quarta-feira, 28 de dezembro de 2005
Chegada
Avião na cabeceira da pista do aeroporto de Guarulhos, pronto para decolagem. A imagem é de uma câmera instalada na cauda do monstrinho, um magnífico Airbus-não-sei-das-quantas.
E São Paulo vai ficando para trás, com sua enormidade assustadora:
A viagem até Madrid é magnífica. Nenhuma turbulência. Tudo certinho. Só não digo que tenha sido agradável sair andando pela rua, sete e meia da manhã, em Madrid de quatro graus Celsius negativos. Mas já dentro do carro, novamente um calorzinho agradável.
E pé na estrada, rumo a Bragança. Sol lindo, céu azul, mas a temperatura insiste em continuar negativa. Só foi positivar-se já à chegada em Bragança, lá pelo meio dia.
Esta é a melhor maneira de entrar-se em Portugal: pelo Parque Natural de Montesinho (e que venham os protestos dos portugueses das demais regiões...)
sexta-feira, 23 de dezembro de 2005
Partida
Aeroporto, Guarulhos, 16:06
E não é que o wi-fi está funcionando?
Daqui a pouco chamam pra embarque. Lá vamos nós pra Madrid.
E, de lá, pra Bragança.
Sai o calorão de São Paulo.
Entra um friozinho de uns 5ºC.
Até breve.
Poetinha absolvido
Vinicius de Moraes escreveu o Soneto de Fidelidade no Estoril, em outubro de 1939. Não vou cometer o exagero de dizer que o soneto é perfeito graças ao lugar em que foi escrito. Mas que o local ajudou, não tenha dúvida.
Acontece que três anos antes morria Henri de Régnier (1864-1936). E daí?, dirás. Que tem o U a ver com as alças?
Tudo.
Acontece que o Régnier escreveu, em 1928, em Lui ou les Femmes et l'Amour :
L'amour est éternel tant qu'il dure.
Onze anos depois, o poetinha vem com os versos:
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Plágio? Entendo que não.
Régnier é irônico. Diz que o amor é eterno, enquanto dura (e não me venham com piadinhas de duplo sentido).
Já Vinicius não é nada irônico, neste poema. Ele deseja, ardentemente, a intensidade para seu amor (seja infinito), sem preocupar-se com a duração desse amor, ou melhor, reconhecendo a impossibilidade da duração eterna do amor (que não seja imortal).
Tanto os textos e seus contextos são diferentes, que a frase de Régnier faz sentido pleno, enquanto o último verso de Vinicius, muitas vezes erradamente citado como
Mas que seja eterno enquanto dure
fica de um non sense absoluto.
Claro que Vinicius havia lido Régnier. O Henriquinho, na época, era badaladíssimo. Alguma coisa ficou lá no fundo da massa cinzenta do nosso poeta. Mas daí a falar-se em plágio, vai uma distância intransponível.
Mas tudo isso serviu pra me aproximar de Régnier. Eu, mergulhado em minha ignorância insuperável, jamais havia lido uma linha sequer do acadêmico francês.
Agora, mesmo antes de comprar uns livrinhos dele pra ler, já fiquei fascinado por algumas das suas finas ironias. Fica esta como brinde:
As mulheres só se lembram dos homens que as fizeram rir. Os homens lembram-se apenas das mulheres que os fizeram chorar.
Tem muito mais coisa boa do Henriquinho aqui.
terça-feira, 20 de dezembro de 2005
Feliz Natal
Não tenho com o Natal uma relação muito cordial. A começar pela data, que não entendo. Como já disse Millôr, Cristo parece ter nascido seis dias antes de Cristo.
Até aí, tudo bem. Mas essa história de Papai Noel, ou Pai Natal, ou Santa Claus, enfim, fazer o quê. Tem gente que também acredita no Lula, no Zé Dirceu, coisas assim.
Mas não custa aproveitar o clima e desejar que todo mundo se dê bem, agora e sempre.
Feliz Natal procês.
Vou atrás de um pouco de neve pra dar mais realismo pro Natal. Ano passado, lá em Passos, caiu tanta neve que quase fico atolado na estrada.
Esse ano, deixo meu primo dirigir. Afinal, ele tem bem mais experiência com neve e gelo. Nisso, sou novato.
(É bom ser novo em alguma coisa.)
Mais adiante, quem sabe daqui a uns dois ou três anos, consigo arrastar minhas duas irmãs prum Natal em Passos.
