Já um grande amigo meu havia corrido ao urologista ao constatar um aumento um tanto repentino do PSA.
Por coincidência ou não, havia algum tempo que começara a praticar em bicicleta ergométrica.
O médico aconselhou-o a interromper os exercícios por três semanas e, então, refazer o exame de PSA.
O PSA de facto baixou. Mas não o suficiente para que o médico baixasse a guarda. Outros exames mostraram a existência de cancro na próstata. O problema ficou resolvido por meio de cirurgia.
Quanto a mim, que sempre tive PSA em torno de 1 (um) (o normal é entre zero e quatro), tendo meu penúltimo exame - efetuado em 2012 - resultado em 0,86, tive a ingrata notícia de que subira para 2,5 em fins de Novembro de 2013.
Lembrei-me do fator bicicleta. Acontece que durante todo o segundo semestre de 2013 eu andara de bicicleta quase todos os dias.
Meu médico de família recomendou-me uma ecografia da próstata. Como desde Dezembro de 2013 eu parara de andar de bicicleta, por várias razões que nada tinham a ver com a próstata, resolvi medir o PSA antes da tal ecografia prostática.
Resultado: 1,02.
Feita a ecografia constatou-se a inexistência de cancro e uma aceitável condição da próstata (considerada minha idade provecta...)
Meu médico de família não hesitou em recomendar-me que volte a utilizar a bicicleta.
Mas com o devido cuidado em relação ao selim.
Recomendo esse mesmo cuidado aos demais ciclistas.
A leitura deste artigo pode ser proveitosa.
E boas pedaladas.
quinta-feira, 24 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
Pai Natal existe?
Nenhuma criança nasce com a convicção de que o Pai Natal (Papai Noel, no Brasil) é um ser verdadeiro, no sentido de existente.
São os pais - a família, toda a sociedade que a rodeia - que incutem essa ideia na cabeça da criança.
E ela passa a gostar da ideia. Afinal, quando o Natal se aproxima, ela escreve ao Pai Natal sua cartinha e fica à espera de que o presente chegue.
E o melhor: o presente chega!
Como deve ser gostoso acreditar no Pai Natal!
Mas quando a criança chega a uma certa idade, os próprios pais - toda a família, a sociedade que a rodeia - resolvem que chegou a hora de informar à criança que não. Pai Natal não existe.
Por que resolvem fazer essa maldade? Porque entendem que, agora, é salutar que a criança comece a enfrentar o mundo em sua crueza. Sem enfeites, sem Pai Natal.
É certo que a criança viverá uma certa decepção ao ser informada a respeito dessa triste realidade. Mas aos poucos irá perceber que é bem melhor aceitar a realidade do que conviver com fantasias. Será mesmo melhor para ela. Quando tiver de batalhar por um emprego, por exemplo, não se sentará para escrever uma cartinha ao Pai Natal a pedir que ele lhe providencie um bom emprego. Não. Irá lutar pelo emprego. Buscar melhorar sua qualificação profissional, aperfeiçoar-se.
Até aqui toda a gente concorda.
Mas outros Pais Natal surgirão ao longo da vida. Quanto a esses, ficará cada vez mais difícil aceitar que são fantasias. Por mais evidências que se acumulem a mostrar isso.
Quanto a esses novos Pais Natal, deve-se deixar que sigam a alimentar a fantasia das gentes?
De um lado sim. Já a essa altura não se trata mais de crianças. Adultos se aferram aos mais variados Pais Natal. Mas, por serem adultos, espera-se que tenham a capacidade de desconfiar de novas fantasias.
Por outro lado não. Assim como a criança, ao tomar conhecimento da inexistência do Pai Natal, torna-se mais apta a enfrentar a realidade da vida, também adultos livres de fantasias tendem a ser mais produtivos e mais felizes. Mesmo que sejam adultos, talvez muitos precisem de algum auxílio externo que os leve a desconfiar das fantasias.
