terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Isto me basta


Tinha eu meus onze ou doze anos. Meu pai era o CEO (ou pastor, para ser mais tradicional) de uma igreja batista, em Santos.
Havia por lá um rapaz, o Arturzinho. Teria lá seus vinte e tal anos, criado em uma família evangélica (não me lembro se metodista ou presbiteriana. Minha irmã Léa certamente sabe), que queria tornar-se reverendo mas hesitava em termos de doutrina. Tinha dúvidas entre ficar na denominação da família ou bandear-se para os batistas.
Passou a visitar nossa casa para discutir suas dúvidas doutrinárias com meu pai.
Passado algum tempo, escolheu tornar-se batista.
Por que recordo essa história?
Porque ela remonta a um tempo em que doutrina era algo significativo.

Nestes tempos de agora, percebo que as convicções de meus amigos batistas giram em torno de uma experiência psicológica. E como tal, experiência individual, solipsista.
Qualquer questão que se levante a respeito de doutrina, a objeção é sempre do tipo:
Tenho uma experiência pessoal extraordinária com Jesus. E isto me basta”.
Não há como objetar esse argumento.
Se eu afirmo que adoro comer dióspiros (caquis), ninguém pode dizer que estou errado. Aliás, o termo “errado” nem cabe em tal contexto. Gosto e pronto.
O problema começa quando quero convencer outras pessoas a gostarem de dióspiros.
Se eu disser, por exemplo, que dióspiros curam cancro, tal afirmação passa a ser digna de objeções e contra-argumentações. Ou dito de outra forma: passa a necessitar de prova. De demonstração.

Quando se tenta “converter” alguém, é necessário argumentar. O convencimento exige alguma lógica.
Sempre se pode apelar à emoção pura. Tentar induzir no outro aquela vivência psicológica que afirmamos ter. Mas, nesse caso, envereda-se pelo tortuoso caminho do charlatanismo.
Isso ganha mais importância, me parece, quando nos referimos a crentes que se dizem “missionários”. Ora, que missão é essa? A de trazer outros ao rebanho.
Resta saber de que modo.

Cada um faz sua escolha.

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