domingo, 30 de março de 2008

St. Patrick's Day


Segunda, 17 de março, foi dia de St. Patrick.
Ainda bem que meu genro, no sábado, nos avisou: segunda-feira será tudo verde.
Já ao chegarmos de volta na Grand Center Station, sábado à noite, vimos em uma confeitaria da estação bolos verdes, biscoitos verdes etc etc.
Na segunda, por termos acordado um pouco tarde, achamos que perderíamos a parada na 5ª avenida.
Ledo engano.
A parada dura o dia inteiro, com dezenas e dezenas de grupos desfilando.
Nas ruas, quase todo mundo vestindo algo verde.
Nos bares, verde e mais verde.
Aí vão fotos do desfile. Todas elas tiradas na 5ª avenida, em torno das ruas 58 a 60, perto de nosso hotel.



















quinta-feira, 27 de março de 2008

Um domingo na Igreja


Lá pelos idos de 1.995, Nelson Motta resolveu mostrar o coral da Igreja Baptista Mount Moriah, no Harlem, aos brasileiros. Sua intenção talvez tenha sido a melhor possível. O diabo é que ele contribuiu fortemente para avacalhar com a Igreja. Transformou-a em ponto turístico para brasileiros. O resto dá pra imaginar.
Produziu um CD, Harlem Sunday, com dez músicas do coral e trouxe o coral ao Brasil umas quatro vezes. Em duas delas eu estive presente.
Por não dispor de outra referência de igreja na qual pudesse ouvir música desse gênero, resolvi ir mesmo à Mount Moriah.


Sou ateu mas respeito a crença dos outros (apesar de serem raríssimos os crentes que respeitam minha descrença). Como sei que o culto de domingo em uma igreja baptista é cerimonioso, me enfiei em um paletó-e-gravata, a Baixinha caprichou na roupa e lá fomos nós. Procuramos chegar cedo. Em seu livro Nova York é aqui (Editora Objetiva), Nelson Motta explica que, apesar de o culto começar às 11 horas, os turistas fazem fila na porta da Igreja. Não chegar cedo poderia significar não conseguir entrar.
Talvez porque a moda já tenha passado, talvez por ser final de inverno, não havia ninguém lá quando chegamos, antes das 10 da manhã.
Aproveitamos para fotografar a fachada da Igreja, já que durante o culto não seria possível bater fotos.



Demos umas voltas pelos quarteirões próximos (a Igreja fica na Quinta Avenida, quase esquina com a rua 126). O bairro é simpático, parecido com tudo o mais que vimos em New York. A gente só estranha o fato de todo mundo ser negro. Não existe isso aqui no Brasil. Aqui há lugares de forte predominância negra. Lá, não. Todo mundo é negro.


Perto da Mount Moriah, uma Igreja Episcopal (na própria Quinta Avenida):


É mais caprichada. Os episcopais sempre me pareceram mais sofisticados que os baptistas. Prefiro os últimos. Questão de gosto.

Quinze pras onze entramos. Já havia um grupo de uns vinte turistas, todos bichos de goiaba. Ou seja, brancos. Haviam sentado na ala central, ao fundo.
Preferimos sentar na ala da direita, um pouco mais à frente.
No salão de culto, dos membros da igreja apenas umas seis mulheres, um rapaz e um senhor, todos do coral, um camarada ainda relativamente jovem e meio apertado dentro do terno, com cara de pastor, o baterista, um garoto prodígio de uns nove, dez anos na percussão e o maestro, Daniel Damen (salvo engano). Fiéis, sentados na platéia, nada.
Onze horas, começa o culto. O maestro toca o órgão, o pequeno coral canta, o menino prodígio substitui o baterista. Cantam algumas músicas, por exemplo, I’m blessed (que consta do CD).
Depois o rapaz-com-cara-de-pastor começa um sermão para os turistas. Fala e canta, à capela. Durante uma meia hora.
Chegam mais turistas. Provavelmente todos brasileiros. Vão lá pra frente. Muito à vontade, como se estivessem na praia. Aliás, pelas roupas, é onde deveriam estar.
O coral canta mais. Crianças passam com bandejas pedindo mais dinheiro (a entrada já custara 3 dólares por cabeça).
O pastor da igreja chega e assume o púlpito, todo paramentado. Fala pouco. Deixa o protagonismo com o maestro e o minúsculo coral (três sopranos, três contraltos, um tenor, um baixo).
Lá pelo meio dia, meio dia e pouco, os turistas – seguindo seus guias – começam a levantar e a sair. Despudoradamente. É assim. Afinal, turista não tem compromisso com nada, apenas com a agência de viagens.
Quando percorro a nave do templo com o olhar, só há negros. Mais a Baixinha e eu.
Logo tudo fica claro. Vai começar o culto. Os turistas já se foram.
Os diáconos vão para junto do púlpito.
O órgão começa a soar.
As senhoras, quase todas de chapéu, batem palmas. Uma delas trouxe seu pandeiro. E batuca.
O coral se amplia. O baterista reassume seu lugar e devolve o menino prodígio para a percussão.
O som se eleva. A alma vai junto.
Muita música. Muita alegria. Adoração.
O pastor dirige-se ao púlpito, fala durante alguns instantes e deixa que o maestro reassuma o comando.
O maestro começa a tocar. Em seguida, a cantar.
São uns quinze minutos de solo.
A emoção cresce. O solo é deslumbrante.
Tento segurar o choro. Pior. Ele vem com força, intenso.
Olho de esguelha pra Baixinha. Ela enxuga as lágrimas que teimam em não acabar mais.
Poucas emoções em minha vida foram tão intensas quanto à que vivi durante esses quinze minutos de solo. De lamento cantado. De enlevo e sublimação.

