sábado, 30 de julho de 2005

Elas por elas


Primeiro, veio à tona o esquema Marcos Valério / Delúbio Soares. Pagamentos a deputados para votarem a favor do governo do PT, para mudarem de partido etc etc.
Depois, emergiu a informação de que o tal esquema já existia desde 1.998, só que ligado aos tucanos mineiros.
Vai daí, os tucanos, que estavam já grudados na jugular do PT, refluíram. Começou a pairar no ar uma idéia de acordo geral, geléia geral.
Lembrei daquela velha piada dos dois portugueses que caminhavam por uma trilha. Como a piada é da idade da pedra, resumo:
De repente, aparece no caminho um montinho de bosta.
- Manel. Duvido que comas essa bosta. Te dou 2 mil contos pra que comas.
O Manoel não se fez de rogado. Comeu e embolsou a grana.
Continuaram a viagem.
Mais adiante, outro monte de bosta.
- Ah. Agora, quero ver, ó Joaquim. E tu? Comes essa bosta? Quero ver. Dou-te 2 mil contos.
Joaquim não deixou por menos. Traçou a bosta e faturou o pagamento.
Depois de mais alguns quilômetros, param ambos, olham-se e concluem:
- Não é que comemos bosta de graça?!?
É o que nossos ilustres deputados estão fadados a fazer.
Bom apetite!

quinta-feira, 28 de julho de 2005

Um brinde à democracia


Hoje faz 34 anos que fui preso.
Isso lá é coisa que se comemore? dirá você.
De certa forma, sim. Por mais avacalhada que esteja nossa democracia, ela é muuuiito melhor que qualquer ditadura.
Por isso, um brinde à democracia!

Caipirinha de cachaça excelente. Com lima da pérsia


VIVA!

Era uma vez - XXVII
As organizações para-partidárias (OPP)


Faz parte do esquemão de um partido marxista-leninista. Organizam-se os simpatizantes que gravitam em torno do partido em grupos de estudo, as organizações para-partidárias (OPP). Nas OPP estudam-se O Capital, o Manifesto Comunista, o 18 Brumário, de Marx, o Que Fazer (cap 2), de Lênin, análises conjunturais publicadas em jornais do partido, coisas assim.
Antes de entrar no POC, fiz parte de uma OPP. Foi a parte mais fecunda de minha militância. Sob a orientação de Reinaldo Lobo, estudamos bastante. Depois, veio Luis Eduardo Merlino, o Nicolau. A ênfase passou a ser mais operacional. Pudera. Reinaldo era (e é. Hoje, como psicanalista) um pensador sofisticado, diria um intelectual, não estivesse essa palavra tão desgastada pelo uso abusivo. Nicolau era um homem de ação. Queria preparar a revolução. Não discutir seus pressupostos ou sua oportunidade conjuntural.
Depois que me tornei militante do POC, uma de minhas atribuições passou a ser a supervisão de uma OPP. Passaram-me um pequeno grupo (quatro ou cinco rapazes) que eu deveria orientar.
Como não havia onde reunir o grupo, passamos a fazer nossas reuniões na casa em que eu voltara a viver com minha mãe. Era um sobrado simples, em uma das muitas vilas características da Vila Olímpia, em São Paulo. Sala e cozinha no rés do chão. Dois quartos e um banheiro, no alto da escada. Na frente havia espaço para um carro, sob uma cobertura Zetaflex. Nos fundos, um quintal bucólico, diminuto.
Marcava encontro com o grupo em algum lugar da cidade e os levava até minha casa. Por se tratar de OPP, não havia maiores cuidados com a segurança. Ninguém ia de olhos fechados, todos sabiam onde estavam.
No final da reunião, alguns dispensavam a carona (/boleia) de volta. Saíam a pé, conversando.
Não me lembro quais eram os componentes do grupo. Só de um, me recordo. Era Guido Mantega, o atual presidente do BNDES, ex-ministro do Planejamento de Lula. E não me lembro dele apenas por ter se tornado notório. Já na época, Nicolau – que me passara o grupo – chamara minha atenção para a figura. Filho de industrial, era da estirpe de Eduardo Suplicy. Filhos da elite, preocupados com o social.
Era um misto de ingenuidade e indignação.
Espero que se tenha mantido incólume, nessa devastação em que mergulhou o governo.
Terá sido dos poucos.

