domingo, 31 de outubro de 2010
Olhar de Poliana
Uma das virtudes das atuais eleições brasileiras é que muito petista aprendeu o significado de tergiversar.
Não que não soubessem tergiversar.
Apenas não ligavam o nome à p'ssoa.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Perigos da fronteira
Daqui a pouco tempo estarei a morar praticamente na fronteira de Portugal e Espanha. Mas não me parece que Bragança seja um lugar de muitos perigos.
O título deste post refere-se à fronteira lingüística, se me permitem a imagem.
O Português e o Espanhol, justamente por serem um tanto parecidos, escondem armadilhas terríveis quando se transita de uma das línguas para a outra.
Já escrevi, aqui, a respeito do mico que paguei em Madrid por não saber que plaza, além de corresponder a praça, em Português, significa também vaga (em garagem).
Hoje descobri outra armadilha: recebi um e-mail da Iberia a anunciar novo número de sua revista Plus. É esse aí abaixo:
Fiquei intrigado. Afinal, chulo, em Português, significa grosseiro, vulgar.
Por mais criativos que sejam os marqueteiros contratados pela Iberia, penso que não chegariam ao ponto de convidar alguém para ler uma revista por ser chula.
Corri a um dicionário e descobri que chulo, em Espanhol, quer dizer legal, bacana.
Portanto, cara(o)s amiga(o)s, se ao encontrarem um(a) espanholito (a) ouvirem dele(a):
- Estás más chula(o) que nunca!
não chutem o balde.
Agradeçam o elogio.
Elogio da religião
Como se fazia no rádio, antigamente:
Dedico este vídeo a todos os meus queridos parentes profundamente religiosos.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Meus progressos na prosódia
Continuo sem saber por que os portugueses falam télémóvel e tulufone (ou até tufone). Mas aprendi há pouco tempo que o bebê do Brasil é bebé em Portugal.
O cocô brasileiro vira cocó em Portugal. O grande prejudicado, neste caso, é um cunhado meu que por ter um nome um tanto complicado, obrigou-me a ensinar meus filhos, quando pequenos, a chamá-lo de Tio Cocó (Cocó era a alcunha dele na infância).
Paciência.
Como sobremesa, aprendi que bebé (ou bebê) vem do nome de um anão da corte de Stanisław Leszczyński, rei da República das Duas Nações.
Ao menos é o que informa a Infopédia.
Não entendo como vivi mais de 65 anos sem saber disso.
sábado, 23 de outubro de 2010
Bullying ontem e hoje
Quando eu tinha meus 9 anos e freqüentava o quarto ano do curso primário no Colégio Marçal, em Santos, fazia sempre o caminho de casa à escola com o coração na mão.
É que havia um garoto gordota e maior que eu que me encontrava pelo caminho e me atormentava com tapas nas costas, na cara e me desafiava. Eu, menor que ele, fugia a correr para a escola. Isso durou alguns meses. Ninguém em minha casa nunca soube nada a respeito disso. O problema era meu.
Um ano e meio depois entrei para o ginásio, no Colégio Canadá.
No início do segundo ano do Ginásio, eis que vejo o gordota a fazer parte da turma do primeiro ano, recém entrada no colégio.
Por alguma razão qualquer eu ficara maior que ele. Além de ser veterano, com todas as vantagens que isso acarreta.
Esperei um recreio propício e o enchi de porrada.
Problema resolvido. Garanto que a família dele também nunca ouviu falar do assunto.
Hoje não.
O chamado bullying é tratado por psicólogos e pedagogos.
E aplica-se até a animais, como se pode ver no post anterior.
Se o pessoal deixasse as crianças resolverem seus problemas por conta própria e aprenderem a viver a vida, tudo seria mais fácil.
Mas...
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Sujeitinho desagradável
Esse tal de Knut deve ser um chato de galocha, apesar do jeitinho bonitinho.
Primeiro foi a mãe que não o agüentou. Agora as namoradas. Três ursinhas, com as quais ele deveria começar a transar no ano que vem, resolveram sacaneá-lo sem parar. O coitado está a ser vítima de bullying por parte delas.
Ora, se nem a mãe quis saber dele, por que diabos as moçoilas deveriam aturá-lo?!
domingo, 17 de outubro de 2010
Da Idade Média ao presente em 10 horas de voo
O Brasil, nestas eleições presidenciais, mergulhou em uma discussão travada em clima medieval. Aborto, casamento de homossexuais, adoção de crianças por casais homossexuais etc etc são temas discutidos da maneira mais canhestra imaginável.