Termina o canto do maestro. A Baixinha e eu procuramos nos recompor. O coral recomeça. Os diáconos dançam e se movimentam de um lado a outro. Um deles se aproxima e pergunta se gostaríamos de almoçar com eles.
Problema: é claro que eles estão pensando que somos de alguma igreja baptista. Já pensou, chegar no almoço e ter de explicar que não, não somos crentes.
(Ah, se minha mãe estivesse lá. Abraçaria aquelas negras de chapéus, aqueles negros de ternos elegantes, suas irmãs e seus irmãos em Cristo. Chorariam juntos, sem razão. E conversariam na língua dos salvos.)
Agradeço o convite. Mas alego ter de ir embora logo.
Pouco depois, uma cena que não consegui entender. O pastor pega seu celular, finge discar um número. Quase todos se aproximam do púlpito, portando seus celulares. Todos fingem falar neles.
O Pastor desce do púlpito e caminha para a saída. Pára junto a uma cadeira vazia, deposita o celular aberto sobre a poltrona, ajoelha-se e começa uma oração. Os demais, lá na frente, continuam fingindo falar ao celular.
Terminada a oração, o Pastor recolhe seu celular, enfia-o no bolso e volta para o púlpito. Todos guardam seus respectivos telefones e a vida continua.
Adoraria saber o que isso significa.
Ficamos até o momento da ceia. Quando ela ia ser servida pelos diáconos, pedimos licença e fomos embora.
Com a alma em delírio.

Um delicioso peixe, em um bistrô do Upper East Side nos devolveu às preocupações do corpo.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Um sábado na casa da filha


Sábado, 15 de março do ano da graça de 2.008, fomos conhecer a casa de minha filha.
Acordamos cedo, coisa meio incomum para nossos preguiçosos hábitos. Não somos como uma amiga nossa que afirma dormir muito pouco em viagens ao exterior porque não suporta dormir em euro. Talvez agora, com o dólar meio acabrunhado, ela durma um pouco mais, ao menos nos Estados Unidos.
E lá fomos nós, num daqueles táxis desvairados de NYC, até Grand Center Station.

Estas duas fotos eu tirei já na volta, à noite

Foi fácil achar o guichê adequado para comprar duas ida-e-volta para Westport, CT. Minha filha tinha dado todas as dicas.

Clique para ler sobre Westport
O trem é bem razoável.


Depois de uma hora, lá estávamos nós em Westport, esperados por filha e neta.
Os três (elas e meu genro) moram em um condomínio muito bonito. Surgem por lá animais não muito comuns em cidades. Por exemplo, nesse gramado em declive que leva até a piscina e ao salão de festas do condomínio (foto abaixo), eles já viram uma raposa com seus filhotes.


Muito verde, muita tranqüilidade.

Minha filha, meu genro e eu
Depois de conhecer a casa e de tomar um uísque, fomos almoçar em um restaurante japonês. O cozinheiro dá um show de malabarismo durante o preparo da refeição:



O passeio pelo centro comercial de Westport foi tão animado que esquecemos de tirar fotos.
Mas sei que meus leitores têm imaginação suficiente pra preencher essa lacuna. Hehe.

No final da tarde, foi muito gratificante ouvir minha neta ler um trecho de um livro que ela está devorando. A escola pede que ela busque patrocinadores para a leitura. A coisa funciona mais ou menos assim: ela convence alguém a contribuir; a pessoa estipula quanto vai pagar por tempo de leitura. Por exemplo, 50 cents por hora. E estabelece um teto. Digamos, 30 dólares. Então ela lerá várias horas patrocinadas por aquele contribuinte. Arrumando vários contribuintes, ela fica estimulada a ler mais e mais.

