quinta-feira, 29 de setembro de 2005
São 2,5 pra lá, 2,5 pra cá
Todo dia, lá pelas 10 e meia, onze horas (que pro meu organismo ainda são cinco, seis da manhã), faço caminhada na Promenade des Anglais. Dois quilômetros e meio em direção ao aeroporto e a inevitável volta.
Qualquer hora já vou saber de cor os nomes de todas as praias, com suas areias recobertas de cascalho. Conto pra vocês, então.
Do alto da Colina do Castelo, berço da cidade, dá pra ver tudo. Vejam:
A praia:
O miolo da cidade:
Aliás, essa colina é muito bonita. Tem até uma pequena cachoeira:
Esta vista também é deslumbrante:
Já, já, eu volto.
E eu não sabia
Meu amigo José Carlos Barros é um poeta, pintor, que veio escorregando pela lei da gravidade lá de Boticas, no norte de Portugal, estudou arquitetura em Évora e deslizou até Cacela Velha, no Algarve, onde além de tudo mais é empreendedor de turismo rural.
Pessoa magnífica.
Eu só não sabia que tinha sua própria empresa de cartões de crédito.
(brincadeirinha, brincadeirinha)
segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Usos e costumes
Sábado, noite, vamos jantar. Tudo quanto é restaurante de Nice está lotado. Enfim, um lugarzinho livre em um. Bênção dos céus. Trata-se do Terres de Truffes. Nele, sob um tinto Chateau Miraval (se não erro, 2002), sabor amadeirado (existe isso?), comi trufas (sei que vou ser esnobado por fazer tal confissão, mas foi a primeira vez nos últimos sessenta anos). Quase passei a crer em deus. A questão é que se alguém inventou a trufa, esse alguém tinha um gosto divino.
Meu primo Vasco, transmontano legítimo (não como eu, um transmontano implantado artificialmente em solo nordestino), insiste sempre que eu coma níscaros, que nascem ao pé dos castanheiros lá por volta de outubro, novembro. Mas não. Nunca estou por lá nessas épocas das castanhas. Níscaros devem ser como trufas. Ambrosias dos deuses. Devia ser considerado usurpação, comê-las.
Cometi o pecado, por primeiro. Confesso, desde já. Não hesitarei em voltar a pecar.
& & & & & & & & & & & & & &
Domingo, noite, após uma paella, paramos em um barzinho pra tomar cognac. Servem o dito cujo acompanhado de um tablete de açúcar e uma colher de chá.
Todos os deuses são testemunha de que sou indivíduo calmo, de índole pacífica.
Mas tudo tem limite (os matemáticos não concordarão com tal afirmação, mas deixa pra lá).
Se um cidadão, de livre e espontânea vontade, jogar o tablete de açúcar dentro de seu cálice de cognac e mexer com a colher, perto de mim, juro:
Encho o cara de porrada. Isso lá é coisa que se faça?!
Chegando a Nice
Claro que não havia ninguém no aeroporto de Milão pra nos entregar o carro. Afinal, dizem que os italianos são brasileiros que deram certo. Bastou esperar uma hora e meia e chegou a simpática senhora do dito carro. Como só falava italiano e eu só sabia dizer Prego, teve de ser tudo na mímica. Mas italiano é bom nisso, de falar com os braços e mãos.
Aí, foi só percorrer a A26 até perto de Gênova, dobrar à direita na A10 (se você não dobrar, mergulha no Mediterrâneo) e conhecer a estrada que tem – seguramente – o maior número de túneis do planeta. É um túnel grudado no outro.
Chegando a Nice, maravilha. Do quarto do hotel, vê-se o Jardin Albert 1er.
A rua da praia é a Promenade des Anglais.
Dele você vê o mar azul de Nice. Um barquinho e ... falta o violão. Mas, diz a baixinha, Copacabana foi inspirada em Nice.
Agora, o pessoal na praia, toda de pedra, tendo que sentar em esteiras de espuma pra amaciar o impacto, lembra o velho ditado: passarinho que come pedra, sabe o cu que tem.
