sexta-feira, 27 de junho de 2014

Espiritismo - 01

O título deste post indica que vários outros virão.
Serão vários enfoques.
Um deles é o de mostrar como o Kardecismo é datado. Puro século XIX.

Como aperitivo, aí vão trechos de um artigo de Kardec na Revista Espírita Ano V - 1862, mês de Abril.
Essa revista pode ser baixada na Internet, gratuitamente. Na tradução brasileira, o artigo está nas páginas 141 a 152.
O artigo tem por título: PERFECTIBILIDADE DA RAÇA NEGRA

Pra quem não sabe, "perfectibilidade" é a capacidade de aperfeiçoar-se.

Só pra dar uma ideia do teor do artigo:  a editora brasileira teve de fazer um acordo com o Ministério Público Federal (brasileiro) para poder publicá-lo. O acordo resultou na publicação (a partir da pág. 529) de uma longa Nota Explicativa que tenta convencer os leitores de que Kardec não disse o que disse.

Vou dar aqui uns trechinhos do artigo de Kardec. Quem quiser saborear o texto integral, baixe a revista.

Pág. 147:  "Mas, então, por que nós, civilizados, esclarecidos, nascemos na Europa e não na Oceania? em corpos brancos, ao invés de corpos negros?"

Pág. 149:  "Arago entre os selvagens, com todo o seu gênio, será tão inteligente quanto o pode ser um selvagem, e nada mais; jamais será, numa pele negra, membro do Instituto."

Pág. 150/151:  "Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos; como Espíritos, trata-se, sem dúvida, de uma raça inferior, isto é, primitiva; são verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que já constitui um progresso que levarão para outra existência e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições."

Pág. 151:  "Eis por que a raça negra, enquanto raça negra, corporalmente falando, jamais atingirá o nível das raças caucásicas; mas, na qualidade de Espírito, é outra coisa: pode tornar-se e tornar-se-á aquilo que somos. Apenas necessitará de tempo e de melhores instrumentos."

Quando Kardec escreveu isso (não vou qualificar. Não é preciso), ainda faltavam 26 anos para a Abolição dos escravos no Brasil. Mas convenhamos que os Espíritos podiam ter dado um ligeiro toque nele, tipo:
- Allan, corta essa!

quarta-feira, 25 de junho de 2014

COPA - A mordida e o carinho


Nos jogos desta terça-feira, duas coisas me impressionaram.

No jogo entre Itália e Uruguai, a mordida que Suárez (Uruguai) deu no ombro do defesa italiano Chiellini. Lembrou-me a mordida de Mike Tyson na orelha de Holyfield (1.997).
A diferença, a meu ver, é que a mordida de Tyson revelou o desespero de um grande lutador a viver sua decadência.
A mordida de Suárez foi a expressão de sua vontade de vencer. Além de não ter arrancado nenhum pedaço do defesa italiano...



Na disputa entre Grécia e Costa do Marfim, jogo em que a Grécia estava fora da Copa até o último instante dos acréscimos e, por meio de penalty, conseguiu reverter a situação e mandar para casa os fabulosos jogadores africanos, os gregos – é óbvio – festejaram demorada e efusivamente a classificação aos oitavos. Enquanto isso, o guarda-redes africano ficou estirado ao chão, com o rosto voltado para o relvado, desconsolado.

Depois de alguns minutos de comemoração, Samaras, o grego que convertera em golo o penalty, foi até junto do guarda-redes Barry, que permanecia prostrado, e afagou-lhe demoradamente a cabeça.

domingo, 22 de junho de 2014

COPA – Grupo E – 2ª parte



Até que neste grupo eu consegui não errar. Até agora...
Mas penso que vão mesmo classificar-se França e Suíça.
A Suíça deve ganhar de Honduras.
Caso a França vença o Equador, ficará em primeiro lugar no grupo. Suíça em segundo.
Se a França perder do Equador, teremos as três equipas empatadas com seis pontos cada.
Mas a França, atualmente, tem saldo de 6 golos. O Equador tem saldo zero e a Suíça de -2.
Nesse caso, é mais provável que a Suíça vença Honduras por uma diferença dilatada, que torne bom o seu saldo de golos, do que o Equador vença a França por larga margem.
Qualquer dessas hipóteses leva à classificação de França e Suíça.