Por isso, o colunista da Folha de S.Paulo, José Simão passou a sugerir:
E quem é a favor da descriminalização do aborto, vota em quem? No bicho papão, no cão, no coisa ruim. Ou então se muda pra Europa.
É o que vou fazer.
Só pra dar uma ideia, a legislação brasileira a respeito do aborto é:
O aborto no Brasil é tipificado como crime contra a vida pelo Código Penal Brasileiro, prevendo detenção de 1 a 10 anos, de acordo com a situação. O artigo 128 do Código Penal dispõe que não se pune o crime de aborto nas seguintes hipóteses:
1. quando não há outro meio para salvar a vida da mãe;
2. quando a gravidez resulta de estupro.
Ler mais aqui.
Já a legislação portuguesa a respeito do mesmo tema evoluiu assim:
Até 1984, o aborto era proibido em Portugal em todas as situações. A lei 6/84 veio permitir a realização da interrupção voluntária da gravidez nos casos de perigo de vida para a mulher, perigo de lesão grave e duradoura para a saúde física e psíquica da mulher, quando existe malformação fetal ou quando a gravidez resultou duma violação.
Em 1997 esta legislação foi modificada, tendo existido um alargamento no prazo em situações de malformação fetal e do que até então era chamado de “violação”, actualmente denominado por “crime contra a liberdade e autodeterminação sexual da mulher” (lei 90/97). A restrição da lei e a não resposta por parte dos estabelecimentos públicos ou publicamente reconhecidos, levou à existência de uma actividade de aborto clandestino especulativo e perigoso. Como consequência desta situação, o aborto foi, durante todos estes anos, a primeira causa de morte materna e a razão que levou milhares de mulheres aos hospitais com abortos retidos/incompletos ou com complicações resultantes desta prática.
Ao longo de mais de três décadas, muitas organizações, personalidades e profissionais de saúde lutaram por mudanças na lei, de forma a combater o aborto inseguro e ilegal. Com a lei 16/2007, a interrupção da gravidez pode, hoje, ser feita por opção da mulher até às 10 semanas.
Principais disposições legais
A alínea e) do n.º 1 do artigo 142.º do Código Penal em Portugal permite a interrupção da gravidez até às 10 semanas a todas as mulheres grávidas que o solicitem, desde que realizado em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido.
Qual é o prazo legal para a interrupção da gravidez por opção da mulher? Em Portugal, a interrupção da gravidez por opção da mulher pode ser efectuada nas primeiras 10 semanas de gravidez, calculadas a partir da data da última menstruação.
Quem pode solicitar uma interrupção da gravidez? Apenas a própria mulher poderá fazer o pedido de interrupção da gravidez, salvo no caso de ser psiquicamente incapaz.
Quem pode fazer a interrupção da gravidez? A interrupção da gravidez só pode ser realizada por médico, ou sob sua orientação e com o consentimento da mulher.
Onde se pode fazer uma interrupção da gravidez? As interrupções da gravidez podem ser efectuadas em estabelecimentos de saúde oficiais ou oficialmente reconhecidos.
As mulheres estrangeiras poderão fazer uma interrupção da gravidez em Portugal? As mulheres imigrantes têm os mesmos direitos de acesso à interrupção da gravidez, independentemente da sua situação legal.
Qualquer prestação de cuidados de saúde está sujeita a confidencialidade e ao segredo profissional, incluindo todas as etapas do processo de interrupção da gravidez descritas.
Ler mais aqui.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
O sumô e o marketing político
No dia em que fiquei a saber que existia a profissão de limpador de bunda de lutador de sumô, passei rapidamente da perplexidade para a racional constatação da óbvia necessidade da função.
O mesmo ocorreu comigo quando começaram a surgir os marqueteiros políticos, tais como o conhecido Duda Mendonça, que vende tanto Lulas quanto Pingos Doces ou qualquer outro produto.
Sem eles - assessores de lutadores de sumô e marqueteiros de políticos - seria difícil esconder a merda produzida por seus clientes.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Heróis e heróis
Pra mim, os maiores heróis nesse episódio dos mineiros chilenos foram os tais socorristas, que desceram para ajudar no resgate dos mineiros.
