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O artigo merece destaque: não é todo dia que se vê alguém de esquerda a pensar alternativas à política do presente governo.
Pena que as premissas que o autor impõe para que se concretize a alternativa por ele sonhada são de realização impossível: "Sim [as esquerdas poderão construir tal alternativa], mas só se se transformarem e se unirem, o que é exigir muito em pouco tempo.". Eu seria mais breve: é exigir muito. Ponto.
Dada a impossibilidade reconhecida pelo próprio articulista, chega a ser inócuo o restante do texto. Mas sejamos persistentes e vamos a ele.
"Primeiro, as esquerdas devem centrar-se no bem-estar dos portugueses e não nas possíveis reações dos credores."
Esta primeira assertiva lembra a piada dos náufragos isolados em uma ilha deserta, a discutir como abrir a lata de salsicha que lhes forneceria o único alimento disponível. Um deles, provavelmente um sociólogo de esquerda (pura maldade minha), dá a solução: Suponhamos que a lata esteja aberta.
Valha-me Deus: o problema a exigir solução é exactamente a existência de credores. Credores tão malvados que insistem em receber o que lhes devem.
O diabo que me impacienta é que passei anos e anos a ouvir, no Brasil, a esquerda - em particular o PT - a vociferar contra o pagamento da dívida brasileira, a pregar o calote etc etc. Para, nos últimos anos, ter de engolir o prestidigitador Lula a vangloriar-se de ter pago totalmente a tal dívida (o que não é facto, mas isso já é outra conversa).
"Segundo, o que historicamente une as esquerdas é a defesa do Estado social forte: educação pública obrigatória gratuita; serviço nacional de saúde tendencialmente gratuito, ou seja, taxas moderadoras, sim, co-pagamento, nunca; segurança social sustentável com sistema de pensões assente no princípio da repartição e não no de capitalização; bens estratégicos ou monopólios naturais (água, correios) nacionalizados."
Como sempre, descrever o paraíso é uma das especialidades das esquerdas...
E segue o sociólogo: a prioridade das prioridades deve ser a defesa do Estado social forte. E isto exige desenvolvimento. Desenvolvimento, por seu turno, exige investimento e criação de emprego.
Ele reconhece que para levar a cabo toda essa maravilha é preciso negociar com a troika. E sugere que as esquerdas se unam para serem duras nessa negociação.
Muito bem! Chegam os caçadores e matam o lobo mau. Não sem preservar a vovozinha que repousa serena no estômago do malvado.
Parece que nosso sociólogo é mais um a enxergar a política de austeridade como a fonte dos problemas e não como a possível - e única - solução.
O menino reclama por ter febre e precisar ficar acamado. Mas chora por não querer tomar o remédio.
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