quinta-feira, 28 de abril de 2005
Que significa 25 de abril?
Vanessa, a menina do Sopa de Letrinhas, nascida com o dom da escrita, pergunta (comentário no post aí embaixo):
- Eu não sei o que se deve comemorar em 25 de abril...
É o seu aniversário?
Vanessa: de certa forma, sim. O 25 de abril (de 1.974, você nem era projeto de gente ainda) foi o dia em que os portugueses resolveram que já bastava de uma ditadura que ocupara boa parte do século 20. O primeiro ministro, Salazar, foi causa e efeito de um certo espírito português que demorou a superar-se.
Nessa época, eu mal completara um ano de liberdade. Tinha saído da prisão no início de 1.973. Fiquei feliz ao saber do desmoronamento da ditadura de Salazar. Aqui, no Brasil, teríamos de esperar mais uns onze anos pra alcançar o regime democrático.
Duas historinhas me vêm à lembrança:
Uma, meu pai contava quando eu era criança (e eu já a repeti em algum blog por aí). Durante a segunda guerra (1.939-1.945), Salazar colocou Portugal em posição de neutralidade entre o Eixo (Alemanha, Japão e Itália) e os Aliados. Suas preferências eram claramente pró-Eixo mas Portugal não estava com essa bola toda pra entrar na guerra ao lado dos nazistas. Mas – dizia meu pai – o povo português torcia pelos Aliados, em silêncio (penso que isso deve ser meia verdade, mas deixa pra lá). O facto é que um dia, em uma sessão de cinema na cidade do Porto, era projetado na tela um noticiário sobre a guerra, a mostrar vitórias dos Aliados. A platéia ansiosa para aplaudir. Mas silente, com medo das possíveis punições em caso de manifestação contrária ao Eixo. Até que um gaiato acabou com o impasse:
- Viva o Futebol Clube do Porto!, gritou no meio da platéia.
E o cinema em peso:
- Viva! Viva!
A outra eu soube de fonte mais próxima. O Estadão, na década de 60, tinha um editorialista português, Miguel Urbano Rodrigues, comunista notório. Aliás, sempre que alguém lhe perguntava como um comunista podia ser editorialista de um jornal conservador como o Estado de São Paulo, Urbano contestava:
- Sou um mero linotipista.
Pois vai daí, em 61 um certo capitão Galvão, em Portugal, rebelou-se contra a ditadura salazarista e acabou por tomar de assalto um navio – o Santa Maria – levando-o para perto de Recife, em águas brasileiras. O doutor Julinho, dono do Estadão, destacou Urbano pra cobrir o feito. Imaginou que, como português e super anti-Salazar, conseguiria boas matérias para o jornal.
Urbano foi para Recife, entrou em contato com o navio e conseguiu que Galvão o recebesse a bordo, para entrevista. Doutor Julinho, em São Paulo, não continha o entusiasmo e a ansiedade pela publicação do furo jornalístico.
Passado um breve período de alta ansiedade, chega um telegrama do Urbano:
- Aderi.
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