O título deste post indica que vários outros virão.
Serão vários enfoques.
Um deles é o de mostrar como o Kardecismo é datado. Puro século XIX.
Como aperitivo, aí vão trechos de um artigo de Kardec na Revista Espírita Ano V - 1862, mês de Abril.
Essa revista pode ser baixada na Internet, gratuitamente. Na tradução brasileira, o artigo está nas páginas 141 a 152.
O artigo tem por título: PERFECTIBILIDADE DA RAÇA NEGRA
Pra quem não sabe, "perfectibilidade" é a capacidade de aperfeiçoar-se.
Só pra dar uma ideia do teor do artigo: a editora brasileira teve de fazer um acordo com o Ministério Público Federal (brasileiro) para poder publicá-lo. O acordo resultou na publicação (a partir da pág. 529) de uma longa Nota Explicativa que tenta convencer os leitores de que Kardec não disse o que disse.
Vou dar aqui uns trechinhos do artigo de Kardec. Quem quiser saborear o texto integral, baixe a revista.
Pág. 147: "Mas, então, por que nós, civilizados, esclarecidos, nascemos na Europa e não na Oceania? em corpos brancos, ao invés de corpos negros?"
Pág. 149: "Arago entre os selvagens, com todo o seu gênio, será tão inteligente quanto o pode ser um selvagem, e nada mais; jamais será, numa pele negra, membro do Instituto."
Pág. 150/151: "Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos; como Espíritos, trata-se, sem dúvida, de uma raça inferior, isto é, primitiva; são verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que já constitui um progresso que levarão para outra existência e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições."
Pág. 151: "Eis por que a raça negra, enquanto raça negra, corporalmente falando, jamais atingirá o nível das raças caucásicas; mas, na qualidade de Espírito, é outra coisa: pode tornar-se e tornar-se-á aquilo que somos. Apenas necessitará de tempo e de melhores instrumentos."
Quando Kardec escreveu isso (não vou qualificar. Não é preciso), ainda faltavam 26 anos para a Abolição dos escravos no Brasil. Mas convenhamos que os Espíritos podiam ter dado um ligeiro toque nele, tipo:
- Allan, corta essa!
sexta-feira, 27 de junho de 2014
quarta-feira, 25 de junho de 2014
COPA - A mordida e o carinho
Nos jogos desta terça-feira, duas
coisas me impressionaram.
No jogo entre Itália e Uruguai, a
mordida que Suárez (Uruguai) deu no ombro do defesa italiano
Chiellini. Lembrou-me a mordida de Mike Tyson na orelha de Holyfield
(1.997).
A diferença, a meu ver, é que a
mordida de Tyson revelou o desespero de um grande lutador a viver sua
decadência.
A mordida de Suárez foi a expressão
de sua vontade de vencer. Além de não ter arrancado nenhum pedaço
do defesa italiano...
Na disputa entre Grécia e Costa do
Marfim, jogo em que a Grécia estava fora da Copa até o último
instante dos acréscimos e, por meio de penalty, conseguiu reverter a
situação e mandar para casa os fabulosos jogadores africanos, os
gregos – é óbvio – festejaram demorada e efusivamente a
classificação aos oitavos. Enquanto isso, o guarda-redes africano
ficou estirado ao chão, com o rosto voltado para o relvado,
desconsolado.
Depois de alguns minutos de
comemoração, Samaras, o grego que convertera em golo o penalty, foi
até junto do guarda-redes Barry, que permanecia prostrado, e
afagou-lhe demoradamente a cabeça.
domingo, 22 de junho de 2014
COPA – Grupo E – 2ª parte
Até que neste grupo eu consegui não
errar. Até agora...
Mas penso que vão mesmo classificar-se
França e Suíça.
A Suíça deve ganhar de Honduras.
Caso a França vença o Equador, ficará
em primeiro lugar no grupo. Suíça em segundo.
Se a França perder do Equador, teremos
as três equipas empatadas com seis pontos cada.
Mas a França, atualmente, tem saldo de
6 golos. O Equador tem saldo zero e a Suíça de -2.
Nesse caso, é mais provável que a
Suíça vença Honduras por uma diferença dilatada, que torne bom o
seu saldo de golos, do que o Equador vença a França por larga
margem.
Qualquer dessas hipóteses leva à
classificação de França e Suíça.
