terça-feira, 25 de outubro de 2005
Avignon (ou a esbórnia papal)
No século XIV os papas resolveram ir morar em Avignon. Não entendo nada de história da ICAR, mas parece que foi um período, digamos, tipo governo Lula. Ou seja, a santa sacanagem rolou solta. Os pontífices desse período (sete papas e três antipapas) curtiam uma mordomiazinha. Clemente VI, por exemplo, julgava que o luxo era a melhor forma de honrar a Deus. Algo assim na linha Marisa Letícia.
Daí que deixaram construções faraônicas. Vale curtir. Os caras, aqui entre nós, sabiam levar a vida (se a gente esquecer o pequeno detalhe de que tudo era pago pela crendice do populacho. Mas, fazer o quê. É sempre assim)
Aliás, já que me meti a falar sobre a ICAR, sempre ouvi dizer que religião vinha de religare, ou seja, voltar a ligar o homem à divindade. A coisa em Avignon ficou tão barra pesada que a religação não só deixou de existir nesse sentido. A famosa ponte St-Bénézet desde as enchentes do século XVII já não consegue mais ligar as duas margens do Rhône. Mas talvez essa sua disfunção seja seu maior encanto.
E, já que falei em Rhône, sente só se não era pros papas se deliciarem. Daqui em diante, sempre que você tomar um vinho Côtes du Rhône, sinta o aroma, feche os olhos e pense nestas imagens:
Mas Avignon não é só ponte, papas e rio. É uma cidade encantadora. Antes das fotos, deixa que eu conte uma historinha. Os restaurantes na França (pelo menos nos lugares que conheço) fecham cedo, tanto no almoço quanto no jantar. Pior: antes de fechar o restaurante propriamente dito, eles encerram o serviço da cozinha. Então é sempre aquela desgraça: você, morto de fome, às duas e meia da tarde, encontra um restaurante cheio de mesas ocupadas por pessoas alegres, falantes. Aí você pensa: ufa! Achei um que ainda está funcionando. Ledo engano. O atendente chega e sapeca o chavão:
Je suis desolé. La cuisine est fermée.
No dia em que fomos a Avignon, queríamos conhecer o restaurante Hiély-Lucullus, tido como excelente. Procuramos chegar cedo. Dez pras duas entramos no dito cujo. Pode acreditar: os funcionários estavam já no final da arrumação das mesas para o jantar. Não havia mais um freguês.
Sorte nossa. Almoçamos em um restaurantezinho popular, comida deliciosa. Sente o charme:
Já disse, ontem, que íamos às cidades por via rápida e voltávamos pelas estradas secundárias. Nossa volta a Aix, nesse dia, foi muito agradável:
Amanhã tem mais.
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