O melhor de tudo isso é que ela, que ainda fará 8 anos em agosto, já lê com naturalidade e fluência espantosas.

Apesar da discordância do calendário, isso é o que se chama um sábado de aleluia.

Rockefeller Center


Fomos também dar uma espiadinha no Rockefeller Center. A famosa árvore de Natal não estava lá. Como quase todo mundo sabe, o Natal é em dezembro. Mas você pode vê-la aqui.
Nós nos contentamos com o "chafariz" e o rinque.


segunda-feira, 24 de março de 2008

The Virgin Mother


Estávamos passeando por Manhattan. Eis que surge, esquina de Park Avenue com 53rd Street, junto ao restaurante Lever House, essa estátua, de Damien Hirst.
Gostei.

Times Square


Na sexta-feira, 14 de março, depois do jantar, minha filha nos levou até Times Square, em seu pequeno descapotável. Chovia um pouco. Por isso as fotos não ficaram muito boas. Os fotógrafos (a Baixinha e eu) não serem lá essas coisas também ajudou. Ou atrapalhou. Ah, essas armadilhas da língua portuguesa.
Por via das dúvidas, lá vai uma foto de profissional, Dennis Flood, tirada em 2.002.
Seguem as fotos da Baixinha e, last and least, uma foto tirada por mim.


Olha minha filha aí!




domingo, 16 de março de 2008

Primeira semana em NYC


Os passeios no Central Park renderam algumas outras imagens.
Do Wollman Rink:




De uma passagem próxima a ele. Achei bonita:


De uma das charretes que proporcionam passeios ao longo do Central Park e empesteiam o ar da Avenida Central Park South com o característico odor de – digamos – campo:


Na quarta à noite fomos jantar em um restaurante italiano, o Osteria Del Circo.
Se você evitar o menu a preço fixo (US$ 35), come bem. As mesas são muito juntinhas umas das outras, mas parece que em NY a maioria dos restaurantes é assim. Afinal, o espaço é caro. Em resumo: meia boca.

Na quinta fizemos umas comprinhas, que ninguém é de ferro.
Conhecemos o metrô (subway). Se minha filha não tivesse dado umas dicas, teríamos passeado bem mais de metrô. Ou seja, ficaríamos perdidões. Primeiro: quando você entra, tem de escolher a plataforma Up ou a Down (se você vai pro norte ou pro sul). Aliás, em NY, tudo é norte, sul, leste e oeste. De norte a sul há as avenidas (numeradas de leste para oeste: 1ª, 2ª etc); de leste a oeste existem as ruas, numeradas de modo crescente de sul a norte. Mais fácil, impossível. Como em tudo na vida, há exceções. A Broadway também vai de sul a norte, mas um tanto em diagonal. Mas aí já são detalhes.
Voltando ao metrô: depois que você escolheu se vai pro norte ou pro sul, trate de verificar quais são os trens locais e quais são os expressos. Os primeiros param em tudo quanto é estação. Os expressos, só em algumas. Os tais trens são identificados por letras. Leia, já na plataforma, as placas com indicações para cada uma das letras e escolha a sua. Quando chegar um trem com aquela letra, vá firme. Se você queria ir só até umas duas ou três estações adiante e mete o focinho num trem expresso, prepare-se pra passear bastante.
De resto, as estações e os trens estão em estado lastimável. Confira:

Estação Columbus
Estação Columbus
Entre uma comprinha e outra, almoço no Tamarind, 41-43 East 22nd Street.
Esse é do balacobaco. Sensacional. Só espero que você saiba que comida indiana é picante. Prepare-se para beber muita água.

À noite, jantar com a filhota no Amaranth. Esse já na East 62nd Street, pertinho de nosso hotel. Muito bom, se bem que eu estava mais interessado na conversa do que na comida.

Não sei se já falei pra vocês, mas minha filha é simplesmente o máximo (cala-te boca! Hehehe).

Sexta-feira, por sinal, depois de muita caminhada, fomos visitar o escritório em que ela trabalha, no World Financial Center.

Ao lado, o buraco onde eram as Torres Gêmeas. Uma foto noturna do que estão fazendo lá:


Conhecido o escritório onde trabalha minha filha (não sei se já falei pra vocês... Psssiiii!!), jantar em um restaurante indiano ali por perto. Bom, mas nem sombra do Tamarind. Como na véspera, valeu o encontro, a conversa.