Contudo, há os possíveis resultados impossíveis...

sábado, 21 de junho de 2014

Madre Tereza de Calcutá - corpo e alma


Enquanto esteve em seu corpo físico, a albanesa Anjezë Gonxhe Bojaxhiu não foi propriamente alguém cujo exemplo eu recomendaria a meus filhos e netos. Basta ler o livro de Christopher Hitchens (The Missionary Position - Mother Teresa in Theory and Practice).



Contudo, ganhou o Prêmio Nobel, foi beatificada pela ICAR e é exaltada pelos espíritas. Alguns deles, ao menos, consideram que ela era médium. E, até onde consegui ver, há um grande número de textos psicografados atribuídos a ela. 
Os que li são textos no estilo de autoajuda, estilo tão a gosto da grande maioria, como se pode perceber, por exemplo, no Facebook. Textos no estilo "como é bom ser bom".
Curioso: ela, que não permitia que seus doentes terminais recebessem analgésicos fortes (achava o sofrimento algo purificador) e que - bem ao estilo de muitos políticos brasileiros - ao ficar enferma foi tratar-se nas melhores clínicas dos EUA, ao passar desta vida para o mundo espiritual deve ter evoluído muito rapidamente, a julgar pela bondade e amor que escorrem de seus textos psicografados.

Não sei o que diria Allan Kardec, se cá ainda estivesse. Ele que ensina: "A evolução dos Espíritos realiza-se gradualmente e algumas vezes bem lentamente.".
Enfim...

sexta-feira, 20 de junho de 2014

COPA – Grupos C e D – 2ª parte



No grupo C a Colômbia já se classificou.
A Costa do Marfim deve conseguir também sua classificação, apesar de ser uma equipa que segue estritamente a Lei do Mínimo Esforço.
Isso porque Japão e Grécia fizeram o abraço dos afogados. Ficaram no zero a zero e praticamente disseram adeus à Copa.
O jogo prometia ser muito estudado, principalmente por parte da Grécia, que contava em suas fileiras com Sokratis.
E, de facto, tudo começou de modo bastante geométrico. A Grécia tinha Kone. O Japão, Okubo.
Tudo muito equilibrado.
Ao final, ficou-me a impressão de que, apesar de as duas equipas serem um tanto fracas, o Japão ganharia se pudesse contar em suas fileiras com o médio do Irão, aquele. Ficaria, então, com um meio de campo formado por Kagawa e Mehrdad. Combinação perfeita.
E não adianta me xingar. Perco o amigo mas não o trocadilho.

No grupo D, o Uruguai reabilitou-se da derrota para a Costa Rica. A Inglaterra começou a dar adeus à Copa.
Teremos, então, nos oitavos, provavelmente a Itália e quem mais? Costa Rica? Uruguai? Não arrisco palpite.

Afinal, já deitei minha bola de cristal ao lixo.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

COPA – Grupos A e B – 2ª parte



Só ainda não deitei fora minha bola de cristal por não saber se devo deitá-la ao contentor de vidros ou ao de plásticos.
Já agora estou mais aberto a hipóteses de baixa probabilidade.
Por exemplo: Cameroun pode querer sair de sua letargia para redimir-se de seus fiascos nesta Copa por derrotar o Brasil.
Mas é evidente que o mais provável é o Brasil fazer um monte de golos e ficar em primeiro lugar do grupo A.
Já o segundo lugar ainda está para ser disputado entre México e Croácia.

No grupo B minha alegria ficou por conta da Austrália. Não fora seu guarda-redes cometer aquele frango quase ao fim da partida e a Austrália poderia ainda disputar um lugar nos oitavos.
A Espanha... bem, a Espanha destruiu minha bola de cristal. Partiu-a em pedacinhos.

O Brasil que não se entusiasme muito por enfrentar o Chile e não a Espanha nos oitavos. Quem tem Alexis pode causar surpresas. Aliás, pode até ser que o Chile fique em primeiro lugar e o Brasil tenha de jogar contra a Holanda nos oitavos. Qualquer um deles será obstáculo difícil de ultrapassar.

