terça-feira, 28 de junho de 2005
Isso é que é narração
O jogo Brasil x Argentina, sub-20, foi narrado no portal UOL, quase que minuto a minuto. Vejam só a narração dos três gols da partida (os argentinos venceram por 2 a 1):
1º gol (1º tempo):
5 min – Brasil pressiona a Argentina, que não consegue passar do meio-de-campo.
6 min – GOL DA ARGENTINA! Brasil sai jogando errado e a bola fica com Messi etc etc etc.
2º gol (2º tempo):
27 min – Brasil toca a bola no meio-de-campo. Sem criatividade, não consegue chutar a gol.
29 min – GOOOOOL DO BRASIL!!! Rafael Sobis cobra falta etc etc etc.
3º gol (2º tempo):
42 min – Argentina pressiona mais, mas não consegue chegar com objetividade ao gol.
(...)
47 min – GOL DA ARGENTINA!!! Messi faz boa jogada etc etc etc.
Sem querer ofender ninguém. Mas que tal esse narrador procurar outra profissão?
segunda-feira, 27 de junho de 2005
44 anos sem ele
Quando ele morreu, saí do velório direto pra garagem de casa. Tirei o carro e saí pra dar uma volta na Santos quase deserta do início dos anos sessenta. Ele não me deixava dirigir. Agora, esse era o primeiro sabor da fruta Liberdade.
Outros sabores vieram, com os anos.
Ao lado da Liberdade, cresceu a Falta. Cheia de sabores, também ela.
Hoje, tudo se funde em lembranças ricas. De lições, de saudade.
Como é bom, ter tido um pai assim.
domingo, 26 de junho de 2005
sexta-feira, 24 de junho de 2005
Deus limitou a inteligência,
não a estupidez
E no meio dessa confusão toda em que se meteu a política brasileira, eis que o que me chamou mais a atenção foi o detalhe revelado pela briga entre um presidente de partido (o Liberal) e sua ex-mulher (ah, as ex):
Ele teria comprado todo o mobiliário para sua residência em Brasília com dinheiro do partido. Em particular, teria mandado gravar suas iniciais nos cabides de suas roupas.
Minha imaginação vai a mil. Cabides gravados com iniciais. Haverá mais requintes nesse mar kitsch?
quarta-feira, 22 de junho de 2005
Último desejo
segunda-feira, 20 de junho de 2005
A Coisa
Estava distraído. Mas percebi que o papel higiênico acabara. E percebi a tempo. Sorte minha. O que me chamou a atenção foi que haviam deixado bem visível o...
O... o quê?
Pensei que deveria haver um nome para isso. Afinal, o que se espera de uma linguagem é que ela contenha nomes específicos para cada entidade específica. Além, claro, de nomes para espécies, coletividades etc etc.
Lembrei logo de Gilberto Freyre, que em Casa Grande & Senzala anota o hábito brasileiro de chamar qualquer vegetal de mato e qualquer animal de bicho. Para ele, isso resulta da quase infinita exuberância de nossa natureza tropical.
Lembrei, em seguida, de José Carlos Barros, o poeta de Boticas, que fala em tílias e urze, colmos e giesta negral.
Não disponho de tal vocabulário. Visto está que não é culpa da língua. Tudo advém de minha composição urbana, absolutamente citadina.
Agora, cá entre nós: há algo mais urbe que um rolo de papel higiênico? Certo que não. Portanto, eu – habitante típico de burgos – deveria saber o nome de seu núcleo.
Pois é. Nossa familiaridade com os rolos de papel higiênico nos obriga a conhecê-los em todos os seus aspectos, detalhes. E sua utilização continuada nos leva a seu miolo, seu cerne. Como se chama essa coisa?
Cilindro higiênico?
Não.
Sustentáculo do papelório? Decididamente, não.
Canudo-indicador-de-fim-de-linha? Sem comentários.
Sugestões, se faz favor.
segunda-feira, 13 de junho de 2005
Engenheiro tem de ser engenhoso
Hoje há profissões aos montes. Mais que gente. Já cansei de ver, por exemplo, cientistas políticos aparecerem na TV para discutir os mais variados assuntos. E quem disse que política é ciência. Provavelmente, algum cientista político.
Quando eu tinha aquela idade em que a gente tem de escolher uma profissão, ou seja, aqueles 15 ou 16 anos em que a enorme experiência acumulada facilita bem as decisões, havia mais parcimônia nesse negócio de carreiras. Um fulaninho de classe média, no Brasil, tinha de ser médico, caso detestasse matemática, engenheiro, caso gostasse de matemática, advogado, caso detestasse todas as matérias.
Eu, de minha parte, via mais glamour na medicina. Minha irmã cortou meu barato:
- Como, medicina?!? Você tem medo de lagartixa!!