NOTA TRISTE:(texto de 31/10/2014)
Como nesse texto, escrito há mais de nove anos, eu faço referência – e referência elogiosa – a Reinaldo Lobo, preciso dizer alguma coisa a respeito.
Ele e eu nos conhecemos há décadas. Mais precisamente desde o início de 1.968.
Durante esses quase cinquenta anos, contudo, conversamos pessoalmente durante uma dúzia de horas. Pouco mais, pouco menos.
Fomos, de início, colegas na turma de 1º ano do curso de Filosofia da USP. Assistimos às aulas sobre Descartes e sobre Rousseau ministradas, pelo saudoso Roberto Salinas e por Rolf Kuntz. Éramos, até então, apenas colegas de turma.
Quando pouco depois passei a frequentar uma OPP do POC orientada por ele, como digo nesse relato, tínhamos de fingir que não nos conhecíamos. Tratávamo-nos por nomes de guerra.
Reinaldo saiu do POC. Perdemos contacto.
Lá pelo final de 1980, começo de 81, como eu estivesse a viver uma crise pessoal, comecei a procurar antigos conhecidos, como tentativa de romper o isolamento em que vivia desde a saída da prisão. Um dos que procurei foi Reinaldo. Recebi com enorme prazer a visita dele e da esposa. Soube, nessa ocasião, que ele se preparava para tornar-se psicanalista e afastar-se do jornalismo.
Ele prestou-me, então, o primeiro grande favor: indicou-me três nomes de psicanalistas para que eu escolhesse um.
Escolhi – e fui aceito por – o dr. Luiz Meyer. Foram cinco anos de quatro sessões semanais que me ajudaram de modo inestimável.
Como logo em seguida me separei de minha primeira mulher, Reinaldo e esposa – que tinham filhos na mesma faixa de idade dos meus – passaram a ter mais contacto com minha ex-esposa. Eu o encontrava acidentalmente vez ou outra, como em uma ocasião em que nos esbarramos em Buenos Aires.
Já na primeira década deste século, por ter um sobrinho que é excelente repórter fotográfico mas estava desempregado, telefonei a Reinaldo para perguntar se ele poderia ajudar a arrumar emprego para meu sobrinho. Reinaldo foi de extrema gentileza e prontificou-se a redigir cartas de apresentação de meu sobrinho a vários amigos dele em postos de direção em meios de comunicação . Meu sobrinho foi ao encontro de Reinaldo e pegou com ele as cartas. Infelizmente, por razões que me escapam, não as utilizou. Esse foi o segundo grande favor que Reinaldo me prestou.

Independente do que digo no que segue, serei sempre grato a Reinaldo Lobo por essas duas grandes ajudas que me deu.

Voltamos a nos reencontrar no Facebook. Eu já morava cá em Portugal. Uma das coisas que me atraíram, no Facebook, foi a possibilidade de “conversar” amiúde com Reinaldo.

A nossa conversa, todavia, não começou lá muito animada. Escrevi um texto sobre assunto religioso (já não me lembro qual era o tema) e Reinaldo comentou que estranhava que eu perdesse tempo com assuntos assim. Fiquei surpreso. Nunca imaginei que um intelectual, mergulhado até a alma em uma civilização judaico-cristã (como é – queira ou não queira – qualquer pensador, ao menos no mundo ocidental), pudesse achar ocioso tratar de assuntos bíblicos.

Mal sabia eu que a procissão ia ainda no adro.
Desde que Reinaldo percebeu que eu não era mais de esquerda, a avalanche começou.
Toda vez que eu fazia comentários discordantes das opiniões dele, lá vinha insulto pessoal.
Tentei vez ou outra reclamar dessa agressividade. Entrava então em cena o psicanalista a afirmar que sabia ser eu uma pessoa excessivamente sensível.