Contudo, há os possíveis resultados
impossíveis...
sábado, 21 de junho de 2014
Madre Tereza de Calcutá - corpo e alma
Enquanto esteve em seu corpo físico, a albanesa Anjezë Gonxhe Bojaxhiu não foi propriamente alguém cujo exemplo eu recomendaria a meus filhos e netos. Basta ler o livro de Christopher Hitchens (The Missionary Position - Mother Teresa in Theory and Practice).
Contudo, ganhou o Prêmio Nobel, foi beatificada pela ICAR e é exaltada pelos espíritas. Alguns deles, ao menos, consideram que ela era médium. E, até onde consegui ver, há um grande número de textos psicografados atribuídos a ela.
Os que li são textos no estilo de autoajuda, estilo tão a gosto da grande maioria, como se pode perceber, por exemplo, no Facebook. Textos no estilo "como é bom ser bom".
Curioso: ela, que não permitia que seus doentes terminais recebessem analgésicos fortes (achava o sofrimento algo purificador) e que - bem ao estilo de muitos políticos brasileiros - ao ficar enferma foi tratar-se nas melhores clínicas dos EUA, ao passar desta vida para o mundo espiritual deve ter evoluído muito rapidamente, a julgar pela bondade e amor que escorrem de seus textos psicografados.
Curioso: ela, que não permitia que seus doentes terminais recebessem analgésicos fortes (achava o sofrimento algo purificador) e que - bem ao estilo de muitos políticos brasileiros - ao ficar enferma foi tratar-se nas melhores clínicas dos EUA, ao passar desta vida para o mundo espiritual deve ter evoluído muito rapidamente, a julgar pela bondade e amor que escorrem de seus textos psicografados.
Não sei o que diria Allan Kardec, se cá ainda estivesse. Ele que ensina: "A evolução dos Espíritos realiza-se gradualmente e algumas vezes bem lentamente.".
Enfim...
sexta-feira, 20 de junho de 2014
COPA – Grupos C e D – 2ª parte
No grupo C a Colômbia já se
classificou.
A Costa do Marfim deve conseguir também
sua classificação, apesar de ser uma equipa que segue estritamente
a Lei do Mínimo Esforço.
Isso porque Japão e Grécia fizeram o
abraço dos afogados. Ficaram no zero a zero e praticamente disseram
adeus à Copa.
O jogo prometia ser muito estudado,
principalmente por parte da Grécia, que contava em suas fileiras com
Sokratis.
E, de facto, tudo começou de modo
bastante geométrico. A Grécia tinha Kone. O Japão, Okubo.
Tudo muito equilibrado.
Ao final, ficou-me a impressão de que,
apesar de as duas equipas serem um tanto fracas, o Japão ganharia se
pudesse contar em suas fileiras com o médio do Irão, aquele.
Ficaria, então, com um meio de campo formado por Kagawa e Mehrdad.
Combinação perfeita.
E não adianta me xingar. Perco o amigo
mas não o trocadilho.
No grupo D, o Uruguai reabilitou-se da
derrota para a Costa Rica. A Inglaterra começou a dar adeus à Copa.
Teremos, então, nos oitavos,
provavelmente a Itália e quem mais? Costa Rica? Uruguai? Não
arrisco palpite.
Afinal, já deitei minha bola de
cristal ao lixo.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
COPA – Grupos A e B – 2ª parte
Só ainda não deitei fora minha bola
de cristal por não saber se devo deitá-la ao contentor de vidros ou
ao de plásticos.
Já agora estou mais aberto a hipóteses
de baixa probabilidade.
Por exemplo: Cameroun pode querer sair
de sua letargia para redimir-se de seus fiascos nesta Copa por
derrotar o Brasil.
Mas é evidente que o mais provável é
o Brasil fazer um monte de golos e ficar em primeiro lugar do grupo
A.
Já o segundo lugar ainda está para
ser disputado entre México e Croácia.
No grupo B minha alegria ficou por
conta da Austrália. Não fora seu guarda-redes cometer aquele frango
quase ao fim da partida e a Austrália poderia ainda disputar um
lugar nos oitavos.
A Espanha... bem, a Espanha destruiu
minha bola de cristal. Partiu-a em pedacinhos.
O Brasil que não se entusiasme muito
por enfrentar o Chile e não a Espanha nos oitavos. Quem tem Alexis
pode causar surpresas. Aliás, pode até ser que o Chile fique em
primeiro lugar e o Brasil tenha de jogar contra a Holanda nos
oitavos. Qualquer um deles será obstáculo difícil de ultrapassar.