Depois conto sobre a volta que demos, depois do jantar, na Times Square, a bordo do descapotável de minha filha (não sei se já falei pra vocês...) e, principalmente, sobre o sábado e o domingo. Por hora, chega de New York.

quinta-feira, 13 de março de 2008

De esquilos, encontros e cognac


Ontem, durante o passeio pelo Central Park, a Baixinha fez questão de fotografar um esquilo. O bichinho, que procurava alimento, refugiou-se na árvore.




À noite, fomos ao Aquagrill, no Soho (210 Spring St), nem tanto à procura de alimento mas para matar a saudade da primogênita, com quem havíamos estado apenas nas férias do final de 2.006, em Portugal.
Ao contrário de Drummond, para quem essa lua, esse cognac o deixavam emocionado como o diabo, foi o estar emocionado como o diabo que me fez tomar alguns cognacs a mais e acordar, hoje, com uma certa ressaca que me fez viver o dia em câmera lenta.

terça-feira, 11 de março de 2008

New York - a chegada


É tudo um tanto assustador. Desde a alfândega em Guarulhos, há cuidados mil. Seu passaporte é olhado com atenção. Suas bagagens de mão, idem. Ao entrar na lagarta que leva ao avião, há funcionários para abrir suas bagagens de mão (que já passaram pelo raio-X) e verificá-las com certo detalhe. Dentro do avião, os comissários avisam a respeito de coisas proibidas quando da entrada nos Estados Unidos. Por exemplo, é proibido entrar com isqueiro.
Eis que, ao chegar a NY, passamos pela alfândega sem o mínimo de verificação. Durma-se com esse barulho. E se eu estivesse indo pra NY pra derrubar as Torres Gêmeas?! Tá bom, elas já foram derrubadas. Deixa pra lá.
Nosso hotel é o Park Lane, ao sul do Central Park. O senhor que nos levou ao quarto esmerou-se para abrir a cortina e mostrar a paisagem. Acontece que já estava escuro e só vimos breu.
Cansados, fomos comer alguma coisa perto do hotel. Uma porcaria. Azar nosso. O jeito foi ir dormir.
Ao acordar, agora sim, eis o Central Park.

Lado Oeste, onde moram, segundo Nelson Motta, Yoko Ono e Madonna
Lado Leste, onde - sempre segundo Nelson Motta - morou Jacqueline Kennedy
Claro, andamos por boa parte dele. À noite, vamos jantar com minha filha.
Esse reencontro vale vários Central Park.
E bota vários nisso.

sábado, 8 de março de 2008

Fazendo as malas


É verdade. Por mim, jamais iria a New York. Talvez porque durante muitos anos isso me foi impossível. Eu era cassado político no Brasil, não me deixariam entrar lá.
Acontece que minha primogênita foi lá viver. Deu-se, aliás, muito bem. É hoje diretora de multinacional, acaba de ganhar prêmio pelo desempenho em 2.007. Ganhou, como recompensa, viagem internacional e outros badulaques.
Minha neta joga soccer. Ou seja, futebol.

Leva jeito
Daí, tenho de ir lá. Certo?
Veremos o que vai ocorrer.
Conto pra vocês.

domingo, 2 de março de 2008

O gênio


Estava eu, hoje, a aguardar uma mesa no Fogo de Chão do aeroporto (o da avenida Santo Amaro está em reformas), quando chega Delúbio Soares, trajando camiseta do São Paulo F. C.. Senta-se ao lado de uma mulher, também à espera de mesa.
Peguei o celular e tentei disfarçar que o que desejava era uma foto dele. Ele percebeu, claro. Mas não esboçou nenhuma reação.
Só não tive coragem de pedir autógrafo.
Afinal, esse é gênio. Saiu de uma humilde função de professor em Goiás, interiorzão, e tornou-se o arrecadador das fortunas do PT.
Flagrado, não denunciou nenhum comparsa. Só profetizou que o mensalão ainda viraria piada de salão.
Não deu outra.
Hoje, vive livre, leve e solto.




Pra mim, trata-se do representante de uma era. Não houve a era Dunga?
Penso que vivemos a era Delúbio.

sábado, 1 de março de 2008

"Uma cicatriz no cotidiano"


Aline e o Prazer.
Indescritível enlevo...

Da rudeza amorosa das trasmontanas


Telefonei a uma de minhas primas de Passos, dia desses. Falei de nossa ida em setembro, minhas irmãs e cunhados incluídos.
Perguntou-me se tudo ia bem com mulher e filhos e netos.
Sim, tudo vai bem.
- Mas faleceu o primo Abílio, não? disse eu.
E ela, com a maior naturalidade:
- Sim, viste! Ele queria que levasses o garrafão de aguardente quando estiveste aqui. Não foste buscá-lo. Viste!