LIVRE PENSAR


Olhe. Acabei de assistir a vários jogos de futebol da Copa. Mas, antes de ir dormir, não custa quase nada botar o cérebro pra funcionar um bocadinho.
O Universo começou com um Big Bang? Ou é um contínuo permutar entre expansão e contração, expansão e contração, desde sempre?
Sei lá.
E ninguém sabe.
Parece que há mais razões que validam a teoria do Big Bang. Tudo bem.
Eu gostaria que ganhasse esse jogo a teoria do vai e vem. Expande e contrai. Sem começo e, talvez, sem fim.
Mas isso é apenas o que esta formiguinha que sou eu gostaria que fosse verdade.
O Universo é maravilhoso? Ao menos pra nós, é.
(Talvez haja em algum canto qualquer do cosmo um grupo de seres que critiquem ferozmente essa composição universal. É questão estética.)

Mas como derivar daí a existência de um Deus?
Pra ajudar alguém a entender a origem do Universo?
Não adianta. Se Deus explica a origem do Universo, quem explicará a origem de Deus?
Se é pra me acalmar, pra me ajudar a enfrentar as dificuldades da vida, tudo bem.
Você precisa disso? Tem de engolir esse remédio?
Vá lá.
Mas não queira empurrar seu remédio para outros.

Isso se chama exercício ilegal da medicina.

terça-feira, 17 de junho de 2014

COPA - ainda o grupo F


Como ainda não analisei a performance de cada um dos jogadores de cada uma das equipas que já jogaram nesta Copa, digo - em primeiro lugar e para deixar toda a gente descansada - que não o farei. 
Em segundo lugar, para não ficar totalmente omisso quanto a esse aspecto mas considerando que não disponho mesmo de conhecimentos ludopédicos que me permitam fazê-lo, procederei aqui a uma análise perfunctória (tenho especial predileção por esse adjetivo, que aparenta significar o contrário do que de facto significa) do comportamento dos jogadores do Irão. 
E por que justamente do Irão? Ora, por ser o de mais fácil avaliação. Todos os jogadores do Irão tiveram, com efeito, atuação em um mesmo nível. Diria, portanto, que todos tiveram o mesmo desempenho de Mehrdad, um de seus médios.

COPA – Grupo G



Se a derrota de Portugal não implica sua desclassificação para os oitavos, a vitória alemã indica claramente que a Alemanha não só deverá ser a primeira deste grupo como é, além disso, forte candidata ao título da Copa.
Isso fica mais nítido depois que os EUA mostraram uma equipa esforçada mas de recursos limitados e Gana, um bocadinho menos sonolenta que os demais africanos que já se apresentaram ao distinto público nesta Copa, não conseguiu segurar o empate que conseguira a duras penas.

Portugal tem condições para ganhar tanto dos EUA quanto de Gana. Só é preciso que seus jogadores não cometam mais asneiras como a que cometeu o defesa central Pepe.


Quanto a Pepe, diga-se que é um excelente jogador mas tem alguns parafusos a menos. Já não é a primeira vez em sua carreira que perpetra disparates como esse do jogo com a Alemanha. Diga-se a favor desse alagoano de nascimento que ninguém nascido no Brasil se chama Kepler impunemente.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

COPA – Grupo F – 2ª parte



Não sei o que acontece às equipas africanas nesta Copa. Parece não terem interesse pela competição.
Hoje, diante de uma seleção praticamente amadora como a do Irão, a Nigéria nada conseguiu. O jogo terminou zero a zero.

Eu, que até ontem pensava que desse grupo sairiam classificadas as seleções da Argentina e da Nigéria, agora já penso que provavelmente a Bósnia tome o lugar do atual campeão africano.


Será que as seleções africanas não vão acordar?

COPA - Grupo F



A Argentina passou pela Bósnia mais ou menos como o Brasil passou pela Croácia. Aos trancos e barrancos. Mas também como o Brasil, deve crescer nos próximos jogos. E, sem dúvida, está nos oitavos de final.

A Nigéria deve acompanhá-la. Desde que não esteja com espírito semelhante a Cameroun e Costa do Marfim, que parecem estar a encarar esta Copa com enorme tédio.



Veremos daqui a pouco, nesta segunda-feira, como se comportam Irão e Nigéria. É óbvio que a Nigéria é superior. Mas se entrar a dormir no jogo passa a dar esperança de classificação à Bósnia.