Portanto, fazer a crítica das fantasias que povoam o imaginário das pessoas e as prendem às esperanças vãs de presentes pode ser uma forma de ajudá-las a encontrar maneira mais adequada de lidar com os mistérios da vida.
Sempre será útil tentar mostrar a toda a gente que não existe Pai Natal.
Nenhum.
São os pais - a família, toda a sociedade que a rodeia - que incutem essa ideia na cabeça da criança.
E ela passa a gostar da ideia. Afinal, quando o Natal se aproxima, ela escreve ao Pai Natal sua cartinha e fica à espera de que o presente chegue.
E o melhor: o presente chega!
Como deve ser gostoso acreditar no Pai Natal!
Mas quando a criança chega a uma certa idade, os próprios pais - toda a família, a sociedade que a rodeia - resolvem que chegou a hora de informar à criança que não. Pai Natal não existe.
Por que resolvem fazer essa maldade? Porque entendem que, agora, é salutar que a criança comece a enfrentar o mundo em sua crueza. Sem enfeites, sem Pai Natal.
É certo que a criança viverá uma certa decepção ao ser informada a respeito dessa triste realidade. Mas aos poucos irá perceber que é bem melhor aceitar a realidade do que conviver com fantasias. Será mesmo melhor para ela. Quando tiver de batalhar por um emprego, por exemplo, não se sentará para escrever uma cartinha ao Pai Natal a pedir que ele lhe providencie um bom emprego. Não. Irá lutar pelo emprego. Buscar melhorar sua qualificação profissional, aperfeiçoar-se.
Até aqui toda a gente concorda.
Mas outros Pais Natal surgirão ao longo da vida. Quanto a esses, ficará cada vez mais difícil aceitar que são fantasias. Por mais evidências que se acumulem a mostrar isso.
Quanto a esses novos Pais Natal, deve-se deixar que sigam a alimentar a fantasia das gentes?
De um lado sim. Já a essa altura não se trata mais de crianças. Adultos se aferram aos mais variados Pais Natal. Mas, por serem adultos, espera-se que tenham a capacidade de desconfiar de novas fantasias.
Por outro lado não. Assim como a criança, ao tomar conhecimento da inexistência do Pai Natal, torna-se mais apta a enfrentar a realidade da vida, também adultos livres de fantasias tendem a ser mais produtivos e mais felizes. Mesmo que sejam adultos, talvez muitos precisem de algum auxílio externo que os leve a desconfiar das fantasias.
Portanto, fazer a crítica das fantasias que povoam o imaginário das pessoas e as prendem às esperanças vãs de presentes pode ser uma forma de ajudá-las a encontrar maneira mais adequada de lidar com os mistérios da vida.
Sempre será útil tentar mostrar a toda a gente que não existe Pai Natal.
Nenhum.
sexta-feira, 18 de abril de 2014
O final do evangelho de Marcos
Não sei até que ponto essa questão do final do evangelho segundo Marcos é do conhecimento de meus amigos cristãos. Edições boas do Novo Testamento (NT), em Português, a discutem em detalhe, nomeadamente o NT de Russell Norman Champlin - edição em português que traz o texto grego, a tradução e comentários versículo a versículo, em seis grandes volumes - e a Bíblia de Jerusalém, em sua mais recente edição (2002).
As várias traduções do NT que podem ser encontradas aqui não fazem qualquer comentário a respeito, ao menos nessas versões digitalizadas. Tenho uma edição da Almeida (12ª impressão, 1957, Imprensa Bíblica Brasileira) que destaca os versículos 9 a 20 do último capítulo sob a rubrica Aparições de Jesus depois da sua ressurreição. Mas não faz nenhum comentário adicional.
Mas, afinal, qual é a questão em torno do final desse evangelho?
Há consenso quase total quanto aos versículos 9 a 20 do capítulo 16, o último do evangelho de Marcos: eles foram acrescentados tardiamente ao texto original.