P.S.: que este post seja tributo à memória de Abílio, sem o qual Passos diminuiu um tanto.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Prestação de contas


No remoto ano de 1.961 afastei-me de Santos para estudar em São Paulo. Queria fazer cursinho pré-vestibular. Eu ainda ia fazer o 2° científico, como se dizia na época, mas inventei isso de fazer cursinho duas vezes: durante o 2° científico e também durante o 3° científico, como todo mundo. Hoje em dia, essa prática já está de há muito institucionalizada. Até os vestibulares das faculdades consideram os que fazem vestibular sem terem concluído o curso secundário. São os treineiros.
Pois é. Modestamente, quem inventou essa fui eu.
Na verdade, se tomei essa decisão por perceber que o ensino do Instituto de Educação Canadá estava muito ruim, também pesou o querer livrar-me um pouco da tutela paterna, muito rígida.
Se a idéia de fazer duas vezes cursinho foi excelente, o tiro me saiu pela culatra no que se referia ao desejo de fugir ao controle paterno.
Minha rotina, em São Paulo, era muito mais rigorosa do que qualquer vigilância de meu pai.
Por ser pastor batista, meu pai conseguira que eu ficasse alojado na Faculdade de Teologia, anexa ao Colégio Baptista Brasileiro, em Perdizes. Lá residiam alguns seminaristas. Fui morar com eles.
Acordava com o primeiro toque do sinal de início das aulas do Colégio. Ao terceiro toque, lá estava eu, entrando por um portão interno, que ligava a Faculdade ao Colégio.
Ao final das aulas, era o tempo de trocar o material escolar do Colégio pelo do cursinho, pegar um ônibus em direção à praça João Mendes, almoçar na cocheira de um bar quase na esquina da Conselheiro Furtado e dirigir-me à Conde de Sarzedas, onde me aguardava o Curso Di Tullio, do qual qualquer um que por lá tenha passado garanto que guarda saudade.
Ao final da tarde, ônibus de volta a Perdizes.
Fazia um lanche dentro mesmo do quarto, tomava um banho e estudava até meia-noite, uma da manhã.
Isso, de segunda a sábado, sem refresco. Nada de cinema, nada de nada.
O dinheiro que meu pai me dava pra enfrentar a semana era consumido nos seis almoços, nas doze viagens de ônibus e nas passagens de ida e volta a Santos, nos finais de semana (ia a Santos no final das aulas de sábado e voltava domingo à noite). Ah. E em algumas frutas, pão, coisas assim, para o lanche da hora do jantar.
Havia também o pasteleiro chinês da Conselheiro Furtado, na hora do intervalo. Lá, junto com dois amigos, me divertia pedindo pastéis e Crush e ouvindo o chinês repetir pra dentro da cozinha:
- Sai tlês pastéis e tlês Clushs!
Da semanada que meu pai me concedia, quase nada sobrava. Mas era preciso prestar contas. Todo sábado ao chegar em casa, em Santos, tinha de entregar a meu pai uma folha de papel com o balanço da semana.
Vai daí, houve um sábado em que esqueci de fazer a prestação de contas.
Meu pai mostrou-se irritado:
- Não se esqueça de trazer o relatório na próxima semana!
Eu, que já não agüentava mais ter de produzir aquilo toda semana, arrisquei:
- Pois o senhor quer saber como é feita a tal prestação de contas, da qual o senhor é tão cioso? Pois saiba que, antes de vir para cá, em algum intervalo de aula do sábado à tarde, enfio a mão no bolso, conto quanto sobrou e faço conta de chegada: tanto para os almoços, tanto para as conduções, tanto para os lanches, mais um tanto para as passagens ida e volta a Santos. Se o resultado não bate, aumento ou diminuo um pouco o valor de algum item e pronto.
Nada disse o venerando. Ficou em silêncio.
Domingo à noite, ao despedir-se de mim, sentenciou:
- Não precisa mais fazer o relatório.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ainda o rabino Sobel


O rabino Sobel, aquele que andou furtando gravatas, vai lançar um livro. O nome provisório é Um Homem, Um Rabino.