Como em (quase) todo lugar, há monumentos,
prédios de arquitetura magnífica
e pequena orquestra a tocar no coreto da praça, tarde de domingo.
Não há como negar.
Nice is nice.
No ar
Depois de algumas horas de vôo, estamos quase sobre Casablanca. Não fosse noite, olharia pela janelinha e veria Humphrey Bogart dando adeus a Ingrid Bergman no aeroporto. E dizendo: Ainda temos Paris (ou algo assim. Afinal, parodiando Woody Allen, o filme é inesquecível mas eu não me lembro muito bem).
Graças à tripulação italiana começo a aprender minhas primeiras palavras na língua da bota. Antes de tudo: Prego. Prego serve pra tudo. Quando você oferece algo, diz Prego. Aí a pessoa recebe o que você ofereceu, agradece e você diz de nada, ou melhor, prego.
Lá pelas tantas, descobri que chá se diz té (e aberto). Donde concluo que ‘Té logo significa Chá imediatamente (podre, essa).
Post referente a sábado, 24 de setembro.
sexta-feira, 23 de setembro de 2005
Malas (quase) prontas
quarta-feira, 21 de setembro de 2005
Made in South America
Nosso melhor produto de exportação, o vaníloquo LuLLa, poderia passar a apresentar-se – em seus passeios internacionais – no melhor estilo Carmen Miranda: chapéu de frutas tropicais, em particular uma enorme Marilena Abacachauí.
Patrimônio Nacional
Você acharia normal um carioca advogar a derrubada do Pão de Açúcar porque tira a visão do horizonte?
Pois é. Há coisas que têm de ficar por aí, pra não descaracterizar a paisagem.
O PT, por exemplo, com seus professores (Luizinho, Delúbio, Genoíno), seus guerreiros (Dirceu, Devanir), seus sonhadores (Suplicy) etc etc etc, tem de continuar a existir. São coisa nossa.
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Presidente ou Tesoureiro?
No domingo passado, 18/09, o PT realizou eleições de uma nova direção nacional (além das estaduais e municipais).
Não entendo do tal PED (Processo de Eleições Diretas), nem quero entender.
Uma coisa me chama a atenção. Toda a imprensa e o próprio PT ressaltam o tempo todo os candidatos à presidência do partido. Acho que há aí um equívoco:
Se, como todo grão-petista insiste em afirmar, ninguém no PT sabia de nada a respeito da lambança que o tesoureiro fazia, parece claro que o que interessa é a eleição do tesoureiro.
O resto é meramente decorativo.
segunda-feira, 19 de setembro de 2005
De heróis e vilões
Lá por volta de 1982, 83, eu trabalhava parte da semana em São Paulo, parte no Rio de Janeiro. No Rio, por trabalhar no Flamengo, costumava ir jantar no Lamas, restaurante tradicional, mais de um século de existência, ponto de encontro de artistas, políticos, celebridades em geral.
Vai daí, numa noite em que saboreava um filé-já-não-me-lembro-como, notei, em mesa próxima, um casal de meia idade, com a filha adolescente, a trocar cochichos e alternar espiadelas em minha direção.
Achei aquilo curioso mas não dei maior importância à coisa.
Neste ponto, preciso explicar: naquela época, estava para ser julgado um caso famoso. Um conhecido cantor brega (Lindomar Castilho) assassinara a ex-mulher, também cantora (Eliane de Grammont). As feministas elegeram Eliane, e sua morte, como símbolo de sua luta. A história toda era realmente chocante: ela já estava separada do cantor. Fazia apresentações em uma casa noturna em São Paulo. Um dia, Lindomar entrou no bar, durante a apresentação de Eliane e atirou nela, inconformado com a separação.
Por que lembrar tudo isso? Simples. Eu era, nessa época, bastante parecido com Lindomar. Já havia sido confundido com ele por vários motoristas de táxis.
Voltemos ao Lamas. Depois de ser olhado várias vezes pelo casal da mesa próxima e por sua filha adolescente, me dei conta do que acontecia: estava sendo confundido – mais uma vez – com Lindomar Castilho. Paciência. Não sendo apedrejado, tudo bem.