LIVRE PENSAR
Olhe. Acabei de assistir a vários
jogos de futebol da Copa. Mas, antes de ir dormir, não custa quase
nada botar o cérebro pra funcionar um bocadinho.
O Universo começou com um Big Bang? Ou
é um contínuo permutar entre expansão e contração, expansão e
contração, desde sempre?
Sei lá.
E ninguém sabe.
Parece que há mais razões que validam
a teoria do Big Bang. Tudo bem.
Eu gostaria que ganhasse esse jogo a
teoria do vai e vem. Expande e contrai. Sem começo e, talvez, sem
fim.
Mas isso é apenas o que esta
formiguinha que sou eu gostaria que fosse verdade.
O Universo é maravilhoso? Ao menos pra
nós, é.
(Talvez haja em algum canto qualquer do
cosmo um grupo de seres que critiquem ferozmente essa composição
universal. É questão estética.)
Mas como derivar daí a existência de
um Deus?
Pra ajudar alguém a entender a origem
do Universo?
Não adianta. Se Deus explica a origem
do Universo, quem explicará a origem de Deus?
Se é pra me acalmar, pra me ajudar a
enfrentar as dificuldades da vida, tudo bem.
Você precisa disso? Tem de engolir
esse remédio?
Vá lá.
Mas não queira empurrar seu remédio
para outros.
Isso se chama exercício ilegal da
medicina.
terça-feira, 17 de junho de 2014
COPA - ainda o grupo F
Como
ainda não analisei a performance de cada um dos jogadores de cada
uma das equipas que já jogaram nesta Copa, digo - em primeiro lugar
e para deixar toda a gente descansada - que não o farei.
Em segundo
lugar, para não ficar totalmente omisso quanto a esse aspecto mas
considerando que não disponho mesmo de conhecimentos ludopédicos
que me permitam fazê-lo, procederei aqui a uma análise perfunctória
(tenho especial predileção por esse adjetivo, que aparenta
significar o contrário do que de facto significa) do comportamento
dos jogadores do Irão.
E por que justamente do Irão? Ora, por ser o
de mais fácil avaliação. Todos os jogadores do Irão tiveram, com
efeito, atuação em um mesmo nível. Diria, portanto, que todos
tiveram o mesmo desempenho de Mehrdad, um de seus médios.
COPA – Grupo G
Se a derrota de Portugal não implica
sua desclassificação para os oitavos, a vitória alemã indica
claramente que a Alemanha não só deverá ser a primeira deste grupo
como é, além disso, forte candidata ao título da Copa.
Isso fica mais nítido depois que os
EUA mostraram uma equipa esforçada mas de recursos limitados e Gana,
um bocadinho menos sonolenta que os demais africanos que já se
apresentaram ao distinto público nesta Copa, não conseguiu segurar
o empate que conseguira a duras penas.
Portugal tem condições para ganhar
tanto dos EUA quanto de Gana. Só é preciso que seus jogadores não
cometam mais asneiras como a que cometeu o defesa central Pepe.
Quanto a Pepe, diga-se que é um
excelente jogador mas tem alguns parafusos a menos. Já não é a
primeira vez em sua carreira que perpetra disparates como esse do
jogo com a Alemanha. Diga-se a favor desse alagoano de nascimento que
ninguém nascido no Brasil se chama Kepler impunemente.
segunda-feira, 16 de junho de 2014
COPA – Grupo F – 2ª parte
Não sei o que acontece às equipas
africanas nesta Copa. Parece não terem interesse pela competição.
Hoje, diante de uma seleção
praticamente amadora como a do Irão, a Nigéria nada conseguiu. O
jogo terminou zero a zero.
Eu, que até ontem pensava que desse
grupo sairiam classificadas as seleções da Argentina e da Nigéria,
agora já penso que provavelmente a Bósnia tome o lugar do atual
campeão africano.
Será que as seleções africanas não
vão acordar?
COPA - Grupo F
A Argentina passou pela Bósnia mais ou menos como o Brasil passou pela Croácia. Aos trancos e barrancos. Mas também como o Brasil, deve crescer nos próximos jogos. E, sem dúvida, está nos oitavos de final.
A
Nigéria deve acompanhá-la. Desde que não esteja com espírito
semelhante a Cameroun e Costa do Marfim, que parecem estar a encarar
esta Copa com enorme tédio.
Veremos
daqui a pouco, nesta segunda-feira, como se comportam Irão e
Nigéria. É óbvio que a Nigéria é superior. Mas se entrar a
dormir no jogo passa a dar esperança de classificação à Bósnia.
COPA - A derrota de Portugal
Portugal - ao contrário do que insistiram em afirmar os comentaristas da RTP (TV que transmitiu a partida) - foi derrotado pela seleção alemã. Não pelo árbitro. Quando muito, ele errou em não marcar um penálti contra a Alemanha. Mas isso quando o jogo já ia nos 3 a 0 e Portugal já jogava apenas com 10 jogadores.
Mas tal qual a Espanha, que também perdeu por diferença de 4 golos na estreia, Portugal tem tudo para passar aos oitavos de final. Basta não se deixar abater por esta (previsível) derrota.
COPA – Grupo E
Pelas características do jogo, Suíça
e Equador deveriam ter empatado. Mas a Suíça é melhor e, além
disso, teve mais sorte. Fez o gol de desempate aos 2 minutos e 57
segundos do prolongamento de 3 minutos do 2º tempo do jogo...
Honduras não tem equipa para ir a
lugar algum na Copa. E a França, não por ter vencido Honduras, deve
classificar-se para os oitavos de final.
Penso que entre Suíça e Equador, a
primeira tem mais chance de classificar-se. Até por ter vencido o
confronto direto. Qualquer uma delas que se classifique vai parar nos
oitavos. Deverá enfrentar Argentina ou Nigéria. Não há hipótese
– para nenhuma das duas – de passar aos quartos de final.
A seleção do Equador é uma equipa
com algumas semelhanças com a seleção brasileira, apesar da
diferença grande de nível técnico. Suas cores predominantes são o
azul e o amarelo. E tem um jogador extremamente preocupado com o
penteado, chamado Caicedo. O Brasil usa as mesmas cores e tem um
jogador que também se preocupa muito com o corte de cabelo e que cai
a qualquer hora.
Detalhe: no segundo gol da França,
será que a bola entrou mesmo?! Não senti firmeza nessa tecnologia
que está a ser utilizada para indicar se a bola entrou ou não. Digo
que isso é detalhe porque a França ganharia esse jogo de qualquer
forma. Mas para novas situações essa tecnologia pode dar confusão.
domingo, 15 de junho de 2014
COPA ~Grupos C e D
No grupo C, penso que a Grécia está
fora. Por uma razão muito simples: é uma equipa que não sabe fazer
gols. E, apesar de alguns luminares do futebol brasileiro dizerem que
o gol é um detalhe, isso é essencial. Ao menos para quem quer
vencer.
Entre Colômbia, Costa do Marfim e
Japão, o mais provável me parece que seja o Japão a cair fora. Mas
isso não é muito certo porque a seleção da Costa do Marfim, tal
qual a de Cameroun, parece não estar muito interessada na Copa. No
jogo com o Japão seus jogadores dormiram durante a primeira meia
hora. E o Japão fez seu gol. Depois de seus jogadores acordarem,
Costa do Marfim não teve trabalho em reverter o placar. Apenas tomou
bastante cuidado para não fazer nada além do indispensável para
ganhar.
No Grupo D a situação é mais
simples: classificam-se Itália e Inglaterra. A Costa Rica foi a
responsável pelo primeiro resultado surpreendente desta Copa ao
vencer o Uruguai. Mas não tem capacidade de desbancar nenhum dos
outros dois.
sexta-feira, 13 de junho de 2014
COPA - Grupos A e B
O que se viu, até agora, indica duas seleções em nível superior às demais: Holanda e Espanha.
As demais estão em patamar inferior.
Quanto ao Brasil, isso se pode compreender: primeiro jogo, obrigação de ganhar por jogar em casa. Mas vai ter de crescer muito se quiser passar por Holanda ou Espanha nos oitavos.
Mas a Espanha perdeu por cinco!
Isso não me impressiona, principalmente depois de ver um Chile fraco, com apenas dois jogadores acima do medíocre: Valdívia e Alexis. Esse último, um craque.
México é uma equipa razoável, nada além disso. Cameroun parece que não foi à Copa para jogar. Tem jogadores de técnica primorosa mas quase nenhum deles quer saber de jogar futebol. Assim não vai a lugar algum. O segundo lugar do grupo fica entre México e Croácia. A menos que Cameroun resolva começar a disputar a Copa...
A Austrália, que tem minha simpatia, fez bonito papel contra o Chile mas dificilmente vai fazer algum ponto antes de voltar para casa.
Vamos ver se minha bola de cristal resulta.
