domingo, 29 de novembro de 2009

Moral, imoral e outros babados


Essa discussão sobre se Lula teria ou não tentado sodomizar um rapaz na cela em que passou 30 ou 31 dias detido remete a uma reflexão sobre a moral do dia a dia e a moral impressa. A moral da oralidade cotidiana e aquela da letra de fôrma (saudade do tempo em que se acentuavam as homógrafas não homófonas).

Os arautos da moralidade formal alardeiam sua indignação. O povo segue em sua, digamos, amoralidade. Ou, se preferirem, em sua moralidade pragmática. Às vezes grosseira. Mas sempre majoritária.

E lá venho eu com minhas historinhas.

Início de 1.970. Eu queria casar. Mas como sobrevivia dando aulas em cursinhos preparatórios para vestibulares, não tinha um futuro promissor a prometer aos pais de minha futura esposa.
Saí à cata de um emprego mais respeitável. E fui ser engenheiro da Light.
Logo nos primeiros dias de trabalho fui alocado em um setor no qual já trabalhava um colega meu de curso de engenharia na Poli. Como a Light aguardava que chegassem os novos equipamentos de microondas recém adquiridos, não tínhamos nada a fazer. Certo dia, passei horas a fio vendo uma entusiasmada exposição de fotos da família de meu colega: fotos da casa recém comprada, fotos da esposa em seus afazeres domésticos, fotos da pequena filha, de poucos meses de vida. Não me lembro se havia fotos de cães e gatos.

Ao final do expediente, cada um com sua pastinha de executivo, partimos em direção à saída do prédio, situado bem no centro de São Paulo, Vale do Anhangabaú.

Fui em direção a um corredor que eu sabia dar acesso rápido à rua. Meu colega me alertou:
- Vamos por aqui!
- Mas não é um caminho mais longo?
- Sim, disse ele esboçando um sorriso maroto. Mas assim passamos embaixo de uma escada pela qual descem as moças e podemos ver muitas pernas.

Fui pra casa tentando conciliar minha tarde de imagens docemente familiares com o desejo sexual infantil de meu colega. Trabalho tão árduo quanto arrumar aqueles cubos mágicos de cores variadas.

Mas o povo funciona assim.

Outro dia, a Baixinha me veio com a notícia: colegas das sessões de hidroginástica, bem informadas, contaram que os políticos de Brasília têm – quase todos – amantes. Já Lula não. Ele e Marisa Letícia formam uma dupla muito unida. Tomam seus pileques junto e vão se apoiando um no outro até a cama, quando o equilíbrio fica precário.

E, no entanto, Lula acha engraçadíssimo fingir que tentou currar um rapaz na cela em que ficou preso.

Como disse, o povo funciona assim.

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