Quando conseguir isso, juro que pago o mico de cantar Jingle Bells entornando um bagacinho sob a neve.
domingo, 18 de dezembro de 2005
Essa minha falta de imaginação...
Danuza Leão, em seu artigo de hoje na Folha de S.Paulo (só para assinantes), fala sobre as formas que ela considera as mais comuns de encarar a velhice.
Existem diversas maneiras de encarar o tempo: muitos vão para o campo ficar mais próximos da natureza, outros viram budistas, alguns juntam um dinheirinho e mudam de país, uns passam a beber três uísques por dia, regularmente, uns vêem televisão, uns jogam biriba, uns contam histórias do passado e usam muito a expressão "no meu tempo", outros andam na praia para manter a forma, enfim: cada um inventa uma maneira.
E eu, que não sabia que já virara um tipo.
(Ainda estou juntando o dinheirinho pra mudar de país.)
Não foi à toa que um dia, ainda garoto, reclamei com minha mãe:
Queria ser inventor, mas já inventaram tudo!
quinta-feira, 15 de dezembro de 2005
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
Livros e Blogs
Na Folha de S.Paulo de hoje, Élio Gaspari escreve sobre três personagens que, na opinião dele, representaram adequadamente suas épocas de apogeu: La Close (Roberta Close, ou Luis Roberto Gambine),
a Tiazinha (Suzana Alves)
e Bruna Surfistinha (que acaba de lançar um livro de sucesso, na esteira do êxito de seu blog).
Close representaria o momento da transição da ditadura militar para Tancredo/Sarney, via Colégio Eleitoral. Tiazinha o período da reeleição de FHC, com seus truques do real valorizado. Bruna Surfistinha é o contraponto para o PT de hoje e seu imbróglio de mensaleiros.
O artigo, infelizmente só disponível para assinantes, termina observando:
(...) há algo de novo no céu. São os blogs, com sua maravilhosa capacidade de levar qualquer um para qualquer lugar, empurrado apenas pela curiosidade, pelas próprias idéias e pela certeza de que pode dar sua opinião, pois alguém haverá de lhe dar atenção.
Por essas e por outras, sempre que alguém me sugere que publique um livro fico feliz pelo elogio embutido mas penso:
Pra quê, se já escrevo no blog?
terça-feira, 13 de dezembro de 2005
Do já engolido, do a engolir
Pois é. Dia 13. Faz 13 anos que minha mãe morreu. O nome completo dela tem 13 letras. Isso, claro, me lembra o Zagallo. Que, aos 13 anos, tive de engolir como ponta esquerda da seleção brasileira. E José Macia, o Pepe, na reserva.
Também, Feola, o técnico, deixou na reserva – além do Pepe – apenas Pelé e Garrincha. Depois, pressionado, colocou os dois últimos. Mas Pepe não entrou. Continuou Zagallo, que tinha o santo forte, ou seja, sabia puxar saco como ninguém.
Tanto sabia que em 70 substituiu o Saldanha, que não era bem visto pelos militares. Ainda bem que os jogadores não deixavam que ele escalasse o time. Ao menos é o que dizem.
Continuo engolindo o Zagallo até hoje, quase 13 vezes 4 anos depois.
E foi num dia 13 de dezembro, em 1968, que a situação começou a ficar afro-descendente.
Eu dirigia um cursinho pré-vestibular situado no Vale do Anhangabaú, esquina com Av. São João, coração de São Paulo. Junto com o Farina, um sujeito maravilhoso que a vida me levou a perder de vista.
Estávamos na correria de início do curso intensivo de final de ano. De repente, o prédio começou a tremer. Terremoto não devia ser. Mas, da rua, vinha um ronco estranho. Farina entreabriu uma cortina e colocou a cabeça pra fora.
Rapidamente recolheu a cabeça, soltou a cortina e – com olhos arregalados – exclamou:
- TANQUES!
Eram os militares desfilando sua prepotência. Para deixar claro quem mandava.
Pouco depois chegava Ricardo Maranhão, jornalista que lecionava História no cursinho, trazendo cópia de Instituições em Frangalhos, editorial de O Estado de São Paulo que causara a apreensão da edição do jornal do dia em que havia sido publicado.
A partir de então, tenho engolido militares e civis.
Haja goela.
Eles que são broncos que se entendam
O site do PT traz, com data de ontem, artigo de Tarso Genro no qual o ex-ministro da Educação e ex-presidente do PT comenta a cassação de José Dirceu.
Resumindo: ele desce o pau no ex-homem forte do PT.
Sei lá quem tem razão. Provavelmente todos eles, quando se xingam mutuamente.