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Da utilidade do Espiritismo
Ainda sem entrar no mérito dos
conceitos e práticas espíritas, o que pretendo fazer em breve,
quero comentar um aspecto que me intriga e sobre o qual gostaria de
ver os comentários de meus amigos espíritas.
Janer Cristaldo já se referiu algumas
vezes, em suas crônicas, a um episódio ocorrido logo depois do
falecimento de sua esposa. Ao encontrar-se com uma amiga, ouviu dela
que na véspera estivera em uma sessão espírita e conversara com a
esposa de Janer. Ele, então, pediu à amiga que da próxima vez em
que tal contacto ocorresse, ela pedisse à falecida o código do
celular que com ele ficara. Nunca mais ouviu qualquer referência a seu pedido.
Meu pai, em seu livro sobre o
Espiritismo, escrito em 1.953, escolheu deixar para o último
capítulo a questão da utilidade dessa seita. Mas já no capítulo V
(pag. 66), coloca uma questão instigante:
“E por que é que quando se perdem
aviões e se ignora o ponto em que caíram e a sorte dos que estavam
a bordo, o espiritismo não mobiliza as suas forças para dar as
informações precisas? Perde-se muito tempo, gasta-se muito
dinheiro, sofre-se muita ansiedade e vidas preciosas desaparecem,
quando o auxílio dos mortos seria aí de um valor assombroso.”
Apesar de já se terem passado mais de
sessenta anos, a pergunta que ele aí deixou registada continua
atual, mormente agora, diante do desaparecimento do voo MH370 da
Malaysia Airlines.
terça-feira, 10 de junho de 2014
Comunidade e Propriedade
É muito comum associar-se espírito
comunitário a desinteresse pela propriedade privada.
Até mesmo as posições anticomunistas
sempre alertaram para o “perigo” que o comunismo representava
para a propriedade privada, mesmo sabendo-se que o que se pretendia
com a revolução socialista era a eliminação da propriedade
privada dos meios de produção e não de toda e qualquer propriedade
privada. Por outro lado, esse receio conservador não era de todo
desprovido de razão pois o socialismo se propõe, sempre, a
“tolerar” alguma propriedade privada. Diga-se, também, que
tendências a incentivar a propriedade privada são invariavelmente
vistas como afastamento dos padrões socialistas. Vejam-se, por
exemplo, as mudanças dos últimos anos no regime chinês.
Por tudo isso, desde que comecei a ter
contato com as aldeias portuguesas, particularmente as de
Trás-os-Montes, já lá se vão 15 anos, saltou-me aos olhos a
aparente contradição entre o espírito comunitário que nelas reina
e o rigoroso sentido de propriedade privada que é nelas a norma.
Em tempos idos, as aldeias – nas
quais as habitações não eram dotadas de boa infraestrutura -
tinham todas a Casa do Povo, acompanhada do Forno do Povo, no qual
todos vinham cozer seus pães.
Com os tempos modernos, as aldeias
passaram a ser dotadas de energia elétrica, esgoto, e as habitações
puderam desfrutar de água encanada, aquecimento e eletrodomésticos
(o frigorífico, a arca, o microondas etc etc). A Casa e o Forno do
Povo, penso que na quase totalidade delas, passaram a ser figuras
decorativas.
Contudo, o espírito comunitário que
compunha a superestrutura ideológica das aldeias manteve-se intacto.
Exemplos dele não faltam. As matanças dos porcos em Dezembro
(tradição de séculos que vem sendo destruída, a meu ver, por um
tolo conceito de saúde pública e um protecionismo animal
inconsistente), que se efetivava em cada família com a ajuda de
vizinhos e amigos convidados, que vinham auxiliar a matança e
desfrutar de merecidas refeições festivas uma vez terminado o
labor. As vindimas, em Outubro, nas quais também amigos vão ajudar
a colher as uvas, levá-las ao lagar e pisá-las. Tudo isso seguido
das indefectíveis refeições comemorativas do trabalho realizado. A
apanha das castanhas, operada de modo análogo (isso nas ditas
“terras frias”; nas “terras quentes” é mais adequado
falar-se em azeitonas). Sem falar nas festas anuais dos santos de
cada aldeia, em que cada habitante colabora com uma quantia
determinada para o brilho da festa.
De outro lado, chama a atenção o
rígido respeito à propriedade privada de cada família. Uma
cerejeira pode estar coalhada de cerejas perfeitamente acessíveis a
qualquer passante, mas se ela está no terreno de João, é de
propriedade de João, ninguém que não seja da família de João
esticará a mão para apanhar uma cereja que seja.
