Tinha eu meus onze ou
doze anos. Meu pai era o CEO (ou pastor, para ser mais tradicional)
de uma igreja batista, em Santos.
Havia por lá um rapaz,
o Arturzinho. Teria lá seus vinte e tal anos, criado em uma família
evangélica (não me lembro se metodista ou presbiteriana. Minha irmã
Léa certamente sabe), que queria tornar-se reverendo mas hesitava em
termos de doutrina. Tinha dúvidas entre ficar na denominação da
família ou bandear-se para os batistas.
Passou a visitar nossa
casa para discutir suas dúvidas doutrinárias com meu pai.
Passado algum tempo,
escolheu tornar-se batista.
Por que recordo essa
história?
Porque ela remonta a um
tempo em que doutrina era algo significativo.
Nestes tempos de agora,
percebo que as convicções de meus amigos batistas giram em torno de
uma experiência psicológica. E como tal, experiência individual,
solipsista.
Qualquer questão que
se levante a respeito de doutrina, a objeção é sempre do tipo:
“Tenho uma
experiência pessoal extraordinária com Jesus. E isto me basta”.
Não há como objetar
esse argumento.
Se eu afirmo que adoro
comer dióspiros (caquis), ninguém pode dizer que estou errado.
Aliás, o termo “errado” nem cabe em tal contexto. Gosto e
pronto.
O problema começa
quando quero convencer outras pessoas a gostarem de dióspiros.
Se eu disser, por
exemplo, que dióspiros curam cancro, tal afirmação passa a ser
digna de objeções e contra-argumentações. Ou dito de outra forma:
passa a necessitar de prova. De demonstração.
Quando se tenta
“converter” alguém, é necessário argumentar. O convencimento
exige alguma lógica.
Sempre se pode apelar à
emoção pura. Tentar induzir no outro aquela vivência psicológica
que afirmamos ter. Mas, nesse caso, envereda-se pelo tortuoso caminho
do charlatanismo.
Isso ganha mais
importância, me parece, quando nos referimos a crentes que se dizem
“missionários”. Ora, que missão é essa? A de trazer outros ao
rebanho.
Resta saber de que
modo.
Cada um faz sua
escolha.