Claro que os mineiros se comportaram de maneira extraordinária durante os setenta dias debaixo da terra. Mas o termo herói - a meu ver - não é o que melhor os qualifica. A menos que se adote a genial e sarcástica definição de Millor Fernandes:
Herói é aquele que não teve tempo de fugir.
Já os tais socorristas se prontificaram a correr o mesmo risco que corriam os mineiros com o objetivo de salvá-los. Correram um enorme risco de modo voluntário.
No entanto, tão logo foi retirado lá do fundo o último mineiro, tudo virou festa e o presidente chileno pôs-se a falar sem parar, para comemorar o sucesso da operação. Ao fundo, via-se a roldana ainda a girar para retirar os socorristas.
E se alguma desgraça ocorresse durante o retorno dos socorristas? Todos continuariam a considerar a operação um sucesso?
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Partida
Hoje fiquei a saber que minha mudança já está em alto mar.
Muito bom.
Apenas lastimo que - eu - ainda estou em baixa terra.
Pra não dizer que não gosto de nada
Dos últimos 20 anos da música popular brasileira, salvo Renato Russo.
Fiquem com Eduardo e Mônica, retrato fantástico de uma época:
Acompanhe com a letra:
Eduardo e Monica
Composição: (Renato Russo)
Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque,
Noutro canto da cidade
Como eles disseram.
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir.
Festa estranha, com gente esquisita:
- Eu não estou legal. Não agüento mais birita.
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir p'rá casa:
- É quase duas eu vou me ferrar.
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard.
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo.
Eduardo e Mônica eram nada parecidos -
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês.
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô.
Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava
No esquema "escola-cinema-clube-televisão".
E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia,
Como tinha de ser.
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia,
Teatro, artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava p'ro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar;
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.
Construíram uma casa uns dois anos atrás,
Mais ou menos quando os gêmeos vieram -
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram.
Eduardo e Mônica voltaram p'rá Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão.
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação.
E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Cadê a solidariedade?
Em um post de 2.006, contei a história de minha saída do CAPI Vestibulares. Fui mandado embora, de maneira absolutamente injusta, e toda (TODA) a equipe de professores demitiu-se em solidariedade.
Um dos comentários, de Danilo Melo (que não sei quem é), afirmava:
Em 1968 com emprego saindo pelo ladrão era bem mais fácil ser solidário às injustiças da vida...
Pois bem. Hoje, pelo que alardeia o governo (e a oposição não desmente), há emprego saindo pelo ladrão, como dizia Danilo em 2.006.
E - me pergunto - haverá exemplos de solidariedade como aquela de que fui beneficiário?
Duvido.
domingo, 3 de outubro de 2010
Meu (pen)último voto no Brasil
Acabo de votar. No mesmo Colégio Costa Manso no qual voto há quase 30 anos.
Talvez esse seja meu último voto no Brasil. Basta que não haja segundo turno.
Como voto em São Paulo, as pesquisas indicam vitória folgada do candidato tucano, já no primeiro turno. Restam as eleições presidenciais, nas quais há a ameaça (para alguns) ou esperança (para outros) de segundo turno.
Anulei o voto de ponta a ponta.
Não me resta nenhum interesse pela política brasileira. Apenas me sobrou uma certa curiosidade a respeito de até onde poderá descer a prática política no Brasil.
O fato de muitos candidatos serem incrivelmente desqualificados não quer dizer nada. A questão gritante é que vários deles serão eleitos. E, alguns, arrastarão vários desconhecidos e/ou pouco votados para a Câmara Federal e para as Assembleias estaduais.
Mas o eleitor, em sua grande maioria, não tem a menor condição de entender o sistema de voto proporcional.
E nossos maravilhosos ministros do Supremo Tribunal Federal transformaram o Título de Eleitor no único documento oficial que não permite que se vote.
E gostam de contar piadas sobre o que consideram ser a burrice dos portugueses.
Tenho pena dos que continuarão a viver nesta terra. Em particular, me preocupo por meus familiares que aqui permanecerão. Principalmente os mais jovens.
Mas pouco ou nada posso fazer para levá-los daqui.
Terão de viver sob as leis que o palhaço Tiririca aprovará.
Terão de viver sob uma justiça em que se negocia até o impedimento de voto de ministro do Supremo.
Terão de viver sob as ordens de um Executivo comprometido até a medula com o crime.
Quanto a mim, encerrei minha longa e inútil carreira de eleitor, nestepaiz.
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