domingo, 27 de julho de 2008
Entrar no céu não é fácil
Ainda no assunto Hinos do Cantor Cristão, há um outro hino – o n° 257 – que continha a seguinte estrofe (a 3ª), que foi posteriormente modificada:
Quem vai debalde querer entrar
Lá no céu? Lá no céu?
Pois se dirá: “Não há mais lugar”
Vais tu? Vou eu?
Quem vai parar na miséria atroz,
Sem mais ouvir a celeste voz?
Vai, por desgraça, qualquer de nós?
Vais tu? Vou eu?
Ora, o advérbio debalde significa em vão, inutilmente.
Quase não é utilizado.
Contudo para nós, garotada da igreja, essa estrofe evocava mais ou menos este quadro:
P.S: Se existir algo que se pareça com o que imaginamos ser o céu, é lá que ficará - felizmente daqui a muuuuito tempo - minha irmã caçula. Ela teve a paciência de escanear esses hinos a partir do Cantor Cristão antigo que ela guarda.
Justo hoje, dia em que ela completa mais um aninho. Beijinhos, mana.
sábado, 26 de julho de 2008
Problemas com a censura
Ontem, nem sei por que, lembrei vagamente de uma piada que minha irmã contava, quando eu era garoto, piada inspirada em um hino do Cantor Cristão.
O Cantor Cristão reúne hinos a serem cantados nas igrejas batistas. Não sei se outras denominações o utilizam. Os hinos têm títulos mas os fiéis costumam conhecê-los pelo número de ordem deles no Cantor Cristão.
Vai daí, pedi a minha irmã que me dissesse qual o número do hino da piada.
Ela, por sorte, mandou-me, além do número, a partitura escaneada do Cantor Cristão dela.
Digo por sorte porque, logo que vi qual era o número, ao invés de abrir o anexo do e-mail com a partitura, peguei o Cantor Cristão da Baixinha (presente de minha outra irmã, de edição bem mais recente do que aquele do qual minha irmã escaneou a partitura) e procurei o dito cujo: hino 472.
Li, reli, nada.
Não sei se vocês sabem, mas os hinos evangélicos são compostos, em geral, de algumas estrofes e um estribilho. Canta-se a primeira estrofe, seguida do estribilho. Em seguida, a segunda estrofe, também seguida do estribilho. Etc etc.
Fui então ao anexo do e-mail. Constatei, surpreso, que o hino 472, que no Cantor da Baixinha tinha quatro estrofes, no Cantor de minha irmã tinha cinco.
Adivinha qual a estrofe que falta no Cantor da Baixinha?
Acertou: a estrofe da piada. Censuraram a piada.
Pra não dizerem que minto, aí vão as duas partituras, para comparação.
Falta só contar a piada.
Na nossa igreja, em Santos, existia uma senhora portuguesa, de algumas posses, chamada Generosa.
Conta a lenda que num belo domingo convenceu sua empregada doméstica a acompanhá-la à igreja. A moça era negra. Hoje seria afro-descendente.
Ao chegarem ao templo, o culto já começado, cantava-se justamente o hino 472. Sua 2ª estrofe:
Hoste negra vem chegando,
Temerosa, atroz;
Vêm fileiras avançando
Com ardor feroz.
A moça levou um enorme susto. Ela entendeu assim:
Esta negra vem chegando,
Generosa atrás.
Imagine ser recepcionado dessa maneira, num lugar desconhecido, por um coral de centenas de vozes.
Portugal e Brasil: paralelos históricos
Pedro I, que reinou em Portugal entre 1.357 e 1.367, ficou famoso – entre outras coisas – por sua paixão por Inês de Castro.
António Sérgio, em sua Breve Interpretação da História de Portugal, nos conta que:
D. Pedro, a ajuizar pelas descrições de Fernão Lopes, o grande cronista, foi uma espécie de semi-louco, plebeu de modos, galhofeiro, violentíssimo na cólera, com a mania da justiça, ou melhor, da punição, e preciosos dotes de administrador. Segundo o testemunho daquele escritor, “diziam as gentes que tais dez anos nunca houve em Portugal como estes que reinara el-rei D. Pedro”.
Parece-me já ter ouvido, deste lado do Atlântico, algo semelhante.