Até aí eu relevei.
Meu limite foi atingido quando, em primeiro lugar, ele relatou no Facebook que – durante a ditadura – ficou em prisão domiciliar. Disse que até comemorou com um jantar entre amigos o fim de sua “detenção”.
Se a Esquerda reclamou imenso da Folha de SPaulo o uso do neologismo “ditabranda”, Reinaldo Lobo, com sua “prisão domiciliar” ofereceu o Quod Erat Demonstrandum de tal brandura.

Estranhei o absurdo da afirmação, mas cada um fica preso do jeito que pode ou do jeito que sonha.
Mas acendeu-se uma luz amarela. Algo de podre podia deduzir-se de tão esdrúxula história.

A luz vermelha brilhou quando, ao escassearem seus recursos de ofensa, resolveu dizer que minha militância na Esquerda ter-se-ia devido a que – cito – na época era moda.

Tenho visto que as agressões não se dirigem só a mim. Muita gente que comenta as coisas que Reinaldo escreve acusa os golpes que ele desfere. Deve ser gente muito sensível... Se continuam a tentar debater com ele, é problema de cada um.

Quanto a mim, não gosto de discordar da posição de alguém sobre qualquer assunto e receber como réplica alguma consideração pejorativa a respeito de minha personalidade. Não gosto de psicanálise vendida em armazém de secos e molhados.

Enfim, Reinaldo Lobo, sei que você terá argumentos contra mim. Para variar. Afinal, quem vive no mundo da lua trotskista no ano da graça de 2.014 explica qualquer coisa. Até batom em cueca.
E certamente toda esta minha conversa não afetará em nada suas convicções belicistas.
Mas, para mim, você foi a grande tristeza de 2.014.
Por sorte, um ano cheio de alegrias.

Continue firme em suas lutas. Mas vira essa lança pra lá.

quarta-feira, 27 de julho de 2005

Parabéns, Léa


Em 1.954 minha família foi morar em um sobrado novinho, situado na rua Dom Lara, em Santos. Rua nova, recém asfaltada, que alternava casas modernas com terrenos baldios e cortiços. Faltava iluminação pública.
À noite, depois do jantar, quase sempre, meus pais sentavam-se no sofá da sala. Minha irmã mais velha ia para o piano. Minha irmã Léa e eu ficávamos cada um de um lado do piano. Durante hora, hora e meia, cantávamos canções populares. Minha irmã mais velha, além de tocar piano, fazia o contra canto. Léa fazia a segunda voz, contralto que é. Eu cantava a melodia, fazia a parte mais fácil. Era um tal de Índia, Que beijinho doce, e vai por aí.
Um dia, ao terminarmos uma canção, ouvimos, da escuridão da rua, aplausos. Fomos até a janela e lá estava a garotada do cortiço vizinho, aboletada no murinho que fechava a frente da casa. Ficamos encabulados. Mas felizes, pelo reconhecimento popular.
Essas quatro pessoas foram as que me formaram o caráter. Meus pais e minhas duas irmãs. Claro que o resto do mundo participou dessa construção. Afinal, a culpa não podia ser só deles. Por exemplo, foi nesse sobrado que vi Regininha Evangelista, filha do ex-ponta esquerda do Santos F.C., Evangelista, da linha dos cem gols (Siriri-Camarão-Feitiço-Araken-Evangelista), a melhor que o Santos teve até Dorval-Mengálvio-Pagão-Pelé-Tite, chegar chorando e anunciar a minha mãe o suicídio de Getúlio. Notei minha mãe ficar com olhos vermelhos. Compreendi, naquele instante, a força do baixinho.
Mas esses quatro são os meus maiores heróis. Já falei, neste blog, de meu pai, de minha mãe, de minha irmã mais velha. Hoje quero falar de minha irmã Léa. Só porque – hoje – ela completa mais um aninho de vida.
Por mais que os outros três sejam fundamentais, nada se compara à importância da Léa em minha vida.
Por quê? Há montes de razões. Ela segurou minha barra, quando meu pai morreu. Se não fosse ela, não teria feito engenharia. Não teria feito nenhum curso superior. Teria de ir trabalhar em algum balcão e fim de papo.
Quando fui preso, ela arrumou um jeito de ir me visitar uma vez por semana, sob pretexto de estudar matemática comigo.
Para meus filhos, ela é até hoje a tia ideal.
E tem mais, muito mais.
Mas nada disso é o que importa. O essencial é que ela foi a minha grande amiga na infância. Eu morria de medo de dormir. Apesar de nós três, os filhos, compartilharmos o mesmo quarto, ela juntava a cama dela à minha, pegava em minha mão e dizia:
- Beto, boa noite. Faz oração e dorme.
Eu orava, segurando a mão dela. Pedia a Deus que nos protegesse. Em seguida, mergulhava no sono que aquela mão me propiciava.
Muitos anos passaram. Vivi situações limite. Nelas, segurava na mão dela, e ouvia dela
- Faz oração e dorme.
Não orava mais. Faltava-me um deus a quem orar. Mas dormia apertando aquela mão, que nunca me abandonou.
E que vou morrer segurando.
Parabéns, mana.