Inclusivamente, esses doze versículos são substituídos, às vezes, pelo que Russell Champlin chama Término mais Breve. O NT de Champlin transcreve os dois finais.
A nota a respeito na Bíblia de Jerusalém diz:
[...] é difícil admitir que o segundo evangelho, na sua primeira redação, terminasse bruscamente no v. 8. Donde a suposição de que o final primitivo desapareceu por alguma causa por nós desconhecida e de que o atual fecho foi escrito para preencher a lacuna. Apresenta-se como um breve resumo das aparições de Cristo ressuscitado, cuja redação é sensivelmente diversa da que Marcos habitualmente usa, concreta e pitoresca. Contudo, o final que hoje possuímos era conhecido, já no séc. II por Taciano e santo Ireneu, e teve guarida na imensa maioria dos manuscritos gregos e outros. Se não se pode provar ter sido Marcos o seu autor, permanece o fato de que ele constitui, nas palavras de Swete, "uma autêntica relíquia da primeira geração cristã".
Quanto a mim, não possuidor de conhecimento que me permita discutir a questão, prefiro que o evangelho de Marcos termine no versículo 8, sem qualquer acréscimo, longo ou breve, por razões estéticas.
Dessa maneira, o evangelho que começa por
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus
terminaria assim (Marcos 16: 1 a 8):
Passado o sábado, Maria de Magdala e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungir o corpo.
De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol.
E diziam entre si:"Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?".
E erguendo os olhos, viram que a pedra já fora removida. Ora, a pedra era muito grande.
Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto.
Ele, porém, lhes disse: "Não vos espanteis! Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram.
Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia. Lá o vereis, como vos tinha dito."
Elas saíram e fugiram do túmulo, pois um temor e um estupor se apossaram delas. E nada contaram a ninguém, pois tinham medo...
Para mim, literariamente perfeito.
As várias traduções do NT que podem ser encontradas aqui não fazem qualquer comentário a respeito, ao menos nessas versões digitalizadas. Tenho uma edição da Almeida (12ª impressão, 1957, Imprensa Bíblica Brasileira) que destaca os versículos 9 a 20 do último capítulo sob a rubrica Aparições de Jesus depois da sua ressurreição. Mas não faz nenhum comentário adicional.
Mas, afinal, qual é a questão em torno do final desse evangelho?
Há consenso quase total quanto aos versículos 9 a 20 do capítulo 16, o último do evangelho de Marcos: eles foram acrescentados tardiamente ao texto original.
Inclusivamente, esses doze versículos são substituídos, às vezes, pelo que Russell Champlin chama Término mais Breve. O NT de Champlin transcreve os dois finais.
A nota a respeito na Bíblia de Jerusalém diz:
[...] é difícil admitir que o segundo evangelho, na sua primeira redação, terminasse bruscamente no v. 8. Donde a suposição de que o final primitivo desapareceu por alguma causa por nós desconhecida e de que o atual fecho foi escrito para preencher a lacuna. Apresenta-se como um breve resumo das aparições de Cristo ressuscitado, cuja redação é sensivelmente diversa da que Marcos habitualmente usa, concreta e pitoresca. Contudo, o final que hoje possuímos era conhecido, já no séc. II por Taciano e santo Ireneu, e teve guarida na imensa maioria dos manuscritos gregos e outros. Se não se pode provar ter sido Marcos o seu autor, permanece o fato de que ele constitui, nas palavras de Swete, "uma autêntica relíquia da primeira geração cristã".
Quanto a mim, não possuidor de conhecimento que me permita discutir a questão, prefiro que o evangelho de Marcos termine no versículo 8, sem qualquer acréscimo, longo ou breve, por razões estéticas.
Dessa maneira, o evangelho que começa por
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus
terminaria assim (Marcos 16: 1 a 8):
Passado o sábado, Maria de Magdala e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungir o corpo.
De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol.
E diziam entre si:"Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?".