Terá sido por tais coincidências que Lulla, ao final do jogo com o Grêmio, no final do ano passado, quando o Corinthians foi rebaixado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, teria exclamado:
- Agora, Inês é morta.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Essa velha humanidade
Em 2001, em Santiago de Compostela, enquanto encharcava de cerveja meu ateísmo, passei algum tempo a contemplar a estupenda fachada da Catedral.
Em minha imaginação, via os operários a erguerem aquela estrutura gigantesca, desacompanhados de tecnologias modernas, amparados em uma fé antiqüíssima.
Já dentro da nave, desci ao túmulo do apóstolo.
Minha estupefação deveu-se aos degraus de mármore, gastos pelo pisar de peregrinos ao longo dos últimos nove séculos.
Claro que os portugueses mais legítimos do que eu, aqueles que fizeram seus estudos básicos em Portugal, esboçarão um leve sorriso ao perceber minha admiração quase infantil diante de tradições de séculos tão remotos.
No entanto, para quem habituou-se a antigüidades não aquém do século 16, esses degraus machucados por quase uma dezena de séculos só podem embasbacar.
Por isso, é com prazer de quem saboreia um delicioso chocolate que leio sobre meu Trás-os-Montes, em Gama Barros (Historia da Administração Publica em Portugal nos séculos XII a XV, tomo XI, pág. 425):
Na ultima decada do seculo XI apparece um documento citando Pannonias como territorio onde existiam varias propriedades. Sob esse nome abrangia-se um terreno que podemos dizer vasto, pois as inquirições geraes de 1220 já registaram n’elle trinta e tres freguezias; mas não comprehendia todo o espaço que pertence ao actual districto de Villa Real.
Para designar todos os mais territorios que entestavam com o de Panoias, parece que não havia então um nome especial, e que tambem o não tinha o territorio do moderno districto de Bragança, que fórma agora, com o de Villa Real, a província de Traz-os-Montes. Era porém Bragança uma terra já de certo importante antes de lhe ser concedido o foral de 1187, que lhe chama algumas vezes villa, mas ainda mais civitate, e conclue declarando que por elle dá o soberano á cidade de Bragança e aos seus povoadores integralmente e para sempre a cidade e Lampazas com seus termos.
Foi isso mesmo que responderam os jurados nas inquirições de 1258 (4ª alçada) sobre os direitos fiscaes na villa de Vinas, dizendo que el-rei D. Sancho, o velho, dera por carta ao concelho de Bragança tudo que era regalengo na terra d’esse nome.
Valendo-me da generosa doação de D. Sancho, pretendo ocupar, em breve, um pequeno espaço que já foi de el-rei nas terras de Bragança.
domingo, 20 de julho de 2008
Ύβρις e Σωφροσύνη
Para a Grécia clássica, os grandes valores éticos eram Hýbris e Sophrosýne (fala-se Íbris e Sofrosine).
Hýbris é o excesso, o exagero, a sem-medida.
Sophrosýne é o comedimento, a moderação, a temperança.
Claro que Sophrosýne é o ideal grego, a excelência moral.
Quanto a mim, sempre fui Hýbris.
Mas devagar com o andor.
A coisa não é tão simples.
Neste sábado, chamou minha atenção o magnífico artigo de Drauzio Varella na Folha (aqui, para assinantes Folha ou UOL).
Em princípio, Varella é modelo de sophrosýne. Equilibrado, faz questão de dizer que curte uma cachacinha mas, por outro lado, é totalmente a favor da nova Lei Seca brasileira.
Um trecho de seu artigo, contudo, acendeu em mim uma luzinha amarela:
Aos sábados e domingos, quando estou de folga, tomo uma cachaça antes do almoço, hábito adquirido com os carcereiros da antiga Casa de Detenção. Difícil é escolher a marca, o Brasil produz variedade incrível. Tomo uma, ocasionalmente duas, jamais a terceira.
Esse jamais a terceira, a meu ver, já é Hýbris.
A fronteira entre os dois conceitos é muito sutil.
Todo cuidado é pouco.
Ou melhor, algum cuidado.
A Hýbris está sempre à espreita.
sábado, 19 de julho de 2008
Convenhamos
sexta-feira, 18 de julho de 2008
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Ausências
Hoje, ao escrever um e-mail para um amigo com o qual não falo há tempos, lembrei-me do episódio.
Era uma dupla de colegas meus da Poli-USP.
