terça-feira, 5 de julho de 2005

Genoíno, genuíno


No final dos anos 60, fui presidente do Centro Acadêmico da Filosofia da USP. Nunca fizera política estudantil. Detestava essa coisa. Mas fui escalado pelo POC pra essa tarefa. Lá fui eu. Tive atitudes das quais me arrependo. Chamei a professora Gilda de Mello e Souza (mulher de Antonio Cândido) de autocrática, em uma assembléia estudantil. Justo ela, de sensibilidade apurada, um doce de pessoa.
Também, graças a isso, tive de conviver com os 'donos' da UNE à época. Eram dois, graças a um acordo entre PCdoB e AP: Genoíno e Honestino. Tive menos contato com Honestino. Mais com Genoíno. Era uma múmia, pra dizer o mínimo. Ignorante, desinformado, um lixo. Mas - é evidente - bom de gogó. Afinal, ninguém chega a presidente da UNE sem gogó.
Depois, houve o assassinato de Honestino e a prisão (tanto a de Genoíno quanto a minha), o tempo de presídio (não nos cruzamos nesse período).
Alguns anos depois, Genoíno apareceu para a política convencional. Eu, na anônima condição de eleitor, comecei a votar nele, impressionado por aquilo que eu considerava evolução. Deixara de ser aquele panaca do movimento estudantil. Passara a demonstrar discernimento inimaginável, anos antes.
Durante muito tempo, admirei a evolução de Genoíno. Enquanto esteve no Legislativo, na oposição, me pareceu que exercia papel relevante. Chegado ao poder, deslumbrou-se, como outros tantos. É claro que tudo isso deve ter sido um processo, com etapas. Não as conheço. Só as imagino.
Hoje assisto a seu fim. Percebo que ele ainda acha que vai conseguir enrolar todo mundo e se manter na superfície. O político rolha que sempre foi. Afinal, sempre teve êxito em seus estratagemas.
Vai, Genoíno. Vai em frente. Ainda não percebeste que acabou.
É o fim, Genoíno. Genuíno fim.
A assembléia acabou.

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