quarta-feira, 1 de dezembro de 2004
Do fundo do umbigo
Hoje estou deprimido. Talvez por isso tenha postado o e-mail da Lê aí abaixo. Mas confesso que não tenho muitas dúvidas sobre as questões que ela levanta. Já tive. Há uns quarenta anos atrás (pra frente é que não seria, né, seu estúpido), me perguntava sobre o sentido de escrever. Hoje, escrevo. E me divirto imenso com isso. Tenho profunda consciência da unicidade da vida (tomara esteja errado) e procuro usufruí-la ao máximo. Em menos de um ano de blog conheci pessoas maravilhosas, estabeleci relações que me alimentam a alma (seja lá o que seja isso). Pra mim, é justificativa mais do que suficiente pra manter um blog. Fico um pouco frustrado, é verdade, ao perceber que tenho mais facilidade de relacionar-me com portugueses que com brasileiros. Mas isso não ocorre só em blog. Em muito mais o Brasil me é adverso. Não posso reclamar da vida, sempre fui bem sucedido. Mas foi sempre a despeito de, apesar de. O Brasil me torturou, me prendeu, me proibiu durante dez anos o exercício dos direitos políticos. É, foi o Brasil. Não foram os militares, ou um punhado de policiais dementes e sádicos. Não. O Brasil fez isso. O grosso da população - até hoje - tem a mentalidade da ditadura militar, ninguém se iluda.
Mas, que bicho me mordeu? Vamos com calma. Há, no Brasil, milhares e milhares de coisas maravilhosas. Tom Jobim resumiu bem, com aquele forte sotaque carioca: "viver nos Estados Unidos é bom, mas é uma merrrda. Viver no Brasil é uma merrrda, mas é bom".
Sem discordar do mestre Jobim, prefiro morar em Portugal. E é pra lá que vou sexta-feira. Pena que pra ficar só um mês e meio. Um dia vou e não mais volto. Mas vou sempre amar esta terra. Fazer o quê. Sou fruto desta porcaria. Amo esta porcaria.
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