domingo, 29 de janeiro de 2006
Creio em Deus
Desde que Ele seja minha Perplexidade.
Desde que seja meu Espanto.
Desde que Ele seja o Impulso
Que faz Susana doar pedaço de si
Para que Elsa tenha Vida.
(e quantas outras Susanas doam de si por amar)
Desde que ele seja o Acaso,
Que faz a Vida existir por milagre.
Desde que Ele seja o Instinto,
Senhor de nossos atos cotidianos,
Seja a Audácia do ser humano
Que ergue Catedrais,
Compõe Hinos.
Desde que,
Desde que,
Deus de quê.
sábado, 28 de janeiro de 2006
No tempo da solidariedade
No começo de 1.967 (é isso, faz 39 anos), eu dava aulas particulares de matemática e levantava uma grana muito razoável. Seria meu último ano no curso de engenharia eletrônica e eu já estudava para o vestibular de filosofia. Mas aulas particulares já me cansavam. Queria dar aulas em cursinho preparatório para vestibulares. Os tais cursinhos tinham panelinhas fechadas. Era difícil entrar nelas.
Belo dia, vi um anúncio em jornal para dar aulas num tal de CAPI Vestibulares. Fui até lá. O cursinho ficava em um prédio pra lá de antigo, no centro de São Paulo, esquina de São João com Anhangabaú. O dono do cursinho, o Labibe, me explicou que se tratava de turma com aulas aos sábados e domingos, pra alunos que não dispunham de outro horário livre. As aulas de matemática seriam, todas, aos domingos pela manhã. Como a cavalo dado não se olham os dentes, aceitei.
Foi meu primeiro trabalho com carteira assinada. Tudo registradinho, bonitinho.
Vez em quando, o turco, como era conhecido o dono do cursinho, me pedia pra substituir algum professor durante a semana, em alguma turma regular. E, assim, fui entrando devagar no mundo dos cursinhos.
Até que o Tomaselli, que dava quase todas as aulas de matemática do cursinho, brigou com o turco e foi embora. Labibe me chamou às pressas. Pediu que eu assumisse tudo. Ao aceitar (depois de uma conversa com o Tomaselli, que me liberou), eu ficava com um curso de engenharia para terminar, um vestibular de filosofia pela frente e aulas todas as noites, algumas manhãs e – last but not least - todos os domingos de manhã. Mas, aos vinte e dois anos, a gente faz isso aí e ainda sobra tempo.
Quando terminei engenharia e entrei na Faculdade de Filosofia da USP, fui morar na rua Maria Antonia, que era o centro do universo, pelo menos para os estudantes e revolucionários de São Paulo. E assumi todas as aulas de Matemática do CAPI Vestibulares.
O diretor do CAPI era o Farina. Devia ter seus quarenta e poucos anos, mas pra mim, que tinha vinte e três, parecia um ancião. Mas ancião que topava encarar nossa vida de boemia. Eu dava aulas desde as sete da manhã (às vezes, marcávamos aulas extras às seis) até a hora do almoço. Assistia às aulas de filosofia à tarde e voltava a dar aulas à noite. Lá pelas onze e tanto, depois da última aula, íamos todos jantar. Era o melhor do dia. Comíamos e, principalmente, bebíamos e conversávamos. Ninguém ia dormir antes das duas. Jamais.
Um dos nossos assuntos prediletos era o cursinho. Todo mundo metia o pau no turco. E bolávamos receitas de como o cursinho poderia ser uma maravilha, não fosse a toupeira do dono. De facto, Labibe não era – propriamente – um cara que tivesse uma visão arrojada de seu próprio negócio. O prédio em que ficava o cursinho era, além de velho, escuro, baixo astral. As apostilas dos cursos eram horrorosas, mal feitas e de apresentação pra lá de sofrível. O nome do curso era, com o perdão da má palavra, Centro de Aperfeiçoamento e Preparação Intelectual (daí a sigla CAPI). O símbolo gráfico, digamos assim, era uma reprodução do Pensador. Tudo terrivelmente kitch.
Lá para o final de 1.968, comecei a incitar o Farina a fazer algo novo.
- Sugere ao turco que pinte o prédio com cores alegres, faça apostilas bonitas, coloridas. Que ponha anúncios decentes nos jornais.