Para minha total estupefação, quando o trio terminou a refeição e preparava-se para abandonar o restaurante, o homem, ao invés de dirigir-se para a saída, veio na direção contrária, em minha direção. Chegou junto à minha mesa. Não disse uma palavra, não emitiu nenhum som. Simplesmente curvou-se, respeitosamente, numa tosca atitude de reverência. Depois virou as costas lentamente e foi embora, com a família.
domingo, 18 de setembro de 2005
Invasões Bárbaras
Por ser um tanto atrasadinho, só agora assisti ao dito cujo filme. Não vou comentá-lo. Se quiser, há comentários aqui.
Quem avisa amigo é. Se ainda não viu, assista.
sábado, 17 de setembro de 2005
Estado laico?
Há um ano, o Jornal da AJURIS (Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul) publicou artigo do juiz Roberto Arriada Lorea (ver página 5 do jornal) em defesa de um Poder Judiciário laico. A pergunta que ele faz, ao final, é: “se o crucifixo não está arrolado dentre os símbolos nacionais (definidos no artigo 13, § 1º, da CF [Constituição Federal]), qual a justificativa para que o Supremo Tribunal Federal ostente em seu plenário um símbolo cujo significado remete à Igreja Católica?”
A Folha de S.Paulo, hoje, publica matéria sobre o assunto (para assinantes da Folha, ler aqui).
O que me espanta, na matéria da Folha, é a reação de algumas pessoas.
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Osvaldo Stefanello: “O judiciário tem coisas mais importantes com que se preocupar do que com símbolos nas paredes”. Sem comentários.
O padre Roberto Paz, vigário judicial do Tribunal Eclesiástico Regional (seje lá o que seje isso): “O símbolo religioso no tribunal nos lembra que qualquer decisão judicial tem Deus por testemunha. Não é apenas para os cristãos que Cristo é um referencial”.
Se eu viver duzentos anos não será tempo suficiente para que eu deixe de me surpreender com a absoluta falta de respeito que certos religiosos nutrem por ateus e agnósticos.
Eu, por ser ateu, simplesmente não existo, na opinião (claro que indiscutivelmente verdadeira) do padre Paz.
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
Who cares
No dia 11/08/2005. o publicitário Duda Mendonça disse pra todo mundo, pela TV, que recebera uma grana do PT, via Marcos Valério, sem pagar o imposto sobre essa renda.
Se ele recebeu lá fora, aqui dentro ou em Marte, não vem ao caso.
Recebeu. Confessou que recebeu. Insistiu na tese de que seu deslize era meramente fiscal.
Dia seguinte, era de se esperar que a Receita Federal, na defesa do Erário, partisse pra cima do infrator confesso, para autuá-lo. Qual foi a atitude da Receita?
Bulhufas. Nadinha de nada.
Trinta e três dias depois, ou seja, anteontem, 13/09/2005, Duda pagou espontaneamente o tributo devido (pelo menos o que ele acha que deve).
Você pode pensar: pagou, deixa pra lá. Águas passadas.
Não é bem assim.
Quando alguém paga um tributo espontaneamente, com atraso, faz o seguinte:
paga o valor do tributo, mais os juros decorridos do vencimento até o pagamento, mais 20% de multa de mora.
Já se a fiscalização flagra o cidadão antes de ele resolver pagar, a coisa muda um pouco: ele tem de pagar o tributo, mais os juros, mais 75% de multa (se o cara pagar no prazo de 30 dias cai pra 37,5%).
Vai daí, a diferença é de 17,5% do tributo devido. Esse é o custo de não pagar espontaneamente.
Vamos imaginar (não fica muito longe da realidade) que – do total que o Duda pagou espontaneamente - 75% eram tributo, 15% eram multa (20% do tributo) e os 10% restantes, juros.
Como ele pagou 4 milhões e 300 mil, o tributo foi de 3 milhões e 225 mil (75% do total pago) e a multa foi de 645 mil reais (15% do total pago). Se a fiscalização fizesse seu papel e o autuasse, ele teria de pagar os 37,5% do valor do tributo como multa de ofício. Desembolsaria, de multa, um milhão, duzentos e dez mil reais. Ou seja, poupou, ou melhor, deixaram que ele poupasse 565 mil reais.