terça-feira, 26 de julho de 2005

As voltas que o mundo dá


Às 13:37 de hoje, entrou no Brasinha, restaurante popular do centro de Osasco, um acanhado João Paulo Cunha, na companhia de cinco indivíduos (assessores?), todos em trajes pra lá de informais. João Paulo vestia camiseta branca debaixo de um velho casaco jeans. A barba estava por fazer havia uns dias. Cumprimentou com leve aceno de cabeça algumas pessoas de mesas pelas quais passou até sentar-se ao fundo do salão.
Não esperei para ver que prato iria pedir. Mas deve ter sido espaguete, talharini ou capeleti. Algo assim. É o único contato com as massas que ainda resta à velha cúpula petista.

segunda-feira, 25 de julho de 2005

Era uma vez - XXVI
Os torturadores e Karl Liebcknecht


Os primeiros dias da tortura são sem palavras. No máximo gritos e imprecações. Pauleira pura.
Depois de alguns dias, começa uma grotesca mistura de tortura e interrogatório.
O torturador/interrogador (que obviamente mantém-se no anonimato, mas – sabe-se – é quase sempre um oficial do exército. Os investigadores de polícia não têm grau de cultura para interrogatório. Ficam restritos ao pau) senta-se de um lado da mesa. O preso do outro. Entre os dois, sobre a mesa, bloco de anotações e a rudimentar máquina de dar choque, com seus dois fios a serem ligados ao corpo do torturado e sua manivela que gera energia mecânica a ser transformada em energia elétrica que, por sua vez, se transformará em choques elétricos. Quando a resposta a uma pergunta não satisfaz, parte-se para alguns choques. E assim a coisa vai, até o torturador enjoar, terminar seu turno de trabalho ou sei lá qual motivo (nunca atinei com os critérios que determinavam a duração do interrogatório).
Certo dia, estava eu em uma sessão dessas, quando me perguntaram:
- Por que, afinal, um rapaz como você, engenheiro, professor da USP, se mete numa aventura dessas?
Lembrei-me de um livro que lera pouco antes de ser preso. Uma tradução francesa das obras completas do revolucionário alemão Karl Liebcknecht. Diga-se a bem da verdade que obras completas é expressão um tanto pomposa para o conjunto de panfletos escritos pelo dito cujo. Mas uma frase dele havia ficado em minha memória. E eu a utilizei para tentar explicar ao energúmeno que me dava choques e esperava por respostas a suas indagações imbecis, o porque de ter feito o que fiz:


O possível só é atingível através da tentativa de se atingir o impossível.


O estúpido nada entendeu, claro.
Eu, hoje, não a subscrevo. Mas que me emociona, ah. Isso sim.

domingo, 24 de julho de 2005

Fim de papo


Esse governo
não tem atilho nem vincilho.
É apenas empecilho.


(poemeto inspirado neste post de A Natureza do Mal.)

sábado, 23 de julho de 2005

Saques e sexos


Nos dias que correm, com dinheiros sendo sacados a rodo de bancos, de malas, de cuecas, já não dá pra falar de Caixa 2. Não é à toa que o companheiro Delúbio prefere falar em dinheiro não contabilizado. É porque agora há Caixa 2, Caixa 3 etc etc. Com o sexo acontece coisa parecida. Já não existem os quatro sexos tradicionais. Virou festa. Leia sobre isso na nova edição da Revista Engrenagem. É só clicar na figura aí e fazer sexo(s).