E erguendo os olhos, viram que a pedra já fora removida. Ora, a pedra era muito grande.
Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto.
Ele, porém, lhes disse: "Não vos espanteis! Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram.
Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia. Lá o vereis, como vos tinha dito."
Elas saíram e fugiram do túmulo, pois um temor e um estupor se apossaram delas. E nada contaram a ninguém, pois tinham medo...
Para mim, literariamente perfeito.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Férias conjugais
Fiz uma pesquisa perfunctória e descobri que o inventor das férias conjugais foi Paulo, aquele, o apóstolo.
Abro parêntesis para dizer que sempre que posso utilizo a palavra perfunctória ligada a investigação, análise, pesquisa. Ela dá uma ideia de profundidade, rigor. E, vai ver, significa exatamente o contrário: superficial, ligeira. Sugiro seu uso por políticos. Pega muito bem. Fecha parêntesis.
No texto em que Paulo fala aos coríntios sobre casamento e virgindade (I Coríntios 7) ele diz que o ideal seria que as pessoas não se casassem. Antes que você pense que o criador do cristianismo está a liberar algo assim como sexo livre, diga-se logo que ele começa o papo com a frase: É bom ao homem não tocar em mulher. A mim ficou a dúvida: se todos os homens seguissem o conselho de Paulo, como o apóstolo providenciaria a continuidade da espécie? Mas por sorte os homens não são lá essa maravilha...
E Paulo sabe muito bem disso. E recomenda:Todavia, para evitar a fornicação, tenha cada homem a sua mulher e cada mulher o seu marido.
E entra em detalhes: O marido cumpra o dever conjugal para com a esposa; e a mulher faça o mesmo em relação ao marido.
Um bocadinho redundante mas tudo bem. E completa: A mulher não dispõe do seu corpo; mas é o marido quem dispõe. Do mesmo modo, o marido não dispõe do seu corpo; mas é a mulher quem dispõe.
Ficou claro?
Mas agora vem a surpresa:
Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo e por algum tempo, para que vos entregueis à oração; depois disso, voltai a unir-vos [...] (grifos meus)
Estavam criadas as férias conjugais. A única alteração feita ao longo dos últimos séculos foi a respeito do que fazer durante elas.
Abro parêntesis para dizer que sempre que posso utilizo a palavra perfunctória ligada a investigação, análise, pesquisa. Ela dá uma ideia de profundidade, rigor. E, vai ver, significa exatamente o contrário: superficial, ligeira. Sugiro seu uso por políticos. Pega muito bem. Fecha parêntesis.
No texto em que Paulo fala aos coríntios sobre casamento e virgindade (I Coríntios 7) ele diz que o ideal seria que as pessoas não se casassem. Antes que você pense que o criador do cristianismo está a liberar algo assim como sexo livre, diga-se logo que ele começa o papo com a frase: É bom ao homem não tocar em mulher. A mim ficou a dúvida: se todos os homens seguissem o conselho de Paulo, como o apóstolo providenciaria a continuidade da espécie? Mas por sorte os homens não são lá essa maravilha...
E Paulo sabe muito bem disso. E recomenda:Todavia, para evitar a fornicação, tenha cada homem a sua mulher e cada mulher o seu marido.
E entra em detalhes: O marido cumpra o dever conjugal para com a esposa; e a mulher faça o mesmo em relação ao marido.
Um bocadinho redundante mas tudo bem. E completa: A mulher não dispõe do seu corpo; mas é o marido quem dispõe. Do mesmo modo, o marido não dispõe do seu corpo; mas é a mulher quem dispõe.
Ficou claro?
Mas agora vem a surpresa:
Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo e por algum tempo, para que vos entregueis à oração; depois disso, voltai a unir-vos [...] (grifos meus)
Estavam criadas as férias conjugais. A única alteração feita ao longo dos últimos séculos foi a respeito do que fazer durante elas.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Novo candidato
Surgiu um novo candidato às presidenciais brasileiras deste ano: Eduardo Neves.