Esse meio milhãozinho evaporou no ar.
Por que? Porque ninguém tirou o traseiro da cadeira pra iniciar uma fiscalização no infrator confesso.
quinta-feira, 15 de setembro de 2005
Cassaram a oratória
Não tenho opinião sobre se Bob Jefferson devia ou não ter sido cassado. Há muito tempo desisti da política brasileira. Entendo que o Brasil só será um país decente muito aos pouquinhos, à medida que o povo deixe de ter uma maioria de analfabetos funcionais e aprenda tabuada. E isso, se acontecer algum dia, vai ser lááááá no futuro distante.
Só lastimo que o Parlamento tenha perdido seu talvez único orador de talento. O talvez aí vai por excesso de zelo. Eu não conheço outro. Pedro Simon? Não, isso – pra mim – não é orador. Está mais pra papo de boteco.
Eu, que adoro ficar a assistir às sessões das CPI, sou obrigado a ouvir coisas como houveram problemas, V. EX.ª tem lá vossas razões etc etc etc. Isso quando não é a turma do PT, que tem orgulho de falar pobrema, pranalto e o PT não róba nem deixa robá.Quem tem tal desprezo pela própria língua pode bem parlamentar?
terça-feira, 13 de setembro de 2005
Fim de semana em Floripa
Pra quem não conhece, um mapinha da ilha dos manezinhos:
É tudo muito simples: no centro do mapa, onde a ilha mais se aproxima do continente, é o centro de Floripa. A faixa de mar acima do Centro é a Baía Norte. A de baixo, Baía Sul.
Minha irmãzinha, que completa setentinha agora, quarta (14/09), mora no continente, pouca coisa abaixo da ponte que une ilha e continente (no Centro).
Pra vocês ficarem com água na boca:
Do hotel em que eu estava, na Baía Norte, na ilha, fotografei (com céu carregado de nuvens) virado pro norte:
virado pro sul:
Aí, de repente, o sol iluminou o Centro, através de uma fresta nas nuvens. E eu peguei a tempo:
E pra não dizer que é tudo perfeito, notem que já há excesso de gente:
A Lagoa da Conceição, aquela maior de todas, mais a Leste, um tanto acima do Centro:
voltado pro sul, você vê isto:
Voltado pro norte, isto:
E, se você tiver sorte, como eu tive, vê isto:
Até mais.
sexta-feira, 9 de setembro de 2005
Moral & Corrupção & Políticos & Nós
Essa crise política do Brasil tem uma faceta que me incomoda particularmente: ela acordou os moralistas de todos os matizes. E eles pintam a coisa assim: há um bando de políticos corruptos a envergonhar uma nação de varões de Plutarco.
Ora, de cara lembremos que eles são nossos representantes. Se nosso sistema representativo tem lá seus defeitos, há distorções nessa representatividade, mas nossa imagem está lá no Congresso, descontadas deformações quase insignificantes. Você já se olhou em espelhos não muito planos e sabe do que estou falando: sua imagem fica um pouquinho torta aqui ou acolá, mas você se reconhece no espelho. É isso.
A corrupção que lá gorjeia, também gorjeia entre nós, meros eleitores. Arrisco afirmar que o modelo de distribuição normal talvez se aplique ao grau de corrupção da população. O gráfico abaixo ilustra a idéia:
Conto uma historinha: há muitos anos, fui trabalhar em uma empresa que, como quase toda empresa brasileira, era familiar. O velho criara a empresa e a deixara como herança pro filho. Este era um sujeito excepcionalmente inteligente, dinâmico etc e tal e a empresa ia de vento em popa. Fui contratado para montar a área de sistemas. Por ter sido bem sucedido nisso, me pediram que escolhesse alguém para me substituir na área de sistemas e partisse para estruturar a área administrativa, que era um saco de gatos. Um dos problemas que encontrei foi um setor de compras chefiado por um indivíduo que já estava na empresa havia 25 anos e roubava despudoradamente. Tinha de demiti-lo. Mas, como em rio de piranha jacaré nada de costas, fui consultar o dono da empresa. Ele precisaria segurar o rojão quando eu demitisse o comprador. Não fosse ele dar pra trás e me deixar desmoralizado.