Nunca tive simpatias pelo tal de Zé Dirceu. Por outro lado, como tive de conviver – durante minha militância política – com vários gaúchos da chamada esquerda revolucionária, sei que não é fácil, essa convivência. Mas, por não gostar de generalizações, não direi que o Tarso Genro é osso duro de roer, mesmo porque me parece que o simples fato de ter Luciana Genro como filha já é castigo suficiente pra todos os pecados que porventura o homem tenha cometido.
Estou mencionando o tal artigo por outra razão.
Zé Dirceu já afirmara, antes de toda a crise provocada pelas denúncias do Bob Jefferson, que "este governo não róba, nem deixa rôbar". Noves fora o risível do conteúdo dessa afirmação após todas as descobertas que se seguiram, não custava muito um ministro da Casa Civil falar um pouquinho menos toscamente.
Mas essa afirmação foi feita a aflitos microfones de afoitos jornalistas, em algum corredor da vida. Dá pra desconsiderar.
Agora, escrever errado do jeito como escreve um ex-ministro da Educação, o tal de Tarso Genro, faça-me o favor.
Tô quase achando que ele merece a filha que tem.
Bem feito.
sábado, 10 de dezembro de 2005
Antes e Depois
Minha vida se divide em antes e depois
- da morte de meu pai
- da descoberta de que – para sobreviver – era preciso trabalhar, sem parar
- da grande transa com ela, que não quis ficar comigo e preferiu o velho de 45 anos
- da tortura
- de ser pai
- de ser pai
- de ser pai
- da análise
- de me tornar português
- de encontrar a paz
- de morrer de rir com essa história de antes e depois
Afinal, só há o depois. Ou nem isso.
Goteira
Havia uma goteira em minha vida.
Troquei as telhas, ela sumiu.
Havia uma alegria a ser vivida.
Abri as portas, ela surgiu.
Havia uma dor a ser banida.
Rompi neuroses, ela ...
Não. Ela ficou como anestesiada, mas de alguma forma está lá.
Está aqui.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2005
quarta-feira, 7 de dezembro de 2005
Dúvida e sugestão
Combinei, com uns amigos, encontro num bar da rua Aspicuelta, Vila Madalena, São Paulo. E aí nasceu a dúvida. Aprendi no primário que o cara se chamava Aspilcueta. Fui ao Google e consultei "aspilcueta". Não deu outra:
Quem primeiro entendeu a língua que os índios falavam, abanheenga ou tupi — conhecida hoje como nheengatu, foi o padre João de Aspilcueta Navarro, que veio com o padre Manuel de Nóbrega.
Aí fui ao site História das Ruas de São Paulo e achei o que segue:
No ano de 1937, através da Lei 3.650, este logradouro foi considerado oficial pela Prefeitura e teve o seu leito incorporado ao domínio público (em conjunto com as Ruas Fidalga, Girassol e Harmonia). Na citada Lei, uma curiosidade: a Rua Aspicuelta é citada com a denominação de "Haspica". Em 1948 (Lei 3.694) a sua denominação já é citada corretamente como "Aspicuelta". Durante um curto período (no ano de 1940), ela foi conhecida também como "Rua Aspicuelta Navarro". A homenagem refere-se ao padre jesuíta João de Aspicuelta Navarro que, em companhia dos padres Leonardo Nunes, Antonio Pires e os irmãos Diogo Jacome e Vicente Rodrigues, integrou o grupo chefiado por Manuel da Nóbrega que veio ao Brasil na expedição colonizadora de Tomé de Souza. Saindo de Lisboa a 01/02/1549, chegou ao Brasil a 29/03/1550. Aspicuelta Navarro foi enviado para Porto Seguro, onde estavam os melhores intérpretes da língua Tupi, como escreveu o historiador Varhagem. Navarro aprendeu a língua da terra com facilidade por ser conhecedor do Euskara. Em carta de 28 de maio de 1550, ele informou já ter traduzido a "Criação do Mundo", a "Crença" e os demais artigos da fé e outras orações, especialmente o "Padre Nosso". Aspicuelta Navarro faleceu no dia 30 de abril de 1557.
Vai daí, como os caras não entram em acordo se o dito padreco era Aspilcueta ou Aspicuelta, sugiro ficarmos com a denominação anterior a 1948: Haspica. Parece-me que tal nome resulta do fato de que se tratava de rua onde muitos homens se encontravam pra bater papo e pra pegar mulher. Como desde aquele tempo os paulistas já comiam os esses, eles falavam As pica, ao invés do correto As picas.
Fosse essa rua lá na minha terra, seria Os Car@%$&%.. Deixa pra lá.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2005
Descobertas
Foi em agosto de 1.999 que fiquei sabendo da existência de duas primas minhas em Passos. E eu, que já desejava conhecer Passos por ser a terra de meu pai, desejei mais ainda conhecer minhas primas e seus maridos e seus filhos e seus netos.
Aí vão fotos dessa época.
As ruínas da casa de minha avó:
A casa de minha prima Dora:
A casa de minha prima Zelinda:
E, enfim unidos, eu e minhas primas:
A Baixinha e minhas primas:
Agora, todo ano passamos o Natal com elas.
domingo, 4 de dezembro de 2005
Corinthians campeão brasileiro?
Depende da justiça. Assim como a cassação do Zé Dirceu dependeu. Assim como a colocação em liberdade daquela velhinha traficante que tem doença terminal.
Marcos Valério e Delúbio e Duda não. Esses são réus confessos. Pra quê prendê-los? Aliás, quem tem peito pra isso que se apresente.
Por enquanto, a massa comemora.
Coringão campeão.
E o país rola escada abaixo.
De roubos e roubos
A Maray, do Che Caribe, está com problemas de servidor. Resolveu postar no fundo do quintal, ou seja, nos comentários. Tudo bem, a não ser pelo facto de não se poder referenciar diretamente seus posts.
Ontem ela escreveu um post chamado FOI MAL em que confessa o roubo de um tupperware. Vão lá ler. Como tudo que ela escreve, muito bom.
Mas cito esse post aqui para falar sobre outros roubos.
O tal tupperware surge no contexto dos esforços iniciais para fazer crescer o PT, o Partido dos Trabalhadores. E fica evidente o desconforto atual da Maray. Fala do PT de então com a ressalva de que era outra coisa, não era o de hoje.
Sei o que é isso. Como sou filho de pastor baptista, fico constrangido sempre que sou levado a mencionar esse detalhe da minha biografia. E o que é pior: meu pai foi sempre de uma honestidade absolutamente radical. Já hoje, falar-se em pastor de qualquer seita religiosa é resvalar na mais completa sacanagem. Como explicar a um jovem que em outros tempos havia pastores decentes?
Como explicar a um jovem que houve gente decente que construiu o PT, esse atual ninho de ratazanas?
A Folha de S.Paulo, hoje, no Painel(só para assinantes), informa que o PT está lutando contra certas nomeações de protegidos do ex-deputado Waldemar Costa Neto (PL) porque “do jeito que a coisa vai, só o PL vai ter dinheiro para fazer campanha no ano que vem”, no dizer de um petista. Ou seja, a festa continua.
O PT pode ludibriar e vai ludibriar grande parte dos eleitores. Seus caciques têm larga experiência em engodo.
Quero ver é convencer pessoas como a Maray, que ofereceram parte de suas vidas para tentar construir algo decente.
E que se constrangem hoje, ao tentar entender porque foram misturar-se a essa gangue.
sábado, 3 de dezembro de 2005
Em memória de Carolina Fernandes
Fez vinte anos, este ano, que morreu minha tia Carola. Carolina de nascimento, achava o nome horrível e tornou-se Carola (vejam como a moda muda). Meia irmã de meu pai, foi uma das pessoas mais marcantes em minha vida.
Há poucos meses, estivemos – eu e a Baixinha – no sítio de meu primo Mauro, filho único da tia Carola. Lugar paradisíaco, nas vizinhanças de Gonçalves, Minas Gerais. Ele teve a brilhante idéia de construir lá um mirante dedicado à memória da mãe.
Vejam as fotos:
A chácara onde fica o mirante é deslumbrante:
Algum português saudoso da terrinha deu esse nome a seu sítio:
A alguns quilômetros da casa de meu primo fica seu sítio, onde ele plantou uma figueira vinda de Vinhais. Vingará?
Fluência em português
A cada dia fico mais fluente em português. Aprendi, hoje, que dar uma banana é, em Portugal, fazer um manguito. Muda a fruta. O gesto é o mesmo.
Aprendi aqui.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2005
Ansiedade
Começou dezembro. Aqui em São Paulo a primavera se prepara para travestir-se em verão. Lá, no meu canto transmontano, o inverno chegou antes. Invadiu o outono.
Chego lá no dia 24. Consoada. Vou ocupar Bragança até 15 de janeiro. Preparem-se, ó bragançanos.
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