quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vícios e virtudes


Meu primo Orlando me informa que pretende formar uma frente com minha tia Clarisse para levar-me a crer em Deus.
Qualquer hora dessas, preciso esclarecer a ele (quem sabe ele lê este post e dispensa minha explicação oral) que considero meu ateísmo (ou agnosticismo. Pra mim, tanto faz) uma de minhas poucas virtudes.
E mais não digo pra não ofender pessoas que me são caras, entre elas o próprio Orlando.
Já defeitos e vícios eu os tenho às pencas.
Alguns, consegui abandonar. O tabaco, por exemplo. Depois de fumar por mais de 30 anos.
Outros grudaram em mim como praga. Por exemplo, o vício de ler jornais e revistas.
Não há nada mais falso e distante da realidade do que um jornalão.
Dá até pra afirmar que Globo, Estadão, Folha etc etc são incríveis obras de ficção.
Conta-se que Gabriel Garcia Marquez, questionado em entrevista sobre o método de invenção de seus improváveis personagens, respondeu:
- Invenção?! Eu vi!
Os jornalões e revistões poderiam dizer, invertendo Gabriel:
- Realidade?! Nós inventamos!
Poucos anos atrás, fui apresentado a figurão que freqüenta com assiduidade os telejornais brasileiros. Já me habituara a sua postura sisuda, preocupada com os grandes problemas nacionais etc e tal. Tudo pela TV. Em particular, longe de câmeras, de cada cinco palavras suas, seis eram de baixo calão.
Recuando mais no tempo, lembro-me de meus tempos de Brasília. Foi época de conhecer muitos figurões da República. Década de 80. Vários deles ainda montam guarda no Congresso ou no Executivo. Baixaria total. Com as raríssimas exceções de praxe. Na imprensa, todos aparecem como reservas morais da nacionalidade.
Mas, se passo alguns dias sem ler jornais ou revistas, entro em crise de abstinência.
Paciência.
Tudo indica que levarei este vício até o túmulo.
Mas morro ateu.
Afinal, alguma virtude deve-se cultivar.

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