quarta-feira, 26 de maio de 2004
Co(i)tados
Deixa ver se entendi.
O sistema de cotas para negros nas universidades destina-se a dar uma chance maior de entrada no nível de ensino superior a pessoas que – graças à cor da pele – não tiveram as mesmas oportunidades de aprendizado durante o ensino médio.
Trocando em miúdos, o cidadão não está preparado para entrar na faculdade mas como isso é culpa da sociedade ele entra assim mesmo.
Aí começa o curso. Como a tal sociedade continua não oferecendo ao tal cidadão das cotas (é cotado? ou coitado?) condições para que ele estude tanto e em tão boas condições quanto os brancos, o coitado não vai conseguir boas notas nas provas.
Aí os professores vão viver o dilema: ou reprovam o coitado e um belo dia ele desiste dessa idéia elitista de fazer um curso superior, ou aprovam o dito cujo sem que ele saiba o que deveria saber.
Na primeira hipótese, o resultado é apenas postergar por um ou dois anos a frustração do jovem.
Na segunda hipótese, ele vai acabar por formar-se sem o conhecimento necessário. Digamos, só pra raciocinar, que ele se forme em medicina. Aí ele vai pro mercado de trabalho e descola um emprego em algum hospital ou em alguma clínica.
Quando morrer o primeiro paciente como resultado da inépcia do nosso medicota, ele alega em sua defesa o sistema de cotas? Argumenta de que maneira?
a) Diz que há um monte de médicos igualmente incompetentes e que se formaram fora do sistema de cotas;
b) Vale-se do corporativismo dos conselhos regionais de medicina e continua matando impunemente;
c) Manda a família do morto reclamar com o bispo, já que esse não chegou onde chegou graças a nenhum sistema de cotas (ou será que?);
d) Fica na dele já que ninguém vai perceber que ele entrou na faculdade pelo sistema de cotas. Ele é loiro, olhos azuis. Só declarou que era negro pra facilitar a vida;
e) Todas as anteriores.
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