sexta-feira, 9 de setembro de 2005
Moral & Corrupção & Políticos & Nós
Essa crise política do Brasil tem uma faceta que me incomoda particularmente: ela acordou os moralistas de todos os matizes. E eles pintam a coisa assim: há um bando de políticos corruptos a envergonhar uma nação de varões de Plutarco.
Ora, de cara lembremos que eles são nossos representantes. Se nosso sistema representativo tem lá seus defeitos, há distorções nessa representatividade, mas nossa imagem está lá no Congresso, descontadas deformações quase insignificantes. Você já se olhou em espelhos não muito planos e sabe do que estou falando: sua imagem fica um pouquinho torta aqui ou acolá, mas você se reconhece no espelho. É isso.
A corrupção que lá gorjeia, também gorjeia entre nós, meros eleitores. Arrisco afirmar que o modelo de distribuição normal talvez se aplique ao grau de corrupção da população. O gráfico abaixo ilustra a idéia:
Conto uma historinha: há muitos anos, fui trabalhar em uma empresa que, como quase toda empresa brasileira, era familiar. O velho criara a empresa e a deixara como herança pro filho. Este era um sujeito excepcionalmente inteligente, dinâmico etc e tal e a empresa ia de vento em popa. Fui contratado para montar a área de sistemas. Por ter sido bem sucedido nisso, me pediram que escolhesse alguém para me substituir na área de sistemas e partisse para estruturar a área administrativa, que era um saco de gatos. Um dos problemas que encontrei foi um setor de compras chefiado por um indivíduo que já estava na empresa havia 25 anos e roubava despudoradamente. Tinha de demiti-lo. Mas, como em rio de piranha jacaré nada de costas, fui consultar o dono da empresa. Ele precisaria segurar o rojão quando eu demitisse o comprador. Não fosse ele dar pra trás e me deixar desmoralizado.
Ele me deu força e demiti o cara.
Até aí, nada de extraordinário. O surpreendente, para mim, foi que o presidente, além de me confessar que já sabia das estripulias do empregado havia muitos anos, hesitou muito antes de autorizar a demissão. A dúvida dele era: o sujeito fazia as compras de supermercado pra sua (do presidente) mãe, a matriarca da família, desde sempre, com fidelidade canina. Não esquecia nem mesmo as latas de óleo de semente de girassol, tão difíceis de encontrar e das quais ela não abria mão.
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