Deve tratar-se de uma fusão entre Aécio Neves e Eduardo Campos. Como ambos estão mal nas sondagens, uma união radical entre eles traria novo alento às oposições em relação à candidata à reeleição (Dilma Rousseff), grande favorita..
A proposta foi publicada no Público de hoje.
Deve tratar-se de uma fusão entre Aécio Neves e Eduardo Campos. Como ambos estão mal nas sondagens, uma união radical entre eles traria novo alento às oposições em relação à candidata à reeleição (Dilma Rousseff), grande favorita..
A proposta foi publicada no Público de hoje.
Crença e coincidência
Há muito me intriga a coincidência: muita gente pensa que a verdadeira crença - seja religiosa, política, estética etc - é aquela na qual foi criado.
Sorte danada, não é mesmo?
Pois!
Mas há também quem não se sinta tão sortudo assim. Poucos, é certo.
Estou a ler o livro Caught in the Pulpit: Leaving Belief Behind (uma tradução canhestra seria: Presos ao Púlpito: Deixando a Crença para trás). Ele trata de ministros religiosos que perderam a fé. Alguns abandonaram seu ministério. Outros equilibram-se com um pé na fé e outro na descrença. Afinal, é preciso providenciar o pão de cada dia.
O livro traz a transcrição de muitas entrevistas com ministros religiosos (ou ex-ministros) em tal condição.
Uma delas é a de um ministro mórmon. Ele descreve como se desenvolveu nele a dúvida.
A certa altura da entrevista diz o que segue:
Para os Mórmons, a ideia de como você chega a saber que alguma coisa é verdade envolve ter uma experiência espiritual na qual o espírito atesta a você ou conta a você que algo é verdade.
Eu já tive algumas experiências realmente especiais - eu diria que para mim elas transcendem a mera emoção. É algo que não sei explicar, necessariamente. Mas então, por meio de minha curiosidade na Internet, eu comecei a descobrir que os Mórmons não são os únicos. Pessoas que são Católicas, Protestantes, Muçulmanas, Budistas, têm experiências espirituais também.
Se Deus quer que todos sejam Mórmons porque o Mormonismo é a verdadeira Igreja, por que concederia Ele a outras pessoas experiências espirituais que confirmariam suas próprias tradições de fé e as colocariam em outras trajetórias? É confuso, sabe?
Sorte danada, não é mesmo?
Pois!
Mas há também quem não se sinta tão sortudo assim. Poucos, é certo.
Estou a ler o livro Caught in the Pulpit: Leaving Belief Behind (uma tradução canhestra seria: Presos ao Púlpito: Deixando a Crença para trás). Ele trata de ministros religiosos que perderam a fé. Alguns abandonaram seu ministério. Outros equilibram-se com um pé na fé e outro na descrença. Afinal, é preciso providenciar o pão de cada dia.
O livro traz a transcrição de muitas entrevistas com ministros religiosos (ou ex-ministros) em tal condição.
Uma delas é a de um ministro mórmon. Ele descreve como se desenvolveu nele a dúvida.
A certa altura da entrevista diz o que segue:
Para os Mórmons, a ideia de como você chega a saber que alguma coisa é verdade envolve ter uma experiência espiritual na qual o espírito atesta a você ou conta a você que algo é verdade.
Eu já tive algumas experiências realmente especiais - eu diria que para mim elas transcendem a mera emoção. É algo que não sei explicar, necessariamente. Mas então, por meio de minha curiosidade na Internet, eu comecei a descobrir que os Mórmons não são os únicos. Pessoas que são Católicas, Protestantes, Muçulmanas, Budistas, têm experiências espirituais também.