Parêntesis: o Labibe achava que, quando pagava um espaço publicitário na imprensa, precisava aproveitar bem o espaço pago. Acontecia, então, que ele comprava uma página inteira da Folha de S.Paulo (que custava o preço de um Fusquinha zero) e enchia tanto a página de textos, letra miúda, que aquilo ficava parecido a um caderno de classificados.
O Farina reagiu à minha provocação:
- Eu cutuco o turco, desde que você tope me ajudar.
- Fechado.
Dia seguinte, Farina chega sorrindo:
- O turco topou. Vamos montar um curso Intensivo, só dezembro e janeiro, como teste. Se der certo, maravilha.
Passei a trabalhar mais de vinte horas por dia. Muitas vezes, dormia umas três horas em um sofá que havia na secretaria do cursinho.
Foi um dos mais deliciosos trabalhos que realizei na vida. Selecionamos um time fantástico de professores, fizemos apostilas caprichadas, e – glória a deus nas alturas – colocamos um anúncio de página inteira na Folha só com o novo logotipo do CAPI (uma obra-prima que achamos enterrada em uma gaveta qualquer) e o endereço, chamando pra matrículas no Intensivão. Noventa por cento da página em branco. O turco quase teve um infarto.
Primeiro dia de matrículas, fila na porta do prédio.
O curso Intensivo foi um fenômeno. Gente saindo pelo ladrão. Professores de primeira, apostilas perfeitas. Vez em quando, cancelávamos alguma aula, levávamos os alunos pro auditório, passávamos um filme e o Álfio Beccari comentava o dito cujo. Foi assim que os alunos assistiram, por exemplo, a Os Companheiros (eu, assisti umas dez vezes ao filme).
Resultado: visto o faturamento, o turco me convidou pra ser diretor do cursinho, junto com o Farina.
Preparamos os cursos regulares de 1.969 com o maior capricho. Primeiro dia de aulas, todas as salas (agora pintadas em cores alegres) cheias de alunos. Labibe me chama até a sala dele. Pede que eu assine um papel qualquer em branco (nem me lembro do que se tratava, mas era alguma maracutaia). Disse que não assinava. Ele me demitiu. Sumariamente.
Desci até a sala dos professores, que começavam a chegar para o primeiro dia de aulas.
Disse aos que lá já estavam que tinha acabado de ser demitido.
Ítalo Tronca e Ricardo Maranhão, jornalistas e professores de História, não se conformaram. Reuniram todos os professores e subiram pra falar com Labibe.
- É verdade que você demitiu o SP?
- É. Ele não me obedeceu. Eu o demiti.
- Mas você pediu a ele algo ilegal.
- Não volto atrás. Ele está demitido.
- Então, todos nós pedimos demissão.
- Vocês não podem fazer isso.
- Ou você desiste da demissão do SP ou nós saímos. Todos.
- Não volto atrás.
- Então, estamos fora.
Todos – eu disse todos – os professores foram embora. Labibe teve de ir de sala em sala, explicando o inexplicável aos alunos. Pediu um tempo para recompor o quadro docente. Com isso, é óbvio, perdeu quase todos os alunos. Só veio a se reerguer um tempo depois. Parcialmente, diga-se.
Um ano depois, um dos professores daquela turma inesquecível me procurou pra perguntar se eu tinha alguma objeção a que ele retornasse ao CAPI.
Claro que não tinha. E jamais vou esquecer esse grupo.
Apenas eu não sabia – ainda bem! – que isso ia ocorrer apenas uma vez na minha vida. Nunca mais tive tal manifestação de solidariedade por parte de um grupo.
Coisas assim já não existem. Por essas e por outras, tenho orgulho da minha geração.
Desconfio que, apesar de termos feito muita merda, vivemos emoções desconhecidas no mundo de hoje.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2006
De amadores e de profissionais
Uma aguardente feita em Passos, particularmente por meu primo Alípio Nunes, é uma bela expressão de amor. É realmente coisa de amador. No melhor sentido do termo.
(o rótulo é invenção minha. Lá eles não têm essas frescuras.)