Os dois fizeram ginásio e científico juntos. Quando entraram na Poli, um deles, o Paim, simplesmente passou a ignorar o outro, o Fábio.
Como o Paim sempre foi meio amalucado, o Fábio não se impressionou muito.
Um belo dia, já no segundo ano, pleno 1.964, golpe militar ainda fresquinho na praça, rolava uma assembléia estudantil no pátio da Poli velha, na Av. Tiradentes. Eis que, por acaso, o Paim postou-se junto ao Fábio, em meio à multidão de alunos atentos às arengas dos líderes. Mas nem uma palavra. A assembléia corria solta. De repente, alguns urubus começaram a voar mais baixo. Um deles passou bem perto dos dois.
O Paim vira-se pro Fábio e comenta, depois de dois anos de silêncio:
- Que rasante, hein!
P.S. Paim (engenharia eletrônica) faleceu pouco mais de uma década depois de formado, ao saltar de asa-delta em São Paulo, num dia de muito vento.
Fábio (engenharia química) faleceu anos depois, vítima de um câncer fulminante que o derrubou em pouquíssimos meses.
De Paim guardo lembranças agradáveis e engraçadas, dos anos de intenso convívio nos cursos de Engenharia Elétrica.
De Fábio recordo as muitas vezes em que nos encontramos na casa do amigo comum, meu irmão Luiz Brandão. Inesquecível seu estilo blasé, seu cachimbo, sua ironia.
Queria que ambos estivessem por aí.
Em certo sentido ainda estão.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
ConversAfiada
Depois de trabalhar durante anos na TV Globo, depois de produzir um blog no portal IG no qual defendia com unhas, dentes e o resto do corpo o governo Lula, eis que Paulo Henrique Amorim surtou. Pelo menos é a única explicação que encontro para a reviravolta que se operou em seus textos.
PHA, como ele mesmo se intitula, chutou e continua chutando todos os paus de todas as barracas.
Imperdível. Impagável.
Vá até lá, correndo.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Para Elsa Joana
O vídeo com a música de Edu Lobo e Chico Buarque na voz de Adriana Calcanhoto é minha homenagem à neta de minha prima Zelinda, Elsa Joana de Morais Nunes Ribeiro Alves ou, simplesmente, Elsa Ribeiro Alves.
Ela, que vive com os pais em Bragança, Portugal, acaba de conseguir a única vaga disponível para o seu nível na Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa.
Com direito a matéria no Mensageiro de Bragança (clique aqui).
E parabéns, também, pelo aniversário, anteontem.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Nove de Julho
Feriado em São Paulo. Dia de comemorar a revolta de São Paulo contra o resto do Brasil. Não é bem assim? Tá bom. Deixa pra lá. Quando tiver um tempinho, leia, por exemplo, 1932: A Guerra Paulista, de Hélio Silva, Editora Civilização Brasileira. Tem em tudo quanto é sebo. Meu exemplar é da 2ª edição, 1.976.
Bom mesmo foi comer a feijoada do Salada Record, ao lado do Brahma, esquina de Ipiranga com São João. Delícia de feijoada, acompanhada de caipirinha de cachaça Seleta. Magnífica.
Tudo incrivelmente barato. E servido pelo Chico, garçom impecável. Simpatia pura. Na companhia do amigo Amadeu. Melhor impossível.
Na onda da São Paulo moderna, fui sem carro, pra poder beber à vontade e não voltar dirigindo. Os vigilantes estão, agora, dando plantão nas portas de bares e restaurantes. O cidadão sai, pega o carro e eles logo se aproximam, bafômetro em punho.
É isso mesmo. Tá certo.
Depois, visitinha à tia Jessa, mergulhada em seu mal de Alzheimer, mas ainda em estado inicial da doença. Ela é o xodó da Clínica. Está sempre alegre. Canta, dança e conforta os outros velhinhos. Estar com ela me faz sentir a imensa maravilha que é estar vivo. De algum modo misterioso ela me transmite esse sentimento.
Obrigado, tia. Fico a dever-te isso.
Minha primogênita me envia e-mail: adivinha onde estou, pai. Num restaurante em Paris.
Pois é. Ela foi a trabalho por três dias. Claro, ficou maravilhada com a cidade que ainda não conhecia. E eu, que pensava que ela não gostaria de Paris.
Amanhã a roda continuará a girar.