Parece que o rabino partiu para uma tática estilo perdido por perdido, truco. Ou seja, vai tentar lucrar, com o episódio, algo mais além de gravatas. Se o trocadilho não fosse muito infame, diria que ele vai partir para o perdido por perdido, troco.
Aliás, já que estamos no perigoso terreno dos trocadilhos, sugiro outro nome pro livro:

Bravatas e Gravatas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Casas existentes


A Gazeta Mercantil informa, com alguns errinhos de português e uma tradução pra lá de sofrível (mas quem se importa?!):

Clique para ler a notícia completa

(notícia em inglês)



No Brasil, o que talvez ainda surpreenda é o aumento nas vendas de coisas inexistentes.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Enfrentando ondas


Meu primo André, em e-mail de cumprimentos pelo aniversário, aproveita para mandar-me foto que tirou no Porto, no final de 2.006.


Deixo a cargo da imaginação dos leitores, mas sem dúvida essa foto tem alguma relação de parentesco com meus 63 anos, finalmente completados.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

E vamos em frente que atrás vem gente


Sábado, agora, chego lá


E sou um legítimo self-reference man.
Seje lá o que seje isso.

Aliás, permitam-me que dedique este post à memória de meu amigo, o matemático Baroninho, precocemente falecido e que nasceu no mesmíssimo dia em que nasci. Uma das figuras mais puras que conheci.

Seu irmão mais velho, o Baronão, um dos melhores professores que tive, me veio um dia com a história de que tinha tido quatro filhos porque esse era o menor número que permitia que cada filho tivesse irmãos dos dois sexos.

Coisas de matemático. Mas de matemático do tempo em que os sexos eram só dois.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O percentual da bandalheira


Uma de minhas irmãs, matemática, não se impressionou muito com os números absolutos que apresentei no post sobre dependentes na declaração de IRPF (imposto sobre a renda – pessoa física).

Vamos, então, aos números relativos:

O total de dependentes declarados, em 2006, foi pouco menos de 18 milhões. Com a simples exigência de que fosse declarado o CPF do dependente maior de 21 anos, esse número caiu para pouco mais de 15 milhões em 2007, dando a diferença que mencionei, de 2,4 milhões (números mais exatos, aqui)

Ou seja, considerando-se o número total de declarantes (23,5 milhões em 2007) houve queda de aproximadamente 10%. Seria esse, pouco mais, pouco menos, o percentual de declarantes desonestos.

Pois é, mana. Você entende que 10% de desonestos são muito pouco perto do percentual de políticos desonestos no país. Sim, a diferença é grande, considerando-se que o percentual de políticos desonestos é aproximadamente igual a 100%.

Calma lá: é preciso lembrar que essa mutreta de incluir dependentes fajutos, além de ser apenas uma de várias mutretas utilizadas na declaração (e bota várias nisso), refere-se apenas a dependentes maiores de 21 anos e que tiveram de ser retirados das declarações ou por simplesmente não existirem ou por já constarem de outra (s) declaração (ões).

Uma análise de todas as mutretas, fosse ela possível, levaria os nossos 10% para alturas inimagináveis.

Sendo assim, vamos usar outro termômetro. Aliás, baseado em exemplo que usei no post anterior.

Diga lá, mana: quantas pessoas que montassem a banquinha de jornais que sugeri encontrariam alguma coisa lá, onde armaram a traquitana, no final do dia?

Quanto a isso você há de concordar: ninguém, rigorosamente ninguém, encontraria a caixinha de dinheiro. Tampouco os jornais. Tampouco a banquinha. Tivesse sido ela montada em qualquer parte do território nacional.

Em tempo: conhecendo minha irmã como conheço, sei que ela vai argumentar que, pra sumir a banquinha de jornais, basta um larápio nas vizinhanças. É melhor eu desistir. Mas, cá pra nós, que distribuição mais homogênea de larápios, né não?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Políticos desonestos? Os eleitores são mais


A Folha de S.Paulo publica hoje (aqui, para assinantes Folha ou UOL) algumas informações sobre a próxima declaração de Imposto sobre a Renda - Pessoa Física (em Portugal, fala-se Pessoa Singular. E Pessoa Colectiva ao invés de Pessoa Jurídica, como no Brasil).

Chamou minha atenção este detalhe:

Clique para ampliar
Cada pessoa física podia deduzir de sua renda, no cálculo de seu imposto a pagar, R$ 1.516,32 por dependente. E, para considerar alguém como dependente é preciso obedecer a certas regrinhas.
Vai daí que o simples fato de a Receita Federal ter exigido que fosse fornecido o CPF de cada dependente maior de 21 anos fez cair em 2,4 milhões o número de dependentes (e em R$ 3,6 bilhões o valor deduzido em função de dependentes).

