sábado, 13 de dezembro de 2014

Tolerância


Fui educado em uma família profundamente religiosa. Meu pai era pastor batista, em um tempo em que os pastores não eram ladrões e enganadores, como a quase totalidade deles o é, nos dias de hoje.
Em minha casa respirava-se cristianismo. Não esse cristianismo de TV que percebo ser o que hoje se pratica. Meus pais seguiam uma doutrina, não modismos.

Por isso, ao me perceber ateu, duas conclusões a mim se impuseram:
A primeira: a religião é construção humana destinada ao papel de placebo para as angústias, aflições e interrogações humanas.
A segunda: os que não pensam como eu não são – ipso facto – pessoas desprezíveis. Meu universo mais íntimo era constituído por pessoas que eu sabia serem íntegras e, no entanto, religiosas.

Aprendi a lição: não pensar da mesma forma que eu não desqualifica ninguém.

Quando já ia eu pelo menos mau caminho do anarquismo, surgiu-me a segunda religião: o marxismo-leninismo.
Embarquei nessa nau de corpo e alma. Não estava ainda suficientemente vacinado.

Uns poucos anos de minha juventude dedicados à tal “luta revolucionária” e a um bom tempo de cadeia na companhia da nata da Esquerda brasileira me tornaram imune a essas crenças.

Percebo, com tristeza mas com resignação, que os que nunca saíram dos espaços das seitas cristãs ou os que foram sempre alimentados – desde a infância – pelas concepções da Esquerda, enxergam ateus, uns, e liberais, outros, como representantes do Mal.

E vomitam argumentos decorados há tempos.
Gritam para que se ouçam.

Não há racionalidade que os atinja.
(nem diabo que os carregue)



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