COPA - A derrota de Portugal


Portugal - ao contrário do que insistiram em afirmar os comentaristas da RTP (TV que transmitiu a partida) - foi derrotado pela seleção alemã. Não pelo árbitro. Quando muito, ele errou em não marcar um penálti contra a Alemanha. Mas isso quando o jogo já ia nos 3 a 0 e Portugal já jogava apenas com 10 jogadores.
Mas tal qual a Espanha, que também perdeu por diferença de 4 golos na estreia, Portugal tem tudo para passar aos oitavos de final. Basta não se deixar abater por esta (previsível) derrota.

COPA – Grupo E



Pelas características do jogo, Suíça e Equador deveriam ter empatado. Mas a Suíça é melhor e, além disso, teve mais sorte. Fez o gol de desempate aos 2 minutos e 57 segundos do prolongamento de 3 minutos do 2º tempo do jogo...

Honduras não tem equipa para ir a lugar algum na Copa. E a França, não por ter vencido Honduras, deve classificar-se para os oitavos de final.

Penso que entre Suíça e Equador, a primeira tem mais chance de classificar-se. Até por ter vencido o confronto direto. Qualquer uma delas que se classifique vai parar nos oitavos. Deverá enfrentar Argentina ou Nigéria. Não há hipótese – para nenhuma das duas – de passar aos quartos de final.

A seleção do Equador é uma equipa com algumas semelhanças com a seleção brasileira, apesar da diferença grande de nível técnico. Suas cores predominantes são o azul e o amarelo. E tem um jogador extremamente preocupado com o penteado, chamado Caicedo. O Brasil usa as mesmas cores e tem um jogador que também se preocupa muito com o corte de cabelo e que cai a qualquer hora.


Detalhe: no segundo gol da França, será que a bola entrou mesmo?! Não senti firmeza nessa tecnologia que está a ser utilizada para indicar se a bola entrou ou não. Digo que isso é detalhe porque a França ganharia esse jogo de qualquer forma. Mas para novas situações essa tecnologia pode dar confusão.

domingo, 15 de junho de 2014

COPA ~Grupos C e D



No grupo C, penso que a Grécia está fora. Por uma razão muito simples: é uma equipa que não sabe fazer gols. E, apesar de alguns luminares do futebol brasileiro dizerem que o gol é um detalhe, isso é essencial. Ao menos para quem quer vencer.

Entre Colômbia, Costa do Marfim e Japão, o mais provável me parece que seja o Japão a cair fora. Mas isso não é muito certo porque a seleção da Costa do Marfim, tal qual a de Cameroun, parece não estar muito interessada na Copa. No jogo com o Japão seus jogadores dormiram durante a primeira meia hora. E o Japão fez seu gol. Depois de seus jogadores acordarem, Costa do Marfim não teve trabalho em reverter o placar. Apenas tomou bastante cuidado para não fazer nada além do indispensável para ganhar.


No Grupo D a situação é mais simples: classificam-se Itália e Inglaterra. A Costa Rica foi a responsável pelo primeiro resultado surpreendente desta Copa ao vencer o Uruguai. Mas não tem capacidade de desbancar nenhum dos outros dois.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

COPA - Grupos A e B



O que se viu, até agora, indica duas seleções em nível superior às demais: Holanda e Espanha.

As demais estão em patamar inferior.

Quanto ao Brasil, isso se pode compreender: primeiro jogo, obrigação de ganhar por jogar em casa. Mas vai ter de crescer muito se quiser passar por Holanda ou Espanha nos oitavos.

Mas a Espanha perdeu por cinco! 

Isso não me impressiona, principalmente depois de ver um Chile fraco, com apenas dois jogadores acima do medíocre: Valdívia e Alexis. Esse último, um craque.

México é uma equipa razoável, nada além disso. Cameroun parece que não foi à Copa para jogar. Tem jogadores de técnica primorosa mas quase nenhum deles quer saber de jogar futebol. Assim não vai a lugar algum. O segundo lugar do grupo fica entre México e Croácia. A menos que Cameroun resolva começar a disputar a Copa...

A Austrália, que tem minha simpatia, fez bonito papel contra o Chile mas dificilmente vai fazer algum ponto antes de voltar para casa.

Vamos ver se minha bola de cristal resulta.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Da utilidade do Espiritismo

Ainda sem entrar no mérito dos conceitos e práticas espíritas, o que pretendo fazer em breve, quero comentar um aspecto que me intriga e sobre o qual gostaria de ver os comentários de meus amigos espíritas.

