quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Cony e a propagação de bobagens


O imortal Carlos Heitor Cony, escritor brasileiro que foi seminarista na juventude, gosta de alardear que nada sabe.
Aqui não se desmente ninguém. Ele deve ter toda razão.
Mesmo em relação a assuntos dos quais deveria entender qualquer coisinha, consegue difundir asneiras.
Em seu artigo de ontem na Folha de SPaulo, fala do Evangelho de João como tendo sido escrito pelo apóstolo de mesmo nome. E revela certo espanto por “um humilde pescador” iniciar “seu depoimento com um intróito filosófico que até hoje não foi completamente entendido”.



Já não é de agora que se sabe que nenhum dos evangelhos canônicos é de autoria de pessoas que tenham tido contato direto com Jesus. Como lembra Bart D. Ehrman em seu “Jesus, interrupted” (tradução Ediouro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”) “Os autores dos Evangelhos eram cristãos altamente educados, falantes de língua grega, que provavelmente viviam fora da Palestina”.
Já em relação aos discípulos contemporâneos de Jesus:
“(...) eram camponeses de classe baixa da Galileia rural. A maioria deles – certamente Simão Pedro, André, Tiago e João – era diarista (pescadores e assemelhados); Mateus seria coletor de impostos, mas não é clara sua posição na organização desse trabalho: se era uma espécie de empreiteiro que trabalhava diretamente com as autoridades governamentais para garantir o faturamento dos impostos ou, mais provavelmente, o tipo de pessoa que esmurrava sua porta para obrigá-lo a pagar. Nesse último caso, nada indica que ele pudesse ter precisado de muita educação.
O mesmo certamente pode ser dito dos outros. Temos algumas informações sobre o que era ser um camponês de classe baixa nas regiões rurais da Palestina no século I. Significava, para começar, que você quase certamente era analfabeto. O próprio Jesus era altamente excepcional, no sentido de que é claro que sabia ler (Lucas 4:16-20), mas nada indica que soubesse escrever. Na Antiguidade, essas eram habilidades distintas, e muitas pessoas que sabiam ler eram incapazes de escrever.”.


É isso, Cony. Não há contradição nenhuma em João apóstolo ser um “humilde pescador” e João evangelista ser um refinado escritor. Eles eram pessoas distintas.

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