segunda-feira, 13 de junho de 2005

Engenheiro tem de ser engenhoso


Hoje há profissões aos montes. Mais que gente. Já cansei de ver, por exemplo, cientistas políticos aparecerem na TV para discutir os mais variados assuntos. E quem disse que política é ciência. Provavelmente, algum cientista político.
Quando eu tinha aquela idade em que a gente tem de escolher uma profissão, ou seja, aqueles 15 ou 16 anos em que a enorme experiência acumulada facilita bem as decisões, havia mais parcimônia nesse negócio de carreiras. Um fulaninho de classe média, no Brasil, tinha de ser médico, caso detestasse matemática, engenheiro, caso gostasse de matemática, advogado, caso detestasse todas as matérias.
Eu, de minha parte, via mais glamour na medicina. Minha irmã cortou meu barato:
- Como, medicina?!? Você tem medo de lagartixa!!
Bingo. Virei engenheiro. Quer dizer, sim e não. Sim, porque tenho um diploma da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, escola da qual tanto se orgulha o Paulo Maluf, por exemplo. Não, porque quando cheguei ao terceiro ano do curso de engenharia eletrônica descobri que aquilo não tinha absolutamente nada a ver comigo. Seria melhor dizer, eu nada tinha a ver com aquilo. Sei lá.
Fui levando ( ou tomando, também fico em dúvida) até o fim. Mas já com a decisão de cursar filosofia. No quinto e último ano, pra aliviar um pouco as tensões, resolvi retomar aulas de piano. Tinha estudado piano quando garoto. Mas aquele estudo quadradão, classicão. E eu, por gostar de jazz, fui parar no estabelecimento de ensino de piano do Johnny Alf. Não tive aulas com ele. Meu professor era o Nilton. Cheguei meio acanhado. Nilton perguntou qual era meu background no piano, sentamos e ele começou a me ensinar Misty. Em meio a essa primeira aula, vira-se o Nilton pra mim e sapeca a pergunta-afirmação:
- Você é engenheiro, né?
Se ele xingasse minha mãe não seria tão devastador. Apesar de tudo, tivemos uma relação amistosa, embora curta.
(um dia, Nilton me falou que Johnny Alf tinha composto uma música incrível pro festival que iria rolar dentro de uns meses na TV. Me levou até o quarto do Johnny. Ficava no fundo do casarão em que funcionava o curso. Acordou o dito cujo, conversamos um pouco e ele me mostrou Eu e a Brisa. Não me lembro se já tinha letra. Se já existia, ele não tinha decorado ainda).
Hoje, em comentário no post abaixo deste, a Laura me falou na Revista Engrenagem como revista de engenheiros.
Não, Laurinha. Não é de engenheiros. Engenheiro, só eu. Ou não.

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