Bingo. Virei engenheiro. Quer dizer, sim e não. Sim, porque tenho um diploma da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, escola da qual tanto se orgulha o Paulo Maluf, por exemplo. Não, porque quando cheguei ao terceiro ano do curso de engenharia eletrônica descobri que aquilo não tinha absolutamente nada a ver comigo. Seria melhor dizer, eu nada tinha a ver com aquilo. Sei lá.
Fui levando ( ou tomando, também fico em dúvida) até o fim. Mas já com a decisão de cursar filosofia. No quinto e último ano, pra aliviar um pouco as tensões, resolvi retomar aulas de piano. Tinha estudado piano quando garoto. Mas aquele estudo quadradão, classicão. E eu, por gostar de jazz, fui parar no estabelecimento de ensino de piano do Johnny Alf. Não tive aulas com ele. Meu professor era o Nilton. Cheguei meio acanhado. Nilton perguntou qual era meu background no piano, sentamos e ele começou a me ensinar Misty. Em meio a essa primeira aula, vira-se o Nilton pra mim e sapeca a pergunta-afirmação:
- Você é engenheiro, né?
Se ele xingasse minha mãe não seria tão devastador. Apesar de tudo, tivemos uma relação amistosa, embora curta.
(um dia, Nilton me falou que Johnny Alf tinha composto uma música incrível pro festival que iria rolar dentro de uns meses na TV. Me levou até o quarto do Johnny. Ficava no fundo do casarão em que funcionava o curso. Acordou o dito cujo, conversamos um pouco e ele me mostrou Eu e a Brisa. Não me lembro se já tinha letra. Se já existia, ele não tinha decorado ainda).
Hoje, em comentário no post abaixo deste, a Laura me falou na Revista Engrenagem como revista de engenheiros.
Não, Laurinha. Não é de engenheiros. Engenheiro, só eu. Ou não.
domingo, 12 de junho de 2005
Mexe mexe
Acabo de ver entrevista de Jorge Ben Jor a Chico Pinheiro, na Globonews. Me impressionou a informação de Jorge: diz ele que mora até hoje no mesmo lugar do Rio de Janeiro em que morava quando começou sua carreira. Não sei se foi força de expressão. De qualquer jeito, isso acionou em mim uma porção de lembranças. Primeiro, lembrei da entrevista a que assisti, no início dos anos 60. Um tal de Jorge Ben foi entrevistado por Silveira Sampaio. Era, salvo engano, a primeira aparição de Jorge em TV. Cantou Mais que nada e Chove chuva. De lá pra cá, não parou de produzir música. Chamou o síndico, aconselhou a tia Léa a não ir de helicóptero, inventou o Patropi, cantou os gols de um Fio ingrato, que o processou em busca de ‘direitos de imagem’, esquecido de que a imagem dele foi criada por Jorge (a música Fio maravilha teve de transformar-se em Filho maravilha), enalteceu Charles, o Anjo 45.
Agora, sua música ‘de trabalho’ é Mexe mexe.
Vale a pena? Não, não vale a pena porque não há pena. Há, como sempre, liberdade, alegria, deslumbramento. Propõe que você se mexa. Nada de parar. Quem pára, apodrece. Vê se te mexe.
E volto à questão de Jorge continuar a morar no mesmo lugar de sempre. É claro, no caso dele, que isso não diz muito. Jorge é cidadão do mundo (Mais que nada é a música brasileira com maior número de gravações no exterior, umas duzentas. E eu, que pensava que era Garota de Ipanema). Mas lembrei dos meus tempos de Santos. Tinha um amigo de infância – o Luiz Carlos. Éramos inseparáveis. Desde muito pequenos, tínhamos namoradas definidas. Quando brincávamos com nossos carrinhos, imaginávamos que íamos visitar as respectivas namoradas. A imaginação voava. Pois bem. Minha vida deu mil piruetas. Fui jogado pelo destino de lá pra cá, de cá pra lá. Luiz Carlos não. Ficou em Santos. Construiu sua vida lá. Casou-se com aquela namoradinha dos tempos de infância. Teve filhos com ela. Enfim, virou árvore, enraizou-se.
Por muito tempo, confesso que desprezei essa postura vegetal de certas pessoas. Achava que viviam de modo muito provinciano, acomodado.
Hoje, entendo que há árvores e pássaros. Todos necessários ao (perdão pela má palavra) equilíbrio ecológico.
sábado, 11 de junho de 2005
Torre de Babel
Ano: 1.961 (depois de C): entro no restaurante/bar da avenida Ipiranga, perto da esquina com a São João (esquina que já existia muito antes do Caetano Veloso). Almoço e, por fim, quero um sorvete. Peço um sândei. O garçom me olha com cara de I-beg-your-pardon. Olho em volta, à procura de ajuda. Vejo um adesivo na parede, foto do sundae.
