segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Usos e costumes


Sábado, noite, vamos jantar. Tudo quanto é restaurante de Nice está lotado. Enfim, um lugarzinho livre em um. Bênção dos céus. Trata-se do Terres de Truffes. Nele, sob um tinto Chateau Miraval (se não erro, 2002), sabor amadeirado (existe isso?), comi trufas (sei que vou ser esnobado por fazer tal confissão, mas foi a primeira vez nos últimos sessenta anos). Quase passei a crer em deus. A questão é que se alguém inventou a trufa, esse alguém tinha um gosto divino.
Meu primo Vasco, transmontano legítimo (não como eu, um transmontano implantado artificialmente em solo nordestino), insiste sempre que eu coma níscaros, que nascem ao pé dos castanheiros lá por volta de outubro, novembro. Mas não. Nunca estou por lá nessas épocas das castanhas. Níscaros devem ser como trufas. Ambrosias dos deuses. Devia ser considerado usurpação, comê-las.
Cometi o pecado, por primeiro. Confesso, desde já. Não hesitarei em voltar a pecar.

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Domingo, noite, após uma paella, paramos em um barzinho pra tomar cognac. Servem o dito cujo acompanhado de um tablete de açúcar e uma colher de chá.
Todos os deuses são testemunha de que sou indivíduo calmo, de índole pacífica.
Mas tudo tem limite (os matemáticos não concordarão com tal afirmação, mas deixa pra lá).
Se um cidadão, de livre e espontânea vontade, jogar o tablete de açúcar dentro de seu cálice de cognac e mexer com a colher, perto de mim, juro:
Encho o cara de porrada. Isso lá é coisa que se faça?!

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