Se eu fosse do outro sexo

Qual é a moeda?


Brasileiro já se acostumou com mudança de moeda. É mais ou menos assim: cada presidente tem a sua. O Sarney tinha o cruzado. O Collor reinventou o cruzeiro. O Fernando Henrique criou o real. Até aí, já não me surpreendo.
Mas, vem cá: olha só a notícia que saiu hoje no Claudio Humberto:

Duas ordens de pagamento saíram das contas da agência DNA e foram parar na Fundação de Apoio à UFRGS (uma de R$ 512 mil, de novembro de 2003, e outra de R$ 256 mil, de fevereiro de 2004).

Isso ainda é Real ou já estamos falando de KBytes?

quinta-feira, 21 de julho de 2005

Há o que comemorar?


Está chegando ao fim o depoimento do Delúbio. É claro que vai sair da CPI e comemorar com seu advogado (o mesmo de Maluf). Devem ir jantar em algum lugar e brindar ao show que Delúbio deu na CPI. Tudo é festa, na cabeça deles.
Mas, terá valido realmente a pena?
Sei lá. Neste país, tudo é possível.

Dá dó


Os meliantes (disse meliantes? desculpem, quis dizer militantes) do PT estão a tentar a salvação da própria pele. Onde pensam que vão chegar? As provas estão brotando. Não há como postergar mais. O fim será o impedimento de Lula e o enterro do PT. A corrida ao pote foi muito exacerbada.
Agora, é o salve-se quem puder.
Triste, mas inevitável.

Déjà vu


Quando começou a CPI do PC Farias, nos idos de 1.992 (ou foi 91?), todos procuravam preservar o presidente Collor (menos o PT, é claro). Aos poucos, foi ficando evidente o envolvimento do presidente com todo o esquema de corrupção. Mas a chamada tropa de choque do Collor (que incluía Roberto Jefferson) procurou – desesperadamente – inventar explicações para o imenso roubo então em discussão. Surgiu a operação Uruguai, surgiram outras desculpas esfarrapadas.
Acontece que detalhes pequenos, insignificantes para quem – como os homens do Collor – sabia de tudo, derrubaram as bolações montadas pelos juristas a serviço do governo.
O Elba (Fiat) comprado por fantasmas do PC e utilizado pelos servidores da Casa da Dinda, do presidente Collor, serviu pra derrubar todas as desculpas. Um mísero Elba, diria Collor. Carrinho vagabundo.
Agora, as coisas se repetem. O tal Silvinho, do PT, ganhou um Land Rover de uma empresa beneficiada pelo governo. É uma titica. Como diria Bob Jefferson, uma peteca. Mas, convenhamos, melhorou o nível. De Elba a Land Rover, estamos melhorando. Mas o jipinho que o Silvinho ganhou de brinde pode ajudar a cavar seu túmulo político. E o de sua turma.
Da mesma forma, diria que o pessoal do PT não está levando a sério a lei da gravidade.
Depois que a crise começa, a bola de neve vai rolando morro abaixo e aumentando, aumentando.
Vão aparecendo os documentos, as secretárias, os motoristas, enfim, durante a queda vai passando o filme da sacanagem geral.
No tempo do Collor, dizia-se que não era bom derrubá-lo porque o vice, que teria de assumir, era uma figura caricata, um mineiro ridículo. Pois bem. O tal mineiro assumiu, presidiu o país, implantou o plano real e coisa e tal. Entregou o país ao dondoca Fernando Henrique, a Maria Antonieta do planalto.
Agora, diz-se que é melhor manter no poder um Lula desidratado do que entronizar um mineiro maluquete, o José Alencar.
Por que fui alugar um DVD com o mesmo filme que já tinha assistido? Estraguei meu fim de semana.

quarta-feira, 20 de julho de 2005

Problemas e problemas


Por essas e por outras é que não vejo a hora de morar lá no meu nordeste transmontano. Enquanto cá no Brasil temos de discutir se o Dirceu é mesmo o que se diz ser, se haverá sobreviventes do Delúbio, se o Marcos Valério pagava excesso de bagagem para as malas do mensalão, se o Genoíno é falso, se o Genro vai por ordem na casa da sogra em que se transformou o PT, se Lula ainda está no prazo de validade, lá pertinho da minha aldeia de Passos, numa cidade mais povoada, Macedo de Cavaleiros, a questão candente neste momento é:
Deve-se regar durante toda a noite a sementeira de relva plantada na rotunda de Travanca, considerando-se a época de escassez de água vivida por toda a região?
Sentiu o drama?

