sábado, 5 de junho de 2004

Mais sobre cotas/quotas


Tanto o assunto é polêmico que até o termo central é passível de preferências: usa-se 'cota' no Brasil, 'quota' em Portugal. Como vou citar matéria de jornal brasileiro, vou de 'cota'. Por hoje.
A Folha de S.Paulo (FSP) de hoje vem com a manchete: "Negro tem menos emprego; branco ganha 105% a mais". Outra matéria de primeira página: "Concorrência é menor para estudante de cotas na UnB [Universidade de Brasília]".
Parece-me, em primeiro lugar, que não se deve ser 'a favor' ou 'contra' cotas de modo geral. Há situações em que a existência de cotas vem se mostrando um excelente fator de geração de equilíbrio onde o desequilíbrio fatalmente se perpetuaria se as coisas fossem deixadas sem a aplicação de tal ação afirmativa. Entendo que seja o caso das cotas para portadores de deficiências nos concursos públicos. Ainda a FSP de hoje, na folha B4, traz a informação de que "os comerciários de São Paulo, a camisaria Colombo e a Têxtil Abril fecharam acordos que estabelecem que 20% das contratações feitas pelos dois estabelecimentos sejam de funcionários negros. São os primeiros acordos trabalhistas que prevêem cotas para trabalhadores negros, segundo as centrais sindicais." Entendo esses acordos como avanços sociais.
Quanto às cotas na UnB: "Candidatos inscritos pelo sistema de cotas para negros na UnB enfrentarão concorrência bem menor do que os outros alunos em 58 dos 61 cursos oferecidos pela instituição no vestibular deste mês. No curso mais concorrido neste exame - medicina -, a média geral foi de 82,41 inscritos por vaga, no sistema de cotas, a taxa ficou em 32,71 candidatos por vaga". Diante disso, "o diretor acadêmico do Cespe (Centro de Seleção e Promoção de Eventos) da UnB, Mauro Rabelo, [afirma que] a diferença no número de concorrentes entre os dois sistemas não significa que ficou mais fácil entrar na universidade. Para ele, a concorrência alta em cursos como medicina e direito, mesmo entre os candidatos negros, aponta que a disputa será equilibrada."
Ô Mauro, não precisa desrespeitar a aritmética pra defender seu ponto de vista. Ficou mais fácil, sim. Entendo que - no campo da educação - as ações afirmativas a favor das minorias (ou de maiorias oprimidas) devam buscar qualificá-las melhor pra enfrentar os estudos. Não ajuda nada dotá-las de diplomas sem a correspondente qualificação.
Voltaremos ao tema.

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