Janer Cristaldo já se referiu algumas vezes, em suas crônicas, a um episódio ocorrido logo depois do falecimento de sua esposa. Ao encontrar-se com uma amiga, ouviu dela que na véspera estivera em uma sessão espírita e conversara com a esposa de Janer. Ele, então, pediu à amiga que da próxima vez em que tal contacto ocorresse, ela pedisse à falecida o código do celular que com ele ficara. Nunca mais ouviu qualquer referência a seu pedido.

Meu pai, em seu livro sobre o Espiritismo, escrito em 1.953, escolheu deixar para o último capítulo a questão da utilidade dessa seita. Mas já no capítulo V (pag. 66), coloca uma questão instigante:

“E por que é que quando se perdem aviões e se ignora o ponto em que caíram e a sorte dos que estavam a bordo, o espiritismo não mobiliza as suas forças para dar as informações precisas? Perde-se muito tempo, gasta-se muito dinheiro, sofre-se muita ansiedade e vidas preciosas desaparecem, quando o auxílio dos mortos seria aí de um valor assombroso.”


Apesar de já se terem passado mais de sessenta anos, a pergunta que ele aí deixou registada continua atual, mormente agora, diante do desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Comunidade e Propriedade

É muito comum associar-se espírito comunitário a desinteresse pela propriedade privada.
Até mesmo as posições anticomunistas sempre alertaram para o “perigo” que o comunismo representava para a propriedade privada, mesmo sabendo-se que o que se pretendia com a revolução socialista era a eliminação da propriedade privada dos meios de produção e não de toda e qualquer propriedade privada. Por outro lado, esse receio conservador não era de todo desprovido de razão pois o socialismo se propõe, sempre, a “tolerar” alguma propriedade privada. Diga-se, também, que tendências a incentivar a propriedade privada são invariavelmente vistas como afastamento dos padrões socialistas. Vejam-se, por exemplo, as mudanças dos últimos anos no regime chinês.

Por tudo isso, desde que comecei a ter contato com as aldeias portuguesas, particularmente as de Trás-os-Montes, já lá se vão 15 anos, saltou-me aos olhos a aparente contradição entre o espírito comunitário que nelas reina e o rigoroso sentido de propriedade privada que é nelas a norma.

Em tempos idos, as aldeias – nas quais as habitações não eram dotadas de boa infraestrutura - tinham todas a Casa do Povo, acompanhada do Forno do Povo, no qual todos vinham cozer seus pães.

Com os tempos modernos, as aldeias passaram a ser dotadas de energia elétrica, esgoto, e as habitações puderam desfrutar de água encanada, aquecimento e eletrodomésticos (o frigorífico, a arca, o microondas etc etc). A Casa e o Forno do Povo, penso que na quase totalidade delas, passaram a ser figuras decorativas.

Contudo, o espírito comunitário que compunha a superestrutura ideológica das aldeias manteve-se intacto. Exemplos dele não faltam. As matanças dos porcos em Dezembro (tradição de séculos que vem sendo destruída, a meu ver, por um tolo conceito de saúde pública e um protecionismo animal inconsistente), que se efetivava em cada família com a ajuda de vizinhos e amigos convidados, que vinham auxiliar a matança e desfrutar de merecidas refeições festivas uma vez terminado o labor. As vindimas, em Outubro, nas quais também amigos vão ajudar a colher as uvas, levá-las ao lagar e pisá-las. Tudo isso seguido das indefectíveis refeições comemorativas do trabalho realizado. A apanha das castanhas, operada de modo análogo (isso nas ditas “terras frias”; nas “terras quentes” é mais adequado falar-se em azeitonas). Sem falar nas festas anuais dos santos de cada aldeia, em que cada habitante colabora com uma quantia determinada para o brilho da festa.

De outro lado, chama a atenção o rígido respeito à propriedade privada de cada família. Uma cerejeira pode estar coalhada de cerejas perfeitamente acessíveis a qualquer passante, mas se ela está no terreno de João, é de propriedade de João, ninguém que não seja da família de João esticará a mão para apanhar uma cereja que seja.