E há ainda aspectos curiosos em
relação à propriedade. Um castanheiro, por exemplo, pode estar bem
no meio do terreno de António mas ser propriedade de Abel. Será
Abel a colher as castanhas na época da apanha e consumi-las ou
levá-las ao mercado para venda.
Um caso que me chegou estes dias ao
conhecimento: uma de minhas primas e seu marido têm – em frente à
casa deles – um terreno de bom tamanho no qual plantam de um tudo.
Verduras, legumes etc. Pois ocorre que por razões que desconheço
há, em meio ao dito terreno, uma faixa de terra de dois metros de
largura que pertence a outro habitante da aldeia. Eles então levam a
plantação até ao limite da tal faixa, pulam os dois metros (que
ficam como terra nua pois o proprietário não os utiliza) e
continuam sua horta até o fim do terreno.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Das limitações da Linguagem
Reza a tradição de minha família que
uma tia, cujo nome preservo, viu-se em tempos à volta com a
impossibilidade de expressar algo que com ela se passava.
Aos factos:
Ocorreu ter a mencionada tia sido vítima de um problema qualquer que
lhe afetou um dos olhos.
Ao pensar em qual seria o modo adequado
de comunicar a seus próximos o mal que a incomodava, viu-se diante
de dilema:
- Se digo que estou com problema nos
olhos, pensarão que tenho os dois olhos enfermos, o que não é
verdadeiro.- Caso diga eu, então, que tenho problema no olho, corro o risco de pensarem que falo do olho do cu.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Cristo salva Humanidades
Fiquei agradavelmente surpreendido,
logo que vim morar em Bragança, Portugal, ao notar que as mulheres
se referem a seus maridos como “meu homem”. Não sei se isso é
hábito português ou do Norte de Portugal. Ou, mais restritamente,
de Trás-os-Montes. Também não sei se é costume de alguns lugares
no Brasil. Como o Criador na criação, apenas constatei que é bom
que assim seja.
Isso para dizer que minha mulher
comentou comigo uma notícia vista na TV: foi descoberto um planeta
com características semelhantes às da Terra.
Para mim, nenhuma novidade. Penso ser
quase impossível que não existam outros vários planetas com vida
semelhante à nossa, dada a abundância de corpos celestes que
compõem esse (quase) infinito Universo.
Mas minha mulher persistiu:
- E como fica a religião diante
dessa possibilidade?
As religiões, acostumadas a dar nó em
pingo de éter (nó em pingo d'água até eu dou), não devem
encontrar dificuldade em lidar com essa pluralidade de Humanidades.
Deus, ao criar nosso mundinho, pode
ter, antes, durante e depois, criado outros muitos mundos, habitados
por seres mais ou menos semelhantes a nós.
Na Bíblia, o Manual do Usuário
(/Utente) que ele criou para nos orientar, preocupou-se tão somente
em falar do nosso mundo. Mas os demais mundos devem ter suas Bíblias,
com suas particularidades contempladas.
Mundos há em que Eva não foi na
conversa da serpente e não comeu do fruto proibido. Com isso, neles
não há pecado original, nem necessidade de um Salvador que redima
tais humanidades. Todos continuam a desfrutar do Paraíso.
Em outros mundos, a serpente saiu a
ganhar, assim como cá entre nós. Vai daí, Deus teve de mandar Seu
Filho Unigênito para a redenção de tais humanidades.
Isso talvez até explique por que Jesus
custou a vir à Terra. Havia muitos outros mundos a salvar.
Ele teve de encarnar-se em diferentes
civilizações, de diferentes planetas. Em todas elas passar por um
processo de implantação da semente cristã. E sacrificar-se de
acordo com os costumes locais a fim de salvar cada uma de tais
culturas.
Talvez até hoje Cristo esteja a ser
crucificado (ou submetido a algum outro suplício) em algum planeta
distante.
Em alguns desses mundos o cristianismo
terá vingado, auxiliado – como cá na Terra – por fatores
políticos propícios a seu protagonismo. Alguns mundos devem ter
tido, como aqui, seus imperadores Constantinos dispostos a implantar
o cristianismo na marra.
Em outros, nem um Paulo terá surgido e
a seita diluiu-se em pouco tempo, dividida em várias facções
rivais. Para esses mundos talvez uma nova visita do Cristo seja
necessária, para tentar repor ordem na casa.
Enfim, as hipóteses são infindáveis.
Não sei como ainda não surgiu uma
seita Cristãos de Andrômeda. Ou será que já existe?
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