quinta-feira, 14 de julho de 2005

Era uma vez - XXV
Começo de vida no Presídio Tiradentes


O pavilhão 2 do Presídio Tiradentes tinha dois andares. No térreo ficavam os presos correcionais (corró) e as ratazanas. Depois da transferência do corró sobraram só os ratos. No segundo andar ficavam os presos políticos (a rigor, os presos incursos na Lei de Segurança Nacional. Isso incluía uns poucos indivíduos presos por motivos não políticos, por exemplo, porte de arma privativa das Forças Armadas).
O segundo andar consistia em um largo corredor (a “Ala”) com as celas ímpares de um lado, as pares do outro. A ala não era visível do início ao fim. Havia duas paredes que a dividiam em três partes. Claro, essas paredes tinham portas que permitiam a circulação por toda a ala. Porta de saída, mesmo, só na extremidade inicial da ala.
Talvez porque o forte de quem organizou o presídio não fosse a matemática, a cela zero ficava do lado das celas ímpares. Exatamente por esse detalhe, acho contraditória a existência de uma cela zero. Isso de começar a contar de zero, isso sim, é coisa de matemático. Sabe-se lá.
O facto é que a cela zero era grandona. Nela cabiam dezenas de presos, acomodados em beliches. Depois da saída do corró, quando conseguimos melhorias em nossa situação carcerária, uma dessas melhorias foi a transformação da cela zero em cela de artesanato. Nela, fazíamos trabalhos em couro com a técnica de batique
Quando cheguei ao Presídio Tiradentes, a norma era todo mundo recém-chegado ser levado para morar na cela zero (demorei pra me acostumar com essa história de dizer "moro na cela tal". Mas a gente se acostuma com tudo). Lá fui eu. Durante os dias em que lá fiquei, li Cento e vinte dias de Sodoma e Gomorra, do Marquês de Sade. Era o que havia disponível. A longa introdução (umas cinqüenta páginas) é obra prima. Pra quem ainda não leu, recomendo. Talvez não valha a pena ler o livro propriamente dito. Pelo menos quem tem estômago sensível.
Foi então que me convidaram pra ir morar na cela 12, lá no Fundão. O Fundão era a última das três partes em que se dividia a Ala. De um lado, celas 12, 14, 16 e 18. Do outro, 15, 17, 19. Acho que era assim. Já não tenho tanta certeza de quais eram as últimas celas. Talvez houvesse as celas 20 e 21. Também não faz diferença. A não ser, claro, pra quem nelas eventualmente morasse. Quem me convidou, não lembro. Só sei que moravam lá na 12 dois militantes do Partidão e o Ismael, um antigo militante sindical que passara alguns anos no Partidão mas depois aderira à luta armada. Fomos para lá Toninho, Melo, Jonas e eu, todos do POC.
Dos dois “velhos” do Partidão, um deles era retraído, quase não se manifestava. O outro, o “Vô”, tinha um estribilho pra expressar a idéia de que algo era óbvio:
- Isso é coisa já vista.
Quanto ao Ismael, vivia a censurar os luxos da alta burguesia de um modo que me levava a brincar com ele:
- Ismael, você não tem ódio de classe. Você tem é inveja.

quarta-feira, 13 de julho de 2005

terça-feira, 12 de julho de 2005

O mamute e o PT


No meu antigo blog (no fatídico Mblog) já tinha colocado a música do Mamute. Agora, a situação do Partido dos Trabalhadores me pede que volte ao Mamute.
Som na caixa.
(fora que é um barato, independente dos dirceus e genoínos e lulas et caterva).