Já os mosquitos, aqui em São Paulo, entraram para a categoria dos profissionais. No pior sentido do termo, claro, claro.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2006
Restaurantes - Bragança
Em Bragança, apesar de tratar-se de cidade com menos de quarenta mil habitantes, há muitos restaurantes. E vários muito bons.
O Solar Bragançano fica na Praça da Sé, centrão, e é sofisticado. Foi lá que a baixinha aprendeu a fazer musse de castanhas. Ordisi Raluz e Branco Leone, com respectivas, parece que gostaram.
O Geadas é tido como bambambam, mas é um pouco pra-turista demais, pro meu gosto.
Do outro lado do rio, em relação ao Geadas, come-se comida caseira gostosa, barata e servida com simpatia e descontração doméstica, no Fervença (que, não por acaso, é o nome do rio).
Mas o prêmio SP vai pro Gôndola:
Cozinha impecável, na primeira vez que lá entramos pensamos que iríamos pagar os tubos. Ledo engano. O prato do dia fica em 7,5 euros por cabeça (coisa de uns vinte reais) e te dá o direito a:
couvert/ sopa / prato principal / sobremesa / vinho bom / café.
Isso no almoço. No jantar, se não me falha a memória, custa uns 8,5 euros.
Além disso, o Gôndola também é pizzaria. Das boas.
Chega que já tá me dando fome.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2006
Cena do cotidiano - Bragança
segunda-feira, 23 de janeiro de 2006
Um pouco mais sobre Bragança, Portugal
Pode-se chegar ao castelo de Bragança pela Porta do Sol, voltada para leste.
Dessa porta tem-se uma vista encantadora de um lado da cidade.
Ao entrar, há logo uma praça ampla.
Seguindo-se em frente, vai-se pela rua da Vila até os portais do lado oposto (Porta da Vila).
Nesta foto vê-se a rua da Vila já do alto dos portais opostos à Porta do Sol.
Também do alto desses mesmos portais vê-se a praça fronteira à entrada oeste.
domingo, 22 de janeiro de 2006
Neve em Bragança
Foi só sairmos de Bragança, começou a nevar. Ainda bem. Tenho pavor de dirigir na neve (pior ainda, no gelo). Nossos primos, António e Isabel, nos mandaram essas imagens da Avenida Sá Carneiro, centro de Bragança, com os telhados brancos e as laterais da avenida também.
(na verdade, estou testando a colocação de vídeos e áudios no blog. A hora que der certo, vocês não imaginam o que vou aprontar)
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(na verdade, estou testando a colocação de vídeos e áudios no blog. A hora que der certo, vocês não imaginam o que vou aprontar)
Lusobservações - V
Desde nossa primeira visita a Portugal, em 1.999, a Baixinha ficou intrigada com a ausência de área de serviço nos apartamentos e casas de Portugal. Tanque, então, nem pensar.
Essa ausência não deve ser tão generalizada assim, mas é muito comum. Só pra mostrar que é isso mesmo, fotografei essa casa de Bragança, situada na avenida do supermercado Modelo, próxima ao Hospital.
Veja que a casa é uma bela casa, de bom padrão. Fica em avenida movimentada. Mas nem por isso os moradores vêem qualquer problema em pendurar as roupas na varanda.
sábado, 21 de janeiro de 2006
Madrid - Plaza Mayor
Em Madrid, dia 13 de janeiro, sexta-feira, fomos revisitar a Plaza Mayor. A Baixinha ficou decepcionada porque pensava que a praça estaria lotada. Graças ao frio, não foi bem assim.
Mas trata-se de lugar que merece ser visitado, mesmo quase vazio.
Ao tentar fotografar o nome da praça, fotografei o cavalo dirigindo-se para a direita. O presidente Hugo Chávez que me desculpe. Garanto que não se trata de foto ideológica (este último link é só pra assinantes da Folha. Acontece que o presidente Hugo Chávez quer que o cavalo do escudo venezuelano passe a dirigir-se para a esquerda).
Pra vocês, fotos da Plaza Mayor, centro de Madrid, cair de tarde de uma sexta-feira 13:
sexta-feira, 20 de janeiro de 2006
Começo de vida adulta
II - Sexo (ou quase)
Ainda lá pelos catorze ou quinze anos (algo assim) tive minhas primeiras possibilidades concretas de iniciar uma vida sexual completa, barba e cabelo.
