O imortal Carlos Heitor
Cony, escritor brasileiro que foi seminarista na juventude, gosta de
alardear que nada sabe.
Aqui não se desmente
ninguém. Ele deve ter toda razão.
Mesmo em relação a
assuntos dos quais deveria entender qualquer coisinha, consegue
difundir asneiras.
Em seu artigo de ontem
na Folha de SPaulo, fala do Evangelho de João como tendo sido
escrito pelo apóstolo de mesmo nome. E revela certo espanto por “um
humilde pescador” iniciar “seu depoimento com um intróito
filosófico que até hoje não foi completamente entendido”.
Já não é de agora
que se sabe que nenhum dos evangelhos canônicos é de autoria de
pessoas que tenham tido contato direto com Jesus. Como lembra Bart D.
Ehrman em seu “Jesus, interrupted” (tradução Ediouro “Quem
Jesus foi? Quem Jesus não foi?”) “Os autores dos Evangelhos
eram cristãos altamente educados, falantes de língua grega, que
provavelmente viviam fora da Palestina”.
Já em relação aos
discípulos contemporâneos de Jesus:
“(...) eram
camponeses de classe baixa da Galileia rural. A maioria deles –
certamente Simão Pedro, André, Tiago e João – era diarista
(pescadores e assemelhados); Mateus seria coletor de impostos, mas
não é clara sua posição na organização desse trabalho: se era
uma espécie de empreiteiro que trabalhava diretamente com as
autoridades governamentais para garantir o faturamento dos impostos
ou, mais provavelmente, o tipo de pessoa que esmurrava sua porta para
obrigá-lo a pagar. Nesse último caso, nada indica que ele pudesse
ter precisado de muita educação.
O mesmo certamente pode
ser dito dos outros. Temos algumas informações sobre o que era ser
um camponês de classe baixa nas regiões rurais da Palestina no
século I. Significava, para começar, que você quase certamente era
analfabeto. O próprio Jesus era altamente excepcional, no sentido de
que é claro que sabia ler (Lucas 4:16-20), mas nada indica que
soubesse escrever. Na Antiguidade, essas eram habilidades distintas,
e muitas pessoas que sabiam ler eram incapazes de escrever.”.
É isso, Cony. Não há
contradição nenhuma em João apóstolo ser um “humilde pescador”
e João evangelista ser um refinado escritor. Eles eram pessoas
distintas.
Sem comentários:
Enviar um comentário