Perguntinha: por que todo mundo reclama da desonestidade dos políticos? É evidente, por esse dado e por outros muitos, que os eleitores são tão desonestos quanto seus representantes.
Se alguém ficar ofendido diante desta minha mera constatação, experimente montar uma banquinha de jornais em uma esquina de sua rua. Coloque lá vários exemplares de jornais e revistas com a indicação dos respectivos preços. Não se esqueça de colocar uma caixinha, protegida do vento, para o pessoal (o povo!) colocar o pagamento.

No final do dia, vá recolher o resultado.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Blogorragia


Os blogs políticos, no Brasil, estão em evidência. Os jornalões já falam neles com certa freqüência. Pena que estejamos diante de caso típico do falem mal mas falem de mim.
A cara de pau de alguns deles é inacreditável. Há poucos dias, dois deles, o do Reinaldo Azevedo e o do Luis Nassif, começaram uma guerra de audiência a propósito do tal prêmio IBest. Era um tal de afirmar que a própria audiência era maior, que os comentários do outro eram inventados etc etc.
Muito bem.
Não ocorreu a nenhum deles (e isso vale pros dois citados e pra todos os outros que conheço) colocar em seu próprio blog, aberto ao público, um contador de audiência. Um desses tantos disponíveis gratuitamente na internet.
Quer dizer, ocorrer ocorreu.
Mas transparência é coisa pra se cobrar dos outros. Certo?

Quem precisa de Marcos Valério?


Não sei como os petistas ainda não lançaram mão do seguinte argumento:

Pra quê o PT precisava de Marcos Valério pra fazer toda aquela triangulação de dinheiro conhecida como Mensalão?
Bastava sacar a grana via cartão corporativo e entregá-la aos destinatários. Sem necessidade de forjar empréstimos, sem necessidade de idas a agências do Banco Rural etc etc.
Ergo, não existiu mensalão.

Aliás, esse argumento (que ofereço de grátis, como prova de profunda e sincera amizade) bem que poderia ser chamado de Um escândalo lava o outro.

E Fernando Henrique criou o cartão corporativo.
E viu Lula que o cartão era bom. (Gênesis 1:3-4)


No longínquo mês de junho de 2.005, manifestei minha perplexidade diante da revelação – feita pela ex-mulher – de que o inefável Valdemar Costa Neto dispunha de cabides com suas iniciais gravadas. Na época, me perguntava:

Haverá mais requintes nesse mar kitsch?

A resposta é sim.

O magnífico Timothy Mulholland, reitor da Universidade de Brasília, equipou seu apartamento com lixeiras que se abrem em função da simples aproximação de alguém.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Projeto estratégico


O mercurial Ciro Gomes afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo , que falta a Lula um "projeto estratégico" para o Brasil.
Quero crer que ele imagina ter um.
Se for como a merda que ele aprontou em Pecém, no Ceará, quando governador, o Brasil que se cuide.

A evolução brasileira


Há mais ou menos 90 anos, minha avó por parte de mãe morreu, no Rio de Janeiro, capital federal, de febre amarela, aos 22 anos.
Neste início de século XXI, minha neta já não corre esse risco.

Foi viver nos EUA.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Adeus, tio Vadinho


Dia terrível, o de hoje. Tinha tudo pra ser um belo dia. Afinal, era aniversário de meu pai. É certo que ele já se foi há muito. Mas todo dia 13 de fevereiro comemoro seu aniversário em minha lembrança.
Pela manhã, saboreando o lindo dia de sol que São Paulo nos oferecia, fomos levar minha tia Jesse, à beira de seus 80 anos, à geriatra. Apenas para confirmar o que já se percebia a olho nu. O mundo dela passou a ser outro. Pouco contato lhe resta com este nosso cotidiano. Consola notar que ela parece estar muito feliz em seu universo. E nos cabe, apenas, criar condições para permitir que essa felicidade se prolongue o quanto possível.
De volta à casa, a notícia: morreu meu tio Vadinho, irmão mais moço de minha mãe, irmão inseparável de minha tia Clarisse.

Vadinho, em aniversário de Clarisse
Ele, que com seus olhos claros despertou incontáveis paixões ao longo da vida, fica em minha memória com a marca de seu bom humor.
Lembro-me de um dia em que nos encontrámos na casa de outro tio meu, irmão dele, no tempo em que minha calvície começava a tornar-se notória e a dele já era quase absoluta.
A certa altura, sacou do bolso da camisa um pente. Passou-o pelos pouquíssimos fios restantes e me ensinou:
- A coisa de que careca mais gosta é pente.
Adeus, Vadinho. Adeus, tio.