Meus pais, dotados de uma ingenuidade que – hoje – me aparece como alarmante, até, contrataram uma empregada que tinha quase todas as características de uma dama da noite. O quase vai por conta de que não havia nenhum letreiro na testa dela que piscasse, luminoso: PUTA, PUTA, PUTA.
Para completar o cenário, costumavam sair à noite e me deixar acompanhado da moçoila, nós dois, ambos os dois, totalmente ao sabor dos ventos. Ela, desinibida, punha um disco na vitrola (sim, era o tempo da vitrola). Esticava-se langüidamente em um sofá, saia curta e apertada, blusinha sumária, abria as pernas o mais que a justa saia permitia e orientava a abertura na direção do meu olhar.
E que olhar. Entre desejoso e apavorado, ficava eu na dúvida entre atacá-la e correr o risco das chamas do inferno, ou conter-me e sobreviver.
Claro que sobrevivi. Arrependido até a medula, mas sobrevivi.
Fui perder a virgindade só aos vinte e um anos (depois que acabarem de rir, volto pra conversar mais um pouco).
Começo de vida adulta
I - Dinheiro (pouco mas maravilhoso)
Eu havia terminado o ginásio (o que hoje, acho, corresponde a terminar a oitava série) e ia começar o primeiro científico (primeiro dos três anos que antecedem o curso superior). Tinha quinze anos. Comecei a sentir vontade de ter meus trocados, sem precisar pedir a papai e mamãe.
Minha mãe era professora de matemática no Instituto de Educação Canadá, em Santos. Vivia sendo solicitada a dar aulas particulares a alunos com dificuldades em matemática. Pedi que me arrumasse um aluno.
Logo apareceu um garoto da 3ª série do ginásio (sétima série de hoje), cujo pai procurou minha mãe pedindo aulas particulares.
Fui à casa deles, combinei preço, horário das aulas, tudo direitinho. Viviam, pai e filho, em um apartamento na Epitácio Pessoa. O pai era um médico legista aposentado, cuja mulher dera no pé. Ele conseguira a guarda do filho (coisa rara naquele tempo).
Estudei direitinho a matéria da primeira aula e lá fui eu. Morto de medo.
O pai nos instalou em uma mesa da sala e foi para o escritório dele. Comecei a aula, nervosíssimo. Depois de uns dez ou quinze minutos lá vem o pai:
- Você se incomoda se eu gravar a aula? Assim, meu filho pode ouvi-la quantas vezes precisar.
Quase desmaiei. Mais essa. Aula gravada.
Resumo: sobrevivi, como vocês já devem ter percebido.
Com o passar do tempo e das aulas, fui adquirindo desembaraço. O pai, ganhando confiança em mim. Um belo dia me explicou que tinha pavor de deixar o filho sozinho no apartamento, com medo de a mãe vir seqüestrá-lo. Mas, como confiava em mim, disse-me que passaria a aproveitar o tempo de minhas aulas para sair um pouco, ir até a banca de jornais (e sabe-se lá mais o quê).
Detalhe: o garoto era muito inteligente. Não tinha a menor necessidade de aulas particulares. Então, minha tarefa era como cortar manteiga com faca afiada. Cada tópico eu ensinava rapidamente, fazia um exercício como exemplo e o resto ele tirava de letra.
Ficávamos, quase sempre, só nós dois no apartamento: um garoto de treze anos e seu vetusto professor, de quinze. A mãe seqüestradora, é claro, jamais apareceu.
A cada semana (ou será que era a cada mês. Não me lembro) o pai me pagava. Cash. Eu ia pra casa, sentava em minha cama e ficava a contemplar aquelas notas de cruzeiros. Eram poucos. Mas poucas emoções monetárias (digamos assim) em minha vida foram maiores que aquelas. Como era bom ver que havia conseguido aqueles papéis coloridos, que me permitiam cinemas, sorvetes etc e tal, com meu próprio esforço.
Acho que foi aí que comecei a emergir para a maturidade.