E eu, quem sabe, me livrarei dessa gripe que me assola.
Assola mas não impede que me divirta.
(e não é que esse blog virou diário de adolescente!?)
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Matamos teu filho mas pedimos desculpas
A estúpida morte do menino João Roberto mereceu comentários do Governador do Estado do Rio de Janeiro, do Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, do Comandante do 6° Batalhão da Polícia Militar, comandante dos assassinos.
O Secretário pediu desculpas.
Escárnio em estado puro.
O Secretário e o Comandante deviam simplesmente pedir demissão. No mínimo.
Mas isso nem passa pela cabeça deles. Eles falam em punir os subordinados que praticaram a lambança abominável. Quanto a eles, nada têm a ver com tudo isso.
Apenas pedem desculpas.
domingo, 6 de julho de 2008
Cassetada nos fatos
A sra. Bia Abramo, que escreve aos domingos na Folha de S.Paulo sobre TV, costuma cometer atentados contra a língua portuguesa aproveitando o clima de impunidade reinante em Pindorama.
Neste domingo, resolveu mudar de vítima. E feriu gravemente a história do Casseta & Planeta, programa fúnebre das noites de terça-feira na TV Globo.
Ensina a mestra:
O "Casseta" surgiu do "TV Pirata", que, por sua vez, é a aventura televisiva do "Planeta Diário", semanário que mudou os parâmetros de humor nos anos 80. De alguma maneira, todas as produções dessa linhagem inverteram a equação do humor a partir do final dos anos 70. Retomando, de certa forma, a esculhambação do "Pasquim", o "Planeta Diário" revolve o humor político em sentido quase que oposto ao da imprensa de resistência e, de quebra, revela um sentido de comicidade das contradições do cotidiano brasileiro, de forma menos edulcorada, mais "da rua" que seus antecessores.
(Assinante Folha ou UOL lê a íntegra aqui.)
Seja lá o que a moça quis dizer com essa ladainha gongórica, a questão é que a origem do programa de TV Casseta & Planeta é o jornal Planeta Diário mas é – também – a Casseta Popular.
O humor do Planeta Diário era bastante diferente do produzido pela revista Casseta Popular. Era muito mais sofisticado. A Casseta Popular fazia um humor mais grosseiro, ainda que nem sempre ruim.
Com a ida dos dois grupos para a TV, predominou, claro, o tipo de humor da Casseta Popular.
Antes de escrever, dona Bia podia ler, ao menos, este resumo da Wikipedia. Afinal, os atentados dominicais que ela perpetra são reproduzidos em mais de 400.000 exemplares da Folha.
sábado, 5 de julho de 2008
Wimbledon:
final sem sal nem açúcar
Antigamente, quando se queria dizer que alguma coisa era totalmente sem graça, dizia-se que era como dançar com irmã(o).
Agora talvez seja preferível dizer, de alguma coisa insossa, que é como final de torneio do Grand Slam entre irmãs.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
A Lei de Ricupero
Certa vez, nos estúdios da Globo em Brasília, um animado ministro do governo Itamar Franco, Rubens Ricupero, sem saber que sua conversa com o entrevistador Monfort estava sendo transmitida para todo o Brasil, confessou: “No governo é assim: o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”.
Isso parece valer também para os blogs de política. Sobre a libertação de Ingrid Betancourt, os blogs alinhados ao governo, ao PT etc, aqueles que se referem à grande imprensa pelo apelido de PIG (Partido da Imprensa Golpista: Folha, Estadão, Globo, Veja etc), passaram batidos. Para eles, nada aconteceu. Vejam, por exemplo, as últimas notícias no Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim:
Já os pitbulls da direita chegam até a achar que a história de que Ingrid estava à beira da morte era contra-informação das FARC.
Engraçado, mesmo, é o blog de política (sic) de um tal Mello. No dia de ontem, o único post publicado foi sobre como enrolar os fios dos fones de ouvido sem se enrolar [com as notícias que não nos favorecem].
Resgate da verdade
Não nutro a menor simpatia pelas tais FARC.
Agora, passar anos ouvindo dizer que Ingrid Betancourt está à beira da morte e - de repente - vê-la saltitante e mais saudável que nunca é, no mínimo, estranho.
Parece que é pedir muito mas será que alguém poderia contar a verdade sobre todo esse episódio?
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