Aponto o adesivo. E o garçom:
- Ah. Você quer um sundái.
Algumas semanas depois, mesmo lugar. Quero sundae de sobremesa.
- Garçom, me vê um sundái, simplifico eu.
O cara me olha com total desprezo e pontifica:
- Ah, você quer um sândei.
***
Na empresa de engenharia em que trabalhava, anos 70, emprestam um desenhista pro meu setor. Ele estava sem serviço na área dele. Eu precisava alimentar o computador com uma série de números para calcular já-não-sei-mais-o-quê. Computador assim, em time sharing, com terminais espalhados pela empresa, era novidade absoluta.
O desenhista vem para me ajudar. Procuro explicar a ele que, logo que fizer o log in, preciso dar run no programa e, aí, poderemos entrar com os dados no data base. Passo a ele a tabela que ele deverá me ditar para que eu a digite. O primeiro número é 55.
Logo que ponho o programa a rodar, peço que ele me dite os números da tabela. E ele, não querendo ficar pra trás, com tanto inglês na jogada, diz, solene:
- Fifty five.
É claro que o apelido pegou. Não sei o nome dele. Era só o fifty five.
sexta-feira, 10 de junho de 2005
Táticas diversionistas
Ontem foi aniversário da baixinha. Era o caso de um jantar fora, clima romântico, coisa e tal.
Acontece que tinha Brasil e Argentina. Pode?
Aí mandei flores pra ela (essas aí) com bilhetinho:
O arranjo é vermelho como nosso amor: às vezes vermelho de paixão, umas poucas vezes vermelho de raiva. Mas sempre tudo intenso, vermelhão. Beijinhos vermelhinhos.
Cheguei pouco depois da entrega das flores. Ela estava feliz, sorridente.
Assisti ao jogo na boa.
Pena que acabei vermelho de vergonha, com o resultado do jogo.
quarta-feira, 8 de junho de 2005
Dica para os exportadores
Outro dia, em meu trajeto cotidiano São Paulo-Osasco-São Paulo, fiquei um tempão ouvindo no rádio do carro uma entrevista de um representante dos exportadores brasileiros. Ele vociferava contra a queda do dólar. Mostrava que não era possível um empresário obter redução de custos da ordem de 20% em um período tão curto quanto aquele em que o dólar desvalorizou-se frente ao real nessa ordem de grandeza.
Em resposta à chiadeira dos exportadores, o ministro Palófi saiu-se com uma tautologia: 'Câmbio flutuante é aquele que flutua'.
Já tenho a solução para o problema dos exportadores. Toda vez que o dólar descer a níveis desconfortáveis para nossos humildes exportadores, sugiro que contratem alguma das várias reservas morais da nacionalidade - que as há sempre em disponibilidade, vide Roberto Jefferson - para que revele à nação alguma maracutaia tamanho família. Pronto. O dólar sobe que é uma beleza.
segunda-feira, 6 de junho de 2005
Sou um cara de sorte
Pelo menos em matéria de futebol.
Joguei futebol nas areias da praia de Santos com Gilmar dos Santos Neves, Zito, Ipojucã etc etc.
Ouvi, pelo rádio, a vitória do Brasil sobre a Suécia (5 a 2) em 1.958.
Vi os 'teipes' das vitórias do Brasil no Chile, 1.962.
Assisti pela TV, certo que em preto e branco, mas ao vivo, às notáveis vitórias do Brasil em 1.970. no México.
Vi, ao vivo e em cores, o Brasil perder dando show em 1.982.
E ontem, sábado, vi Portugal jogar vinte ou vinte e cinco minutos impecáveis no segundo tempo do jogo contra a Eslováquia.
Hoje, a seleção brasileira está a mostrar, em Porto Alegre (estamos no intervalo), que ainda não é, mas virá a ser, uma bela mistura de seleções: a de 70 com a de 82.
E ainda vou assistir a uma final da Copa de 2.006, na Alemanha, entre Portugal e Brasil.
domingo, 5 de junho de 2005
Briga de vizinhos
Neste momento, estão a jogar a final de Roland Garros o espanhol Nadal e o argentino Puerta.
Os argentinos são os vizinhos que os brasileiros mais adoram odiar. Os espanhóis, bem, os espanhóis não deixam escolha aos portugueses: são os únicos vizinhos.
Para acompanhar a índole de meus dois povos, talvez deva torcer para que ambos percam.
Atualização: todos ganharam. Principalmente quem assistiu a esse jogo memorável.
Nadal ficou com o título.
sábado, 4 de junho de 2005
Ideias em liquidação
Não há medo da morte.
Há medo de viver.
(e as religiões deitam e rolam em cima disso)
sexta-feira, 3 de junho de 2005
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