OBS: daria tudo para ouvir uns trechos daquelas fitas gravadas com as aulas que dei.
terça-feira, 17 de janeiro de 2006
Lusobservações - IV
Da primeira vez, foi assim: estávamos no Geadas, restaurante de Bragança, mais voltado pra turistas. O rapaz serviu os pratos, abriu o vinho, deu aquela servida básica e sapecou:
- Bom apetite.
Até aí, normal.
Passados uns minutos, tendo constatado à distância que os copos esvaziavam-se, aproximou-se, completou os cálices e:
- Continuação de bom apetite.
A baixinha e eu contivemos o riso a certo custo.
Foi o primeiro contato nosso com o "continuação".
Depois disso, já ouvimos - lá pelo dia 4 ou 5 de janeiro - "continuação de bom ano".
Conversando com - digamos - um comerciante que nos vendia plugs para aparelhos elétricos, ouvimos um "continuação de boas férias". E vai por aí.
O auge ocorreu quando o dono da casa em que nos hospedamos, tendo lá ido pra levar uns sacos de "lenha em pedacinhos" (pellets) e em se tratando já do dia 9 ou 10 de janeiro, ao despedir-se, perpetrou:
- Continuação. Continuação.
E foi-se.
Viver rabaçalmente
Já devo ter falado sobre isso em algum canto deste blog. Mas como não consigo encontrar, repito: minha aldeia, Passos, fica na região da Lomba, nordeste de Portugal, juntinho à Espanha. É delimitada por dois rios: o Mente e o Rabaçal. Por isso, gosto de dizer que - lá - vive-se rabaçalmente.
Outro dia, íamos de Vinhais para Passos. No meio do caminho não resistimos e fizemos uma parada pra fotografar a região e, em particular, o Rabaçal. As fotinhos estão aí:
Bonitinho, né.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2006
Olha eu no Morfina
sábado, 14 de janeiro de 2006
No stress
quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
Roubaram o sol da Espanha
Saímos hoje de Bragança, às 10:30. Sol intenso (apesar da temperatura pouco acima de zero). Foi só passar a fronteira com a Espanha e começou o nevoeiro. Denso. Era como dirigir à noite com faróis fracos. Até Zamora nada. Tudo branco. Dentro da cidade de Zamora ainda se enxergava bem. Foi retomar a estrada, em direção a Tordesilhas, pronto. Névoa total. Apenas a 100 km de Madrid o sol voltou. Ainda bem. Cheguei a pensar que alguém roubara o sol espanhol.
Agora, vai ter sorte assim em Madrid, ó Santos Passos. Escolhi um hotel via Internet, baseado no facto de ele ser dotado de wi-fi e ficar no centro da capital (fácil de encontrar, já que - pra variar - não tínhamos mapa da cidade).
Instalados, olho pela janela e vejo um restaurante bem em frente a nosso quarto. Vou à Internet, pesquiso, não acho nada sobre o dito cujo. Mas a baixinha acha um livro no quarto que dedica uma página inteira a ele: El Asador de Aranda. "Uno de los asadores más típicos de Madrid", "los corderos lechales, de carne muy blanca y muy tierna, son asados en hornos alimentados por las brasas de leña de encina y sazonados con el buen hacer de los maestros cocineros de El Asador de Aranda", e por aí vai.
Não deu outra. Acabo de comer cordeiro assado no Aranda. Só digo o seguinte: tão bom quanto o leitão de Mealhada.
Mais não digo nem me foi perguntado.
(Amanhã, almoçamos cordeiro. Óbvio.)
quarta-feira, 11 de janeiro de 2006
Lusobservações - III
(os espanhóis e o ciclo das navegações)
Percebi isso outro dia. Já meu cunhado Maurício havia me chamado a atenção para o facto de que os portugueses têm profunda aversão (inveja? ressentimento?) aos espanhóis. Também a Saltapocinhas mandou-me a história do português que conversa com um espanhol, que o questiona sobre o tamanho de suas terras. O português diz-lhe o tamanho das suas. Então o espanhol retruca, superior: quanto às minhas, pego meu jeep pela manhã, saio a percorrê-las e ao meio-dia ainda não consegui visitar metade delas.
Diz o português, impassível:
- Sei bem o que é isso. Também já tive um jeep espanhol. São todos uma porcaria.