Ele me deu força e demiti o cara.
Até aí, nada de extraordinário. O surpreendente, para mim, foi que o presidente, além de me confessar que já sabia das estripulias do empregado havia muitos anos, hesitou muito antes de autorizar a demissão. A dúvida dele era: o sujeito fazia as compras de supermercado pra sua (do presidente) mãe, a matriarca da família, desde sempre, com fidelidade canina. Não esquecia nem mesmo as latas de óleo de semente de girassol, tão difíceis de encontrar e das quais ela não abria mão.
quinta-feira, 8 de setembro de 2005
Estamos quase lá
A Folha de S.Paulo, em sua edição de hoje, comemora a melhora do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil. Ano passado, era 0,790. Passou, este ano, a 0,792. Ressalta, a Folha, em primeira página, que o país está “aproximando-se do nível de desenvolvimento elevado (mais de 0,800).”.
Considerando que Portugal tem um valor de IDH de 0,904 e levando-se em conta esse avanço de 0,002 no IDH brasileiro, mantido o atual ritmo de progresso chegaremos ao nível português em 56 aninhos, ou seja, em 2.061. Isso se Portugal fizer o favor de ficar absolutamente estagnado durante o próximo meio século.
Por essas e por outras é que pretendo mudar pra Trás-os-Montes um pouco antes disso.
sábado, 3 de setembro de 2005
Era uma vez - XXVIII
Da Liberdade
Inesquecíveis, os momentos passados junto à porta do xadrez, mãos crispadas nas barras do guichê, olhar fixo na parede da ala, superfície engordurada, manchada sabe-se lá de quê.
A sensação era nítida: não dá mais para suportar. É preciso sair, sumir deste lugar fétido.
Mas não há como. Não se sabe quando, nem mesmo se.
Não há nem mesmo julgamento marcado. Só há espera. Só há aquela parede, aquelas manchas, aquele sem sentido.
Não quero. Não posso mais olhar ininterruptamente para essa parede.
Quantos dias já estive aqui, nesta mesma posição, nesta idêntica expectativa.
Quantas perguntas sem resposta, quanta dor a escoar por este corredor e suas paredes. Talvez seja essa a razão das manchas, da gordura. Talvez tudo isso seja dor consubstanciada, como no milagre da eucaristia.
Liberdade. Quero isso. Liberdade.
Liberdade de ser cotidiano, de entrar e sair da padaria com meus pãezinhos matinais. Liberdade de ir até a esquina buscar um jornal ou alguns jogos de palavras cruzadas com os quais matar o tempo, esse precioso tempo que na prisão decorre vazio, gira em falso.
Ser banal, corriqueiro, ridículo, medíocre, acomodado, alegre, triste, insosso, preguiçoso, apressado, inconseqüente.
Livre.
Que fazer com um filho prodígio?
Nada, meu amigo. Nada, minha amiga.
Primeiro, vamos deixar claro: não existe um monte de gente ganhando na loteria todo dia. Ou seja, prodígio, prodígio mesmo, só muuuuiiiito de vez em quando.
Quando Pascal (Blaise Pascal, 1623 – 1662) era pequeno, seu pai proibiu seu acesso a livros de matemática, interessado em que o garoto se dedicasse mais às humanidades. Quando deu pela coisa, o pequeno Blaise já estava refazendo, por conta própria, a geometria euclidiana. Só aí o pai rendeu-se ao destino e deixou que o menino estudasse os Elementos, de Euclides.
Se seu queridinho for realmente um gênio, não se preocupe. Ele vai descobrir como se desenvolver. Pra isso ele é gênio, certo?
Mas, na quase totalidade dos presumidos prodígios, vale a observação de mestre Millor: menino prodígio é aquele que – aos cinco anos – toca piano tão bem quanto tocará aos trinta.
Subscrever:
Mensagens (Atom)