segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O melão




Aproveitei esta segunda-feira para ir almoçar ao Geadas.

Parêntesis: Bragança tem excelentes restaurantes. Mas dois deles são superiores: o Solar e o Geadas.
Agora, então, que os dois filhos do casal que rege o restaurante entraram na orquestra, o Geadas está primoroso.

Cheguei um bocadinho tarde, como é de meu hábito.
Fui recebido como se fosse alguém muito especial e me foi sugerido um tornedor.
Tive, então, o prazer de passar quase uma hora em um ambiente bonito e tranquilo, mergulhado em um suave som de jazz.
Se as lascas de um presunto adorável, o queijo e algum salpicão abriram meu apetite, o prato principal me elevou ao cume da gastronomia.
Vinho e pão fizeram o contracanto.
Não fosse o possível desconforto, preferiria saborear esse tornedor ajoelhado no estrado de um genuflexório.
Ao menos seria mais justo.

Um bocadinho emocionado, resolvi completar a refeição com melão.

Emoção e melão levaram-me a recordações. Ainda mais que diante de mim, para além da janela do Geadas, reinava a paisagem das margens do Fervença. E a chuva começava a ceder lugar ao sol.

E me surgiu aos olhos da alma meu pai e minha mãe a saborear um melão espanhol. Era talvez o único dos luxos a que se permitiam.
Para eles, o melão era a exceção: aos filhos tudo; a nós o melão.

E sabíamos já que o melão era para os dois.

E gostava de vê-los saborear aquela ambrosia, com prazer e cumplicidade.

1 comentário:

Alcilea disse...

E eu, ao ver a foto, pensei nesse fato, mas pensei também que você, pequeno como era, não conhecesse esse gosto deles...