Se Deus quer que todos sejam Mórmons porque o Mormonismo é a verdadeira Igreja, por que concederia Ele a outras pessoas experiências espirituais que confirmariam suas próprias tradições de fé e as colocariam em outras trajetórias? É confuso, sabe?
domingo, 13 de abril de 2014
Flatulência
"Capitalista ou socialista, não há modelo que resista à fome insaciável dos que acreditam que 'o lucro é meu e o prejuízo é de todos'.
Cansaço...!" (Andrea Pachá)
Cansaço...!" (Andrea Pachá)
Sim. Mas o que temos é o capitalismo. Quanto ao socialismo, houve o real , que deu no que deu. E há o utópico, reinante na cabecinha de intelectuais flatulentos.
sexta-feira, 11 de abril de 2014
Renúncia
Só a conhecera pequenina, criança.
Um dia a viu, já moça. Mocinha.
E a achou linda, deslumbrante mesmo.
Aproximou-se dela. Conversaram. E a
paixão, nele, aumentou.
Além de linda era muito inteligente.
Ela o atendia com delicadeza, por
educação. Mas não mostrava grande interesse por ele.
Já seus pais, esses queriam o
relacionamento. Questões de famílias.
Julgavam o rapaz a partir do conceito
que tinham dos pais dele.
E incentivavam a filha a aproximar-se
dele.
Ela deixou-se levar pelos estímulos
paternos. E a relação começou a nascer.
Foi quando ele parou para pensar nos
desdobramentos.
Ele iniciara já havia algum tempo uma
caminhada sem volta para um universo totalmente diferente da
atmosfera que ela respirava. E se perguntou se fazia sentido
arrastá-la consigo.
Ainda tentou conversar com ela sobre
tudo isso, mas não era possível que ela percebesse a que novo mundo
se referia ele.
Resolveu romper o relacionamento antes
que o apego entre ambos crescesse demais.
Resolveu poupá-la.
Passado algum tempo, sentiu que não
conseguiria ficar sem ela. E lhe telefonou.
Quis a sorte que fosse o pai a atender
a seu chamado. O homem ficou atônito com a ligação e explicou que
ela viajara.
Ficou sem saber se fora viagem para
esquecê-lo ou porque o rompimento em quase nada a afetara.
Mas concluiu que fora melhor assim. Sua
fraqueza não faria bem a ela. A decisão que tomara mostrava-se
caminho sem volta. Melhor.
Os rumos que escolheu para sua vida de
facto o levaram a grande distância do universo dela. Sentiu que
afastá-la fora o certo. Um certo que às vezes doía. Mas o certo
muitas vezes dói mesmo.
Às vezes ouvia notícias dela. E
ficava contente ao sabê-la feliz.
Quase cinquenta anos depois a viu. Sem
que fosse visto.
E sentiu emoções misturadas. Saudade,
tristeza, admiração, uma quase alegria.
E ficou entre um sorriso leve e uma
lágrima contida.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Mediocridade
Esse é o nome escolhido por Cláudio Giordano para seu livro de "considerações sobre a vida humana a partir de minha existência".
Giordano começa por discutir a ideia de Deus. E se declara incapaz de apostar tanto em Sua existência quanto no contrário.
Resigna-se ao agnosticismo.
Passa, então, à condição humana. E conclui pela supremacia da sociedade em face do indivíduo.
É quando se mostra revoltado pela incapacidade dos homens em submeter o egoísmo à supremacia devida ao convívio em sociedade.
A partir da afirmação do primado do coletivo sobre o individual, passa a mostrar-se o bibliófilo que Giordano sempre foi.
Aos poucos, cede a palavra a proeminentes nomes da Cultura.
E nos brinda com uma seleção magnífica e fascinante de textos que vão de Platão (Apologia de Sócrates) a Roger Scruton (Bebo, logo existo).
Aliás, termina o livro com citação desse último, a dar vaza a fina ironia:
Ao apressar a nossa morte, uma bebida não causa nenhum dano ambiental real - afinal de contas somos biodegradáveis e talvez isso até seja a melhor coisa a ser dita sobre nós.
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