sexta-feira, 11 de abril de 2014

Renúncia

Só a conhecera pequenina, criança.
Um dia a viu, já moça. Mocinha.
E a achou linda, deslumbrante mesmo.
Aproximou-se dela. Conversaram. E a paixão, nele, aumentou.
Além de linda era muito inteligente.
Ela o atendia com delicadeza, por educação. Mas não mostrava grande interesse por ele.
Já seus pais, esses queriam o relacionamento. Questões de famílias.
Julgavam o rapaz a partir do conceito que tinham dos pais dele.
E incentivavam a filha a aproximar-se dele.
Ela deixou-se levar pelos estímulos paternos. E a relação começou a nascer.
Foi quando ele parou para pensar nos desdobramentos.
Ele iniciara já havia algum tempo uma caminhada sem volta para um universo totalmente diferente da atmosfera que ela respirava. E se perguntou se fazia sentido arrastá-la consigo.
Ainda tentou conversar com ela sobre tudo isso, mas não era possível que ela percebesse a que novo mundo se referia ele.
Resolveu romper o relacionamento antes que o apego entre ambos crescesse demais.
Resolveu poupá-la.

Passado algum tempo, sentiu que não conseguiria ficar sem ela. E lhe telefonou.
Quis a sorte que fosse o pai a atender a seu chamado. O homem ficou atônito com a ligação e explicou que ela viajara.
Ficou sem saber se fora viagem para esquecê-lo ou porque o rompimento em quase nada a afetara.
Mas concluiu que fora melhor assim. Sua fraqueza não faria bem a ela. A decisão que tomara mostrava-se caminho sem volta. Melhor.

Os rumos que escolheu para sua vida de facto o levaram a grande distância do universo dela. Sentiu que afastá-la fora o certo. Um certo que às vezes doía. Mas o certo muitas vezes dói mesmo.

Às vezes ouvia notícias dela. E ficava contente ao sabê-la feliz.

Quase cinquenta anos depois a viu. Sem que fosse visto.
E sentiu emoções misturadas. Saudade, tristeza, admiração, uma quase alegria.

E ficou entre um sorriso leve e uma lágrima contida.

5 comentários:

Anónimo disse...

post autobiográfico? ass .Danilo Melo (comento como anônimo por estar lendo no celular )

Alberto disse...

Pode ser. Aliás, todo texto tem um bocadinho de autobiográfico.

Alcilea disse...

Quem seria ela?

Anónimo disse...

Que amor arrebatador.

Anónimo disse...

Ela era a prima de Passos de Lomba, a Zelinda kkkkkkkkkkkkkkkk