E há ainda aspectos curiosos em relação à propriedade. Um castanheiro, por exemplo, pode estar bem no meio do terreno de António mas ser propriedade de Abel. Será Abel a colher as castanhas na época da apanha e consumi-las ou levá-las ao mercado para venda.

Um caso que me chegou estes dias ao conhecimento: uma de minhas primas e seu marido têm – em frente à casa deles – um terreno de bom tamanho no qual plantam de um tudo. Verduras, legumes etc. Pois ocorre que por razões que desconheço há, em meio ao dito terreno, uma faixa de terra de dois metros de largura que pertence a outro habitante da aldeia. Eles então levam a plantação até ao limite da tal faixa, pulam os dois metros (que ficam como terra nua pois o proprietário não os utiliza) e continuam sua horta até o fim do terreno.


segunda-feira, 9 de junho de 2014

Das limitações da Linguagem

Reza a tradição de minha família que uma tia, cujo nome preservo, viu-se em tempos à volta com a impossibilidade de expressar algo que com ela se passava.
Aos factos:
Ocorreu ter a mencionada tia sido  vítima de um problema qualquer que lhe afetou um dos olhos.
Ao pensar em qual seria o modo adequado de comunicar a seus próximos o mal que a incomodava, viu-se diante de dilema:
- Se digo que estou com problema nos olhos, pensarão que tenho os dois olhos enfermos, o que não é verdadeiro.
- Caso diga eu, então, que tenho problema no olho, corro o risco de pensarem que falo do olho do cu.


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Cristo salva Humanidades


Fiquei agradavelmente surpreendido, logo que vim morar em Bragança, Portugal, ao notar que as mulheres se referem a seus maridos como “meu homem”. Não sei se isso é hábito português ou do Norte de Portugal. Ou, mais restritamente, de Trás-os-Montes. Também não sei se é costume de alguns lugares no Brasil. Como o Criador na criação, apenas constatei que é bom que assim seja.

Isso para dizer que minha mulher comentou comigo uma notícia vista na TV: foi descoberto um planeta com características semelhantes às da Terra.
Para mim, nenhuma novidade. Penso ser quase impossível que não existam outros vários planetas com vida semelhante à nossa, dada a abundância de corpos celestes que compõem esse (quase) infinito Universo.
Mas minha mulher persistiu:
- E como fica a religião diante dessa possibilidade?

As religiões, acostumadas a dar nó em pingo de éter (nó em pingo d'água até eu dou), não devem encontrar dificuldade em lidar com essa pluralidade de Humanidades.

Deus, ao criar nosso mundinho, pode ter, antes, durante e depois, criado outros muitos mundos, habitados por seres mais ou menos semelhantes a nós.
Na Bíblia, o Manual do Usuário (/Utente) que ele criou para nos orientar, preocupou-se tão somente em falar do nosso mundo. Mas os demais mundos devem ter suas Bíblias, com suas particularidades contempladas.

Mundos há em que Eva não foi na conversa da serpente e não comeu do fruto proibido. Com isso, neles não há pecado original, nem necessidade de um Salvador que redima tais humanidades. Todos continuam a desfrutar do Paraíso.

Em outros mundos, a serpente saiu a ganhar, assim como cá entre nós. Vai daí, Deus teve de mandar Seu Filho Unigênito para a redenção de tais humanidades.

Isso talvez até explique por que Jesus custou a vir à Terra. Havia muitos outros mundos a salvar.

Ele teve de encarnar-se em diferentes civilizações, de diferentes planetas. Em todas elas passar por um processo de implantação da semente cristã. E sacrificar-se de acordo com os costumes locais a fim de salvar cada uma de tais culturas.

Talvez até hoje Cristo esteja a ser crucificado (ou submetido a algum outro suplício) em algum planeta distante.

Em alguns desses mundos o cristianismo terá vingado, auxiliado – como cá na Terra – por fatores políticos propícios a seu protagonismo. Alguns mundos devem ter tido, como aqui, seus imperadores Constantinos dispostos a implantar o cristianismo na marra.

Em outros, nem um Paulo terá surgido e a seita diluiu-se em pouco tempo, dividida em várias facções rivais. Para esses mundos talvez uma nova visita do Cristo seja necessária, para tentar repor ordem na casa.

Enfim, as hipóteses são infindáveis.

Não sei como ainda não surgiu uma seita Cristãos de Andrômeda. Ou será que já existe?