Vai daí que desenvolvi a tese de que as grandes navegações lusitanas nada mais teriam sido senão o resultado do desejo português de afastar-se dos espanhóis. Cercados por espanhóis por (quase) todos os lados, restava-lhes o oceano.
Lusobservações - II (Às armas)
Ouvi, certa vez, o cartunista Ziraldo afirmar que o único hino nacional que possui a palavra amor em sua letra é o brasileiro. Não sei se isso é verdade. Mas o facto é que, por sua vez, o estribilho do hino português sempre me assustou um pouco. Aquele às armas, às armas, soa-me excessivamente agressivo, bélico demais.
Digo melhor, soava-me.
Dia desses, por estar a morar cá entre as muralhas do castelo de Bragança, fui visitar o Museu Militar que aqui está instalado. Pagamos três euros, sob os protestos da baixinha, que entendia ser despesa pra lá de inútil.
Surpresa: logo na entrada do museu, qual foi a primeira peça (de artilharia?, de infantaria?) com que nos deparamos. Nada mais, nada menos que um tonel de aguardente:
Fotografei-o de imediato. Admoestado por um guarda do museu (as fotos são proibidas, não tinha eu me apercebido disso), pedi desculpas. Mas guardei a foto.
Pra mim, a partir de então, o às armas, às armas, ganhou um novo sentido, muito mais agradável, nada agressivo. Passarei a cantar o hino português com o entusiasmo devido.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2006
Lusobservações - I
Em Portugal (sejamos mais precisos: pelo menos em Bragança) os restaurantes populares distinguem-se dos mais requintados pelo seguinte detalhe:
Os populares são dotados de televisores (em geral, mais de um) para que as pessoas não corram o risco de ficarem sequer um minuto do dia sem assistir à TV.
Já nos restaurantes sofisticados, a TV é de plasma.
Cabeça Boa
Um lugar muito bonito, junto a Bragança (ou ainda é Bragança?) é Cabeça Boa. Não só pelo nome, ótimo. Mas também pela vista que se tem a partir de lá. Lugar alto, do qual se descortina um horizonte de cores pastel, típico de Trás-os-Montes.
Pois bem. Um português que fez fortuna no Brasil, voltou e construiu esta capela encantadora:
Ainda em Cabeça Boa, fiz como o vegetariano da piada (que levou a moça para trás da moita e comeu a moita): não resisti a esta plantação de couve e... fotografei.
O bacalhau de Santo Estevão
Samil é uma freguesia próxima a Bragança (em Bragança – aliás, em Portugal – quando se diz próxima, está a falar-se de coisa de cinco minutos de automóvel). Faz parte daquilo que, no Brasil, chamar-se-ia Grande Bragança.
Pois bem. No dia 31 de dezembro, final da manhã, fomos ver algumas vivendas à venda em Samil. Uma delas – para ser visitada – exigia a presença do Senhor Zé. Consegui a informação de que o Senhor Zé estava lá no centro de Samil a participar de uma bacalhoada. Lá fomos nós.
Para nossa surpresa, tratava-se de uma comemoração relativa a Santo Estevão, tradicional nessa freguesia. Os moradores, muitos deles, assistem a uma missa especial, depois dirigem-se a um salão ao lado do templo, no qual servem-se de uma pasta de bacalhau com batatas, vinho, pão e água. Mais ou menos isso. Vejam com os próprios olhos:
terça-feira, 3 de janeiro de 2006
Dúvida de prosódia
Se alguém puder me explicar, agradeço:
Por que os portugueses pronunciam telemóvel como télémóvel, enquanto reservam para telefone a pronúncia tulufôni?
Ora o prefixo tele é pronunciado aberto (téle), ora fechadíssimo (túlu).
Mistérios.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2006
O Natal
Passos, minha aldeia, é assim:
Foi lá que passamos o dia de Natal:
Este ano não nevou. Ano passado, depois do almoço de Natal, caiu uma verdadeira tempestade de neve. Quase não consegui voltar para a casa em que estávamos, em Pinheiro Novo. Este ano não. Esta é a parte exterior da casa de minha prima Zelinda:
Este é um dos depósitos de mantimentos da casa dela:
O galinheiro:
O dono do próprio:
E cá estão as carnes de porco, resultantes das tradicionais matanças de dezembro, a salgar:
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