Vícios e virtudes


Meu primo Orlando me informa que pretende formar uma frente com minha tia Clarisse para levar-me a crer em Deus.
Qualquer hora dessas, preciso esclarecer a ele (quem sabe ele lê este post e dispensa minha explicação oral) que considero meu ateísmo (ou agnosticismo. Pra mim, tanto faz) uma de minhas poucas virtudes.
E mais não digo pra não ofender pessoas que me são caras, entre elas o próprio Orlando.
Já defeitos e vícios eu os tenho às pencas.
Alguns, consegui abandonar. O tabaco, por exemplo. Depois de fumar por mais de 30 anos.
Outros grudaram em mim como praga. Por exemplo, o vício de ler jornais e revistas.
Não há nada mais falso e distante da realidade do que um jornalão.
Dá até pra afirmar que Globo, Estadão, Folha etc etc são incríveis obras de ficção.
Conta-se que Gabriel Garcia Marquez, questionado em entrevista sobre o método de invenção de seus improváveis personagens, respondeu:
- Invenção?! Eu vi!
Os jornalões e revistões poderiam dizer, invertendo Gabriel:
- Realidade?! Nós inventamos!
Poucos anos atrás, fui apresentado a figurão que freqüenta com assiduidade os telejornais brasileiros. Já me habituara a sua postura sisuda, preocupada com os grandes problemas nacionais etc e tal. Tudo pela TV. Em particular, longe de câmeras, de cada cinco palavras suas, seis eram de baixo calão.
Recuando mais no tempo, lembro-me de meus tempos de Brasília. Foi época de conhecer muitos figurões da República. Década de 80. Vários deles ainda montam guarda no Congresso ou no Executivo. Baixaria total. Com as raríssimas exceções de praxe. Na imprensa, todos aparecem como reservas morais da nacionalidade.
Mas, se passo alguns dias sem ler jornais ou revistas, entro em crise de abstinência.
Paciência.
Tudo indica que levarei este vício até o túmulo.
Mas morro ateu.
Afinal, alguma virtude deve-se cultivar.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Idílio


Deixa, amor, que eu te leve,
em meus braços,
até o fim do mundo.
Lá, no cume de montanha muito branca,
envolverei teu corpo
com as cores do arco-íris.

Apenas aguarda uns poucos meses.
Preciso malhar na academia
pra dar conta de todo esse exercício.

É tudo piada.
Aliás, lembrei de uma


No meu tempo de escola primária, contavam-se várias histórias do lendário Juquinha. Uma delas rezava que o Juquinha, dia após dia, escrevia na lousa, antes da entrada em classe da professora:
- O Juquinha tem pinto grande.


A professora entrava e achava preferível não dar importância àquilo. Apagava a lousa e começava a aula.
Belo dia, já cansada da insistência do Juquinha, ao dispensar a turma ordenou:
- Juquinha: você fica.

Todos saíram e lá ficou o Juquinha com a professora.
Dia seguinte, na lousa:

A propaganda é a alma do negócio.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Todos estão certos


Essa história dos cartões corporativos está se tornando muito instrutiva. Os soldados da oposição começaram a jogar lama no governo. Agora, os áulicos começam a jogar a lama de volta.
E nós, na platéia, vamos mais uma vez confirmar o que já se sabe desde sempre: todos têm razão.

Pega ladrão!


Quando eu era criança e os ladrões roubavam galinhas, era comum – durante a perseguição popular a algum batedor de carteiras – o próprio gatuno gritar Pega ladrão!, Pega ladrão!, em uníssono com o pessoal que tentava alcançá-lo. Em geral, conseguia gerar confusão suficiente para escafeder-se.
Parece que esse estratagema começa a ser usado pelo governo brasileiro. Quando a oposição se animava a criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o uso dos cartões corporativos, eis que o pessoal governista correu na frente e forçou a criação da tal CPI.

Pessoalzinho tá ficando esperto (ixpéhto, como pronunciam os cariocas, com h aspirado).

Acontece que a oposição corre atrás do larápio mas não quer prendê-lo. Quer tomar-lhe a carteira. Os governistas, indignados, se perguntam:
- Mas por que diabos correm atrás da gente?! A carteira não é deles.
A gente já sabe: a carteira que disputam é a nossa.
A gente sempre soube. Afinal, fomos nós que colocamos essa turma pra correr.
A gente pensa assim: quem corre mais é melhor.
E vota nos mais rápidos.
E sonha chegar a ser igual a eles.
O mais rápido possível.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Carnaval


O carnaval em São Paulo foi quase tão animado quanto o carnaval de Lazarim, lá perto de minha terra:

Foto de Nacho Doce/Reuters, no Público

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008