segunda-feira, 11 de julho de 2005

domingo, 10 de julho de 2005

Feitiço contra feiticeiro


Essa é melhor do que tudo que a CPI mostrou até agora. O apresentador de TV João Kleber, indivíduo que, de amigo de Collor, virou açoitador da paciência alheia com seus programas de TV inimaginavelmente calhordas, tem um item (digamos assim) de seu programa de TV que se chama Teste de Fidelidade. Funciona assim: ele coloca no palco uma pessoa que desconfia que a(o) companheira(o) o(a) está traindo. Cria-se, então, uma situação na qual a(o) tal companheira(o) é colocada(o) em cheque, assediada(o) por um ator(atriz). É claro que tudo é arranjado. É tudo uma grande encenação. Mas a coisa dá audiência. Daí que ele já vendeu o programa para vários países do mundo, inclusive (e isso é que me dói) para Portugal. Já não bastam as novelas da Globo. Agora Portugal vai ter Teste de Fidelidade.
Eis que leio na coluna do Giba Um (09 a 11 de julho de 2.005):

Traição na justiça
Corre na justiça, sob sigilo, processo de separação do apresentador João Kleber de sua mulher, Wânia Guerreiro Barros. O apresentador descobriu que ela o traía com um ator do programa Teste de Fidelidade, chamado Roger. Kleber e Wânia eram casados há nove anos e ela chegou a dirigir o programa dele na Rede TV durante algum tempo. Antes de Kleber, Wânia foi namorada de Paulo César Farias.

Quem sabe ela, agora, não resolve namorar o Delúbio.

sábado, 9 de julho de 2005

Minhas crenças desmoronam


Até agora há pouco, acreditava piamente que:
"Tudo tem explicação. Menos batom em cueca."
Tenho que abrir mão de mais esta crença. Admito que os 100 mil dólares na cueca do assessor do irmão do Genoíno também não se explicam.
Paciência.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Depois do temporal



O número 12 da Revista Engrenagem já está nas e-bancas. Pegue seu e-xemplar aí embaixo.

É só clicar aqui
Como a chefinha me deixou de fora, desta vez (ou será que ela me confundiu com o Zé Dirceu e me mandou embora pra sempre?), meu texto vai aqui, neste post:

Depois do temporal
XR-173-14-03 saía da loja quando deu de cara com MH-45-123-01 que passava, distraído.
- Tudo bem?
- Beleza. E você? Fazendo compras?
- É. Vim comprar um pacote de contagem regressiva.
- De quanto?
- Oitenta.
- Ah. Eu prefiro os menores, de vinte, trinta no máximo. Pra mim, o melhor é quando chega em cinco, quatro, três ... com todo mundo gritando junto.

MH-45-123-01 despediu-se. Alegou que não queria correr o risco do temporal pegá-lo antes de chegar em casa.

XR-173-14-03 voltou a sua lista de compras. Não queria esquecer nada. Algumas quadras adiante, entrou na loja de TM-42-12-01. Gostava de lá. Era uma loja que vendia os melhores nadas do mercado. Insuperáveis. Pediu uma meia dúzia, já que, em casa, não havia mais nada. TM-42-112-04, a filha mais nova de TM-42-112-01, embrulhou os seis nadas com cuidado. Não fossem amassar no trajeto. XR-173-14-03 despediu-se de TM-42-112-04, não sem antes percorrê-la com os olhos, alto a baixo. Como era sensual, essa menina. Ainda bem que comprara umas camisinhas. Mais tarde, em seu quarto, poderia praticar masturbação segura.

Ainda teve tempo de comprar uns pacotes de gelo e chegar até onde estava o carro. A chuva começou. Forte como sempre.

Da avenida TM até sua casa, na rua XR, 173, demorava não mais que 35 horas. Era perto. Aproveitou o tempo para fazer o que mais lhe agradava, durante o temporal: pegou no porta-toalhas algumas bem quentinhas e pôs-se a enxugar gelo interminavelmente.

Uma vez em casa, desfez-se dos pacotes e beijou XR-173-14-02, sua mãe.

- Compraste nada? perguntou ela.
- Claro, claro. E também me lembrei de seus botões. Assim você tem com quem conversar, quando não há ninguém em casa.
- Obrigada. O temporal hoje demorou mais do que de costume, não te pareceu?
- Não notei. Penso que não. Enxuguei a mesma quantidade de gelo de sempre. Além do que, esse temporal só aconteceu por ser o tema da quinzena. Senão nem teria chuviscado.
- Então descansa um pouco. Vou preparar-te uns sonetos, de aperitivo.
- Prefiro alguns microcontos, se não se importa.
- Tudo bem. Pelo visto, estás todo prosa, hoje.


Se quiser ler esse conto com fundo musical, prefira Stand by me, clássico gospel, gravado por Elvis Presley, provavelmente depois de algumas carreiras de pó nada evangélico.

quinta-feira, 7 de julho de 2005

PROTESTO


O ex-tesoureiro do Partido Liberal, partido acusado de receber o "mensalão", chama-se Jacinto Lamas. Assim, não brinco mais. É muita piada pronta.
(quando será que ele começou a sentir a lama?)

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Prova cabal


A CPI dos Correios, boa parte da imprensa e quase toda a população brasileira anda atrás de provas do comprometimento entre o tal Marcos Valério e o PT. Ao ouvir parte de seu depoimento agora de manhã na CPI dos Correios, cheguei à conclusão de que realmente ele tem tudo a ver com o PT e com o governo Lula:
Marcos Valério tem língua presa!!!

terça-feira, 5 de julho de 2005

Faz tempo


Belo dia de 1.989, já em clima de eleição presidencial, tive de almoçar no centro do Rio de Janeiro com dois lobistas da pesada. Eles conversavam, eu saboreava a conversa (além da comida, é claro).
Um deles estava preocupado com o futuro de seus negócios, caso Lula fosse eleito.
- Com o Lula não tem esquema.
O outro concordou com a afirmação mas tranqüilizou o parceiro:
- O que interessa não é o Lula. É o pessoal em volta dele. E, aí, tem muita gente de esquema. Não se preocupe.
E confidenciou:
- O X Y, por exemplo, é loooouuco por um esquema.


(como eu não fiquei doido, ainda, não digo quem é o X Y. Apenas pra aguçar os palpites: trata-se de petista respeitadíssimo, com algo em comum com os tucanos. Tucanos pássaros, não tucanos do PSDB).

Vê-se, agora, que há muuuuiiitos outros “loooouucos por um esquema”.

Genoíno, genuíno


No final dos anos 60, fui presidente do Centro Acadêmico da Filosofia da USP. Nunca fizera política estudantil. Detestava essa coisa. Mas fui escalado pelo POC pra essa tarefa. Lá fui eu. Tive atitudes das quais me arrependo. Chamei a professora Gilda de Mello e Souza (mulher de Antonio Cândido) de autocrática, em uma assembléia estudantil. Justo ela, de sensibilidade apurada, um doce de pessoa.
Também, graças a isso, tive de conviver com os 'donos' da UNE à época. Eram dois, graças a um acordo entre PCdoB e AP: Genoíno e Honestino. Tive menos contato com Honestino. Mais com Genoíno. Era uma múmia, pra dizer o mínimo. Ignorante, desinformado, um lixo. Mas - é evidente - bom de gogó. Afinal, ninguém chega a presidente da UNE sem gogó.
Depois, houve o assassinato de Honestino e a prisão (tanto a de Genoíno quanto a minha), o tempo de presídio (não nos cruzamos nesse período).
Alguns anos depois, Genoíno apareceu para a política convencional. Eu, na anônima condição de eleitor, comecei a votar nele, impressionado por aquilo que eu considerava evolução. Deixara de ser aquele panaca do movimento estudantil. Passara a demonstrar discernimento inimaginável, anos antes.
Durante muito tempo, admirei a evolução de Genoíno. Enquanto esteve no Legislativo, na oposição, me pareceu que exercia papel relevante. Chegado ao poder, deslumbrou-se, como outros tantos. É claro que tudo isso deve ter sido um processo, com etapas. Não as conheço. Só as imagino.
Hoje assisto a seu fim. Percebo que ele ainda acha que vai conseguir enrolar todo mundo e se manter na superfície. O político rolha que sempre foi. Afinal, sempre teve êxito em seus estratagemas.
Vai, Genoíno. Vai em frente. Ainda não percebeste que acabou.
É o fim, Genoíno. Genuíno fim.
A assembléia acabou.