sexta-feira, 18 de abril de 2014

O final do evangelho de Marcos

Não sei até que ponto essa questão do final do evangelho segundo Marcos é do conhecimento de meus amigos cristãos. Edições boas do Novo Testamento (NT), em Português,  a discutem em detalhe, nomeadamente o NT de Russell Norman Champlin - edição em português que traz o texto grego, a tradução e comentários versículo a versículo, em seis grandes volumes - e a Bíblia de Jerusalém, em sua mais recente edição (2002).
As várias traduções do NT que podem ser encontradas aqui não fazem qualquer comentário a respeito, ao menos nessas versões digitalizadas. Tenho uma edição da Almeida (12ª impressão, 1957, Imprensa Bíblica Brasileira) que destaca os versículos 9 a 20 do último capítulo sob a rubrica Aparições de Jesus depois da sua ressurreição. Mas não faz nenhum comentário adicional.

Mas, afinal, qual é a questão em torno do final desse evangelho?

Há consenso quase total quanto aos versículos 9 a 20 do capítulo 16, o último do evangelho de Marcos: eles foram acrescentados tardiamente ao texto original.

Inclusivamente, esses doze versículos são substituídos, às vezes, pelo que Russell Champlin chama Término mais Breve. O NT de Champlin transcreve os dois finais.

A nota a respeito na Bíblia de Jerusalém diz:
[...] é difícil admitir que o segundo evangelho, na sua primeira redação, terminasse bruscamente no v. 8. Donde a suposição de que o final primitivo desapareceu por alguma causa por nós desconhecida e de que o atual fecho foi escrito para preencher a lacuna. Apresenta-se como um breve resumo das aparições de Cristo ressuscitado, cuja redação é sensivelmente diversa da que Marcos habitualmente usa, concreta e pitoresca. Contudo, o final que hoje possuímos era conhecido, já no séc. II por Taciano e santo Ireneu, e teve guarida na imensa maioria dos manuscritos gregos e outros. Se não se pode provar ter sido Marcos o seu autor, permanece o fato de que ele constitui, nas palavras de Swete, "uma autêntica relíquia da primeira geração cristã".

Quanto a mim, não possuidor de conhecimento que me permita discutir a questão, prefiro que o evangelho de Marcos termine no versículo 8, sem qualquer acréscimo, longo ou breve, por razões estéticas.
Dessa maneira, o evangelho que começa por
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus
terminaria assim (Marcos 16: 1 a 8):
Passado o sábado, Maria de Magdala e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungir o corpo.
De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol.
E diziam entre si:"Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?".
E erguendo os olhos, viram que a pedra já fora removida. Ora, a pedra era muito grande.
Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto.
Ele, porém, lhes disse: "Não vos espanteis! Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram.
Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia. Lá o vereis, como vos tinha dito."
Elas saíram e fugiram do túmulo, pois um temor e um estupor se apossaram delas. E nada contaram a ninguém, pois tinham medo...

Para mim, literariamente perfeito.

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