sexta-feira, 8 de julho de 2005

Depois do temporal



O número 12 da Revista Engrenagem já está nas e-bancas. Pegue seu e-xemplar aí embaixo.

É só clicar aqui
Como a chefinha me deixou de fora, desta vez (ou será que ela me confundiu com o Zé Dirceu e me mandou embora pra sempre?), meu texto vai aqui, neste post:

Depois do temporal
XR-173-14-03 saía da loja quando deu de cara com MH-45-123-01 que passava, distraído.
- Tudo bem?
- Beleza. E você? Fazendo compras?
- É. Vim comprar um pacote de contagem regressiva.
- De quanto?
- Oitenta.
- Ah. Eu prefiro os menores, de vinte, trinta no máximo. Pra mim, o melhor é quando chega em cinco, quatro, três ... com todo mundo gritando junto.

MH-45-123-01 despediu-se. Alegou que não queria correr o risco do temporal pegá-lo antes de chegar em casa.

XR-173-14-03 voltou a sua lista de compras. Não queria esquecer nada. Algumas quadras adiante, entrou na loja de TM-42-12-01. Gostava de lá. Era uma loja que vendia os melhores nadas do mercado. Insuperáveis. Pediu uma meia dúzia, já que, em casa, não havia mais nada. TM-42-112-04, a filha mais nova de TM-42-112-01, embrulhou os seis nadas com cuidado. Não fossem amassar no trajeto. XR-173-14-03 despediu-se de TM-42-112-04, não sem antes percorrê-la com os olhos, alto a baixo. Como era sensual, essa menina. Ainda bem que comprara umas camisinhas. Mais tarde, em seu quarto, poderia praticar masturbação segura.

Ainda teve tempo de comprar uns pacotes de gelo e chegar até onde estava o carro. A chuva começou. Forte como sempre.

Da avenida TM até sua casa, na rua XR, 173, demorava não mais que 35 horas. Era perto. Aproveitou o tempo para fazer o que mais lhe agradava, durante o temporal: pegou no porta-toalhas algumas bem quentinhas e pôs-se a enxugar gelo interminavelmente.

Uma vez em casa, desfez-se dos pacotes e beijou XR-173-14-02, sua mãe.

- Compraste nada? perguntou ela.
- Claro, claro. E também me lembrei de seus botões. Assim você tem com quem conversar, quando não há ninguém em casa.
- Obrigada. O temporal hoje demorou mais do que de costume, não te pareceu?
- Não notei. Penso que não. Enxuguei a mesma quantidade de gelo de sempre. Além do que, esse temporal só aconteceu por ser o tema da quinzena. Senão nem teria chuviscado.
- Então descansa um pouco. Vou preparar-te uns sonetos, de aperitivo.
- Prefiro alguns microcontos, se não se importa.
- Tudo bem. Pelo visto, estás todo prosa, hoje.


Se quiser ler esse conto com fundo musical, prefira Stand by me, clássico gospel, gravado por Elvis Presley, provavelmente depois de algumas carreiras de pó nada evangélico.

Sem comentários: