar nada) mostrava suas conseqüências na hora em que alguém ia ao banheiro devolvê-la ao lugar de onde nunca deveria ter saído. O ambiente, sem muita ventilação, tornava-se irrespirável.
Não sei se foi Zezinho que a inventou. Mas, ao menos, ele a institucionalizou: a intermediária.Quando a coisa atingia o paroxismo, ele gritava para quem estivesse no banheiro:
- Dá uma intermediária!
Era uma descarga de água em meio ao ‘serviço’. Melhorava bastante as condições atmosféricas do planeta.

(mais